Chuvas torrenciais e estragos na Nova Zelândia

Chuvas intensas atingiram o país nos últimos dias, além da destruição gerada por inundações, fala-se em uma morte em decorrência do mau tempo. Na ilha do sul, registrou-se 1086 mm de precipitação em apenas 48 horas.

Cheia de rios após chuvas torrenciais na Nova Zelândia. Fonte: Flood List

Precipitações torrenciais afetaram a rotina dos neozelandeses entre o início e meio da semana passada. As chuvas pesadas causaram a cheia de rios na costa oeste, forçando um estado de emergência em parte do país, como no Distrito de Westland. Em Roaring Billy, o rio Haast quase bateu recorde ao atingir o nível de 7.423 metros acima do normal, esse é o segundo maior valor registrado desde 1968.

Na terça-feira (26), uma ponte sobre o rio Waiho sofreu colapso e foi arrastada pela força da água próximo a Franz Josep, conforme o vídeo publicado pelo jornal britânico The Guardian. Um recorde de chuva acumulada em 48 horas foi estabelecido na Nova Zelândia entre os dias 26 e 27, após incríveis 1086 mm serem observados na região da cachoeira Cropp. Para se ter ideia, esse valor equivale à média anual de precipitação em várias regiões do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

Entre o domingo (24) e a quarta-feira (27), os acumulados de precipitação superaram os 400 mm em vários pontos das regiões montanhosas da ilha do sul, a exemplo: Mueller Hut (683.6 mm), Ivory Glacier (636 mm) e rio Haast (578.5 mm). De acordo com a mídia local, as autoridades chamaram de “um evento de 100 anos” as chuvas excessivas. Não houve detalhamento sobre quais circunstância se deu a morte de uma mulher em função das condições meteorológicas.

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A cheia do rio Waiho destruindo uma ponte nas proximidades de Franz Josep.

Chuvas torrenciais em áreas montanhosas são extremamente perigosas, uma vez que favorecem cheias e inundações repentinas a jusante. Dependendo a taxa de precipitação e as características da bacia hidrográfica, estradas, pontes e vilarejos podem ser varridos.

Por que tanta chuva?

Nesse caso, o extremo chuvoso ocorrido na Nova Zelândia tem mais de uma explicação. Em meados do dia 22 de março, a corrente de jato ao sul da Austrália iniciou uma marcha para o norte. No dia 25, a máxima amplificação se deu sobre o mar de Tasman. Com essa configuração de nível superior em andamento, o setor quente do sistema de tempestade em superfície conduziu o calor e a umidade do mar de Tasman ao encontro das regiões montanhosas do país. Além disso, a temperatura do mar de Tasman está acima da média climatológica, fator que certamente contribuiu na adição de vapor d'água na massa de ar que se deslocou para a ilha.

Deste modo, os fortes fluxos úmidos de noroeste sofreram ascensão nas montanhas, despejando toda a umidade em forma de chuva ao longo da costa oeste. Trata-se de um evento clássico de rio atmosférico, fenômeno meteorológico bastante comum na costa oeste dos Estados Unidos, Chile, Reino Unido e Nova Zelândia.

Diferente das chuvas convectivas que ocorrem num curto espaço de tempo (típicas em dias quentes e úmidos), as chuvas orográficas persistem em episódios de rios atmosféricos, durando horas ou até dias consecutivos. Já à intensidade é variável, podendo ser fraca ou até torrencial, dependendo da força do sistema que a mantem.