Brasil vive contraste hídrico: chuvas no Nordeste e secas no Sul

A formação da primeira Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) do período chuvoso deixou em evidência um grande contraste vivido no Brasil atualmente: um Nordeste úmido e com chuvas abundantes enquanto o Sul e Sudeste vivem uma estiagem preocupante.

Chuvas Brasil
No momento observamos um padrão oposto de chuvas entre o Norte/Nordeste e Sul/Sudeste do Brasil.

Nessa semana a formação da primeira Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) do atual período chuvoso, iniciado entre o final de outubro e começo de novembro, contribuiu para a ocorrência de acumulados expressivos de chuva no Nordeste, enquanto que as regiões Sul e Sudeste, que já estavam numa situação hídrica delicada, não receberam tanta chuva. Será esse um sinal da La Niña?

O sistema frontal responsável pela formação da ZCAS dessa semana acabou passando de forma muito rápida pelas regiões Sul e Sudeste e se “estacionou” mais a norte, na altura da costa da região Nordeste. Esse sistema organizou a umidade e convecção, formando um grande corredor de chuvas entre as regiões Norte e Nordeste.

Os estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Maranhão e Ceará receberam acumulados da ordem de 50 mm ou mais nos últimos 5 dias. Diversas cidades registraram mais de 100 mm em apenas 24h, como o caso de Cratéus (interior do Ceará) com 119.4 mm, Nova Olinda (no Sertão Paraibano) com 130 mm, Irecê (Bahia) com 135.6 mm e Parnaíba (Piauí) com 185 mm, volumes que já superaram o acumulado esperado para todo o mês de novembro! A cidade de Sanharó, agreste de Pernambuco, registrou o impressionante acumulado de 288 mm em 24 h, entre segunda e terça-feira (03), quase metade do esperado para um ano!

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Enquanto isso, parte da região Sudeste entra em alerta hídrico. De acordo com o Consórcio PCJ (Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), o volume de chuvas ficou 25% abaixo da média em outubro, o maior percentual dos últimos três anos, aumentando o risco de desabastecimento do interior de São Paulo. A entidade chegou a comparar o atual cenário de estiagem com o de 2014, quando houve a pior crise hídrica da região. Cidades como Artur Nogueira, São Pedro, Limeira e Cordeirópolis já declaram estado de emergência e estabeleceram racionamento de água.

Na região Sul, a situação também é preocupante. Em Santa Catarina, 101 municípios estão em situação de emergência, pois o volume de chuvas que tem ocorrido não é o suficiente para repor seus mananciais. Algumas cidades já estabeleceram um rodízio de água, como Chapecó.

No Paraná, Curitiba teve seu rodízio de água intensificado devido a baixa nos níveis dos reservatórios que abastecem a região. O último monitor de secas elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), indica que quase todo o estado está numa situação de seca grave, com uma pequena porção a leste em situação de seca extrema.

O atual padrão de “dipolo” de chuvas pode estar associado a La Niña, que normalmente gera um déficit de chuvas no Sul e aumento de chuvas no Norte e Nordeste. Com a La Niña em andamento, um padrão de ondas atmosféricas acaba alterando o posicionamento do cavado de médios níveis da atmosfera, que está associado ao posicionamento dos sistemas frontais que dão origem as ZCAS. Esse cavado deslocado acaba propiciando o estabelecimento da ZCAS numa posição mais a norte do normal, como o ocorrido nessa última semana.

Dessa forma, com a La Niña os sistemas frontais tendem a passar de forma mais rápida pelo Sul e Sudeste, se deslocando rapidamente para o oceano e ancorando em latitudes mais a norte, propiciando as chuvas no Nordeste. Porém, a La Niña não é a única responsável pela situação do Sul e Sudeste, já que essa situação de estiagem vem de muitos meses atrás de chuvas abaixo da média. Dessa forma, a La Niña acaba piorando uma situação que já estava estabelecida.