Como em Jurassic Park: cientistas conseguem "reviver" o lobo gigante que foi extinto há 10.000 anos

A Colossal Biosciences surpreendeu o mundo ao anunciar o nascimento de três filhotes de lobo gigante, espécie extinta há 10 mil anos, usando técnicas de edição genética e DNA antigo. Um marco na ciência e na conservação.

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Remus aos 5 meses de idade, com 36 kg atualmente e peso estimado de até 68 kg na fase adulta. Foto: Andrew Zuckerman, Cortesia de Colossal Biosciences.

Imagine caminhar por uma floresta e ouvir o uivo de um animal extinto há milhares de anos. Parece coisa de filme, mas a ciência acaba de transformar essa ideia em realidade. Em abril de 2025, a empresa Colossal Biosciences, dos Estados Unidos, anunciou o nascimento de três filhotes de lobo gigante, uma espécie extinta desde a última Era do Gelo.

A notícia, divulgada pela revista TIME e outros grandes veículos internacionais, causou espanto, curiosidade e debate em toda a comunidade científica e no público em geral.

A Colossal já ganhou fama por projetos ambiciosos, como o retorno do mamute e do tigre-da-Tasmânia. Agora, trouxe à vida dois machos, Rômulo e Remo, e uma fêmea chamada Khaleesi. Os três vivem sob cuidados especiais e exibem traços muito semelhantes aos dos antigos lobos gigantes. A pergunta que fica é: como isso foi possível?

O DNA do passado como chave do futuro

O primeiro passo para ressuscitar uma espécie extinta é entender seu material genético. Para isso, os cientistas da Colossal, em parceria com universidades e centros de pesquisa, extraíram fragmentos de DNA preservado em ossos fósseis de lobos gigantes encontrados na América do Norte. Como o DNA estava incompleto, os pesquisadores compararam as sequências com as de seu parente mais próximo ainda vivo: o lobo cinzento.

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O lobo gigante (dire wolf) foi extinto há cerca de 10 mil anos no final da Era do Gelo; agora, graças à engenharia genética, ele volta a caminhar entre nós.

Com base nessa comparação, os cientistas identificaram os genes que definiam o lobo gigante, como o tamanho avantajado, a estrutura óssea robusta e até a coloração da pelagem. A partir disso, utilizaram a técnica de edição genética CRISPR para inserir esses genes no genoma de lobos modernos. Os embriões modificados foram implantados em cadelas domesticadas, que atuaram como mães de aluguel para os novos (e antigos) filhotes.

Por que trazer de volta uma espécie extinta?

O projeto de desextinção levanta uma pergunta fundamental: por que investir tanto esforço para trazer de volta animais que desapareceram há milênios? Para a Colossal Biosciences, a resposta vai além da curiosidade científica. A empresa afirma que projetos como esse podem:

  • Restaurar ecossistemas antigos, reintroduzindo espécies que exerciam papel fundamental no equilíbrio natural.
  • Ajudar na conservação de espécies ameaçadas, já que os avanços genéticos podem ser aplicados em animais vivos.
  • Desenvolver novas tecnologias genéticas, com aplicações em medicina, agricultura e biologia sintética.
  • Educar e engajar o público, promovendo debates sobre biodiversidade e responsabilidade ambiental.

Ainda assim, a desextinção é vista com cautela por muitos cientistas, que alertam sobre os riscos de desequilíbrios ecológicos e sobre os limites éticos dessa prática.

Entre a ciência e a ficção: os desafios do amanhã

Apesar do entusiasmo, nem tudo são flores no mundo da biotecnologia de ponta. Os próprios cientistas da Colossal reconhecem que os novos "lobos gigantes" não são clones perfeitos dos originais. Eles carregam traços genéticos semelhantes, mas são resultado de uma combinação de DNA antigo com o de lobos modernos. Por isso, há quem prefira chamá-los de "neo-lobos" ou "lobos híbridos".

Além disso, resta a grande questão: onde e como esses animais viverão? Liberá-los na natureza sem planejamento pode causar impactos imprevisíveis. Por isso, os filhotes estão sendo criados em áreas controladas, onde especialistas avaliam seu comportamento, interações e impacto no ambiente

O retorno do lobo gigante é, sem dúvida, um marco. Ele nos leva a refletir sobre os limites da ciência, o poder da tecnologia e o papel que desejamos assumir no planeta: seremos meros observadores ou protagonistas da vida que vem, até mesmo da que já se foi?

Referência da notícia

Dire wolves to howl again in America thanks to ancient DNA. 7 de abril, 2025. The Times.