Após a maior seca em um século, Rio Negro desafia previsões e segue com nível elevado em plena estação seca

Mesmo durante a estiagem de 2025, o Rio Negro mantém nível elevado em Manaus, surpreendendo especialistas e indicando efeitos duradouros da cheia severa registrada neste ano.

Rio Negro atinge 26,58 metros em setembro e continua acima da média, mesmo após cheia e estiagem histórica.
Rio Negro atinge 26,58 metros em setembro e continua acima da média, mesmo após cheia e estiagem histórica. Foto: Adobe Stock

Em pleno período de estiagem, o comportamento do Rio Negro chama a atenção de especialistas e da população de Manaus. Ao contrário do que normalmente se espera nesta época do ano — quando o nível das águas começa a recuar —, o rio ainda apresenta volumes significativamente altos. O dado mais recente, de 2 de setembro, mostra que ele atingiu 26,58 metros, bem acima da média para este período.

Essa elevação, segundo o monitoramento feito pelo Porto de Manaus, representa uma diferença de 7,05 metros em comparação ao mesmo dia de 2024. Naquele ano, o nível estava em apenas 19,53 metros, após uma das maiores secas já registradas na história do Amazonas. Agora, o cenário é inverso e revela que os efeitos da cheia intensa de 2025 ainda se fazem presentes, mesmo com a ausência de chuvas significativas.

Após a cheia severa, o recuo do rio avança em ritmo lento

A cheia que marcou o primeiro semestre de 2025 foi considerada uma das mais intensas da última década. O Rio Negro chegou a 29,05 metros, ultrapassando a cota de inundação — fixada em 29 metros — em cinco centímetros. Esse pico foi registrado em 8 de junho, após um período de recuperação iniciado em novembro do ano anterior, logo depois da seca extrema de outubro de 2024.

Em julho, começou o processo de vazante, porém o ritmo de descida tem sido mais lento do que o habitual. Em agosto, o recuo foi de apenas 1,72 metro, com média diária de 5,5 centímetros. Para se ter uma ideia da diferença, em setembro de 2024 o mesmo rio chegou a baixar até 21 centímetros em um único dia.

Outro ponto que vem chamando a atenção é a estagnação no nível do rio, observada a partir de 8 de julho. Mesmo sem chuvas intensas, o volume de água se manteve estável por dias, o que é considerado incomum. Especialistas acreditam que o fenômeno esteja relacionado a alteração nos padrões climáticos da Amazônia, como o aquecimento anômalo das águas do Pacífico, típico de eventos como o El Niño.

Desde agosto, a diferença entre os níveis atuais e os registrados em 2024 tem aumentado. Naquele mês, o desnível era de cerca de quatro metros; agora, ultrapassa os sete. O quadro reforça a necessidade de atenção às mudanças nos ciclos naturais da região e aponta para um cenário mais instável nos próximos anos.

Projeções para os próximos meses seguem incertas

Com a vazante mais lenta do que o esperado, as projeções futuras permanecem indefinidas. Embora o processo de descida continue, não há garantias de que ele ganhará ritmo nas próximas semanas. O acompanhamento diário feito pelas autoridades locais busca entender melhor os fatores que influenciam esse padrão.

Diante de fenômenos extremos cada vez mais frequentes, a permanência de níveis elevados no Rio Negro serve de alerta. É preciso investir em monitoramento hidrológico, planejamento urbano e políticas públicas voltadas à prevenção de desastres. O comportamento das águas do rio mais importante da capital amazonense evidencia um contexto de mudanças ambientais que não pode mais ser ignorado.

Referências da notícia

Portal do Holanda. Rio Negro mantém nível elevado em meio à seca. 2 de setembro, 2025.