Crise climática atinge o chocolate: o que isso muda para o consumidor

O chocolate está com os dias contados? Entenda como a crise climática afeta o cultivo do cacau, matéria-prima do chocolate, e consequentemente, afetando a produção do doce no mundo.

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A tendência mostra que versões clássicas de chocolates podem se tornar mais caras e raras, enquanto produtos híbridos entre chocolate e outras bases alimentares ganham espaço, em alternativa à menor oferta de cacau. (Imagem gerada por IA)

Com um mundo em aquecimento, e as mudanças climáticas afetando diversos setores da sociedade atualmente, sobrou até para a produção de cacau, a matéria-prima do nosso delicioso chocolate.

O alerta foi dado. Secas prolongadas e o aumento das temperaturas estão diminuindo a produção de cacau no mundo e podem tornar o chocolate cada vez mais raro e caro.

No ano passado, o preço da tonelada de cacau alcançou patamares elevadíssimos, e a tendência é de que isso continue. Assim, a indústria do chocolate precisa reformular receitas e reduzir tamanhos para enfrentar a crise global.

O que está acontecendo com a produção de cacau no mundo?

Acontece que a produção do cacau depende de temperaturas estáveis e de umidade constante. A árvore do cacaueiro cresce apenas em regiões tropicais, próximas à linha do Equador.

Mais de 60% de todo o cacau do mundo vem de quatro países da África Ocidental: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões.

Eventos de seca e o aumento das temperaturas podem tornar o chocolate um produto caro e raro no mercado.

E nos últimos anos, esses principais países produtores (mas não só eles) de cacau têm passado por um aumento das temperaturas médias e uma redução das chuvas, afetando então o cultivo do fruto do cacaueiro (sim, o cacau é uma fruta; o chocolate é feito a partir das sementes de dentro dele).

Esses países vêm sofrendo com longos eventos de secas e calor mais intenso, o que tem diminuído as safras de cacau.

cacau
O cacau, fruto do cacaueiro, com suas sementes dentro.

Em 2024, por exemplo, um dos anos mais quentes que a Terra já enfrentou, a safra de cacau caiu e fez o seu preço disparar. O valor da tonelada ultrapassou os US$ 11 mil (e chegou a passar os US$ 12.500 em alguns momentos) na Bolsa de Nova York — mais que o dobro do valor registrado no ano anterior (em 2023, o valor da tonelada do cacau não ultrapassava os US$ 4 mil).

No Brasil, o cenário também preocupa, já que o país também produz uma boa quantidade de cacau. Isso porque a maior parte das plantações fica no Nordeste, uma região cada vez mais quente e seca, condições que colocam em risco a produtividade do fruto.

O impacto da redução da safra global de cacau no mercado

Isso impacta diretamente e imediatamente o mercado global, e o efeito chega ao bolso do consumidor, é claro. Os fabricantes que antes tinham uma segurança de oferta e estabilidade de custo passaram a enfrentar repasses inevitáveis, contratos mais caros e rupturas no planejamento.

Diante disso, a indústria precisou reagir e se reinventar, mesmo que negativamente em alguns aspectos. Marcas tradicionais começaram a reduzir o tamanho dos produtos: barras menores, caixas com menos unidades e embalagens mantidas no mesmo formato, mas com conteúdo reduzido, foram estratégias adotadas.

Além disso, as empresas estão reformulando os produtos, o que não tem agradado os consumidores. Misturas com maior proporção de leite, açúcar e gorduras vegetais; uso maior de cacau processado; e até pesquisas com substitutos provenientes de outras fontes naturais estão em andamento.

No final das contas, além das mudanças que já vêm sendo observadas nas prateleiras, o chocolate pode se tornar mais caro e raro.

Referências da notícia

Como a crise do clima pode afetar o seu chocolate do dia a dia?. 04 de novembro, 2025. Poliana Casemiro.

O chocolate está com os dias contados? Com o cacau acima de US$ 10 mil por tonelada, a indústria muda fórmulas, reduz tamanhos e corre para evitar uma crise global sem precedentes. 05 de novembro, 2025. Valdemar Medeiros.