Chuvas irregulares e suas consequências para o agronegócio brasileiro

Condições climáticas diferentes provocam cenários distintos na safra 2020/21 de soja, comparação foi feita em quatro estados entre as regiões Sul e Centro-Oeste, maiores produtores da oleaginosa no país.

tempo seco; bloqueio atmosférico
Falta de chuva diminui umidade do solo em áreas produtoras de soja entre Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul

Frente fria que passou pela região Sul neste último final de semana se afasta em direção ao Atlântico, mas ainda provoca chuva em áreas costeiras.

Alerta para chuva volumosa na faixa leste do Paraná na noite de hoje! Não se descarta o risco para alagamentos e deslizamentos de terra.

Enquanto isso, áreas produtoras no interior do país começam a semana com chuva mal distribuída sob efeito de um bloqueio atmosférico, cenário que já se repete desde os últimos dias.

A expectativa é de mais uma frente fria para fechar o mês de março. O sistema frontal será alimentado por três áreas de baixa pressão atmosférica, no entanto, por conta da condição de bloqueio, os ramos da frente fria devem avançar de forma muito lenta pelo Rio Grande do Sul entre a noite de quinta-feira (25) e o domingo (28).

Falta de chuva e suas consequências para o agronegócio

Para a soja no Rio Grande do Sul, algumas áreas já sentem o déficit hídrico, uma vez que ainda restam cerca de 40% da safra para completar a fase de enchimento de grãos e mais de 70% para concluir a maturação. Segundo o Informativo Conjuntural da EMATER-RS, apenas 5% da soja 2020/21 já foi colhido.

Umidade do solo
Enquanto a chuva foi irregular entre Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, Mato Grosso enfrenta solo encharcado com chuva persistente. Fonte: George Mason University

No Paraná, a colheita da soja registrou avanço nos últimos dias devido ao tempo mais seco, mas apesar da intensificação das atividades de campo, a colheita da safra 2020/21 está atrasada em relação às últimas safras do grão, segundo informações do Departamento de Economia Rural do estado.

O Centro-Oeste vive cenários distintos com relação à safra de soja devido às condições climáticas. Em Mato Grosso do Sul, o tempo mais seco dos últimos dias favoreceu a colheita, onde mais de 60% da área cultivada já foi colhida. Porém, vale ressaltar que a evolução da safra atual é menor que o percentual atingido no mesmo período do ano passado.

Situação se agrava em Mato Grosso: com solo encharcado e cenário de atoleiros, a soja que já foi afetada pelo excesso de chuva durante o período de desenvolvimento, enfrenta dificuldades para ser transportada depois de colhida.

Em Mato Grosso, maior estado produtor da oleaginosa, a colheita da soja está praticamente finalizada, com mais de 90% da safra já foi colhida. Apesar do avanço no percentual, o que preocupa é a qualidade do grão devido ao excesso de chuva. Aliás, a Aprosoja-MT já busca meios para ajudar os produtores rurais, onde muitos foram atingidos de forma severa e registraram perda total da soja, optando assim por abandonar a mesma e plantar milho em cima.

Tempo nos próximos dias

Para a reta final do mês de março, a expectativa é de chuva em áreas do Centro-Sul do Brasil, porém, pancadas irregulares, mal distribuídas e com intensidades diferentes. Uma frente fria deve provocar chuva significativa em pontos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná até o final da semana. A chuva que ocorrerá de forma lenta, pode atrapalhar as atividades de colheita da soja, mas em contrapartida, faz a manutenção da água disponível no solo em áreas que ainda estão em fase de maturação.

Frente fria no RS
Frente Fria no RS: Uma área ou outra poderá ser atingida por muita chuva, mas a maioria das áreas produtoras no estado não.

Áreas de Mato Grosso também devem registrar pancadas de chuva no decorrer dos últimos dias de março sob efeito da Alta da Bolívia, área de instabilidade em níveis mais altos da atmosfera, mas de modo geral, os volumes esperados são baixos, e a chuva deve ocorrer de forma rápida, intercalada com períodos de sol e elevação da temperatura, o que ajuda na diminuição de umidade no solo.

Enquanto isso, o Mato Grosso do Sul deve enfrentar um tempo mais seco, junto com áreas de Goiás, Sudeste e boa parte do Nordeste, devido à influência de um Vórtice Ciclônico em Altos Níveis (VCAN), sistema responsável por inibir a formação de nuvens carregadas em seu centro e manter as instabilidades apenas em sua periferia. Com o tempo mais seco, a tendência é de diminuição do índice de água disponível no solo.