Indígenas do Amazonas pedem que Brasil declare emergência climática devido à seca no estado

A forte estiagem que vem afetando a região Amazônica fez os indígenas pedir ao governo brasileiro para declarar emergência climática, já que os povos estão sem água potável, comida e remédios.

seca no Rio Negro (AM)
Vista aérea de áreas atingidas pela forte seca na região de Catalão (AM) e o Rio Negro com níveis muito baixos. Crédito: Divulgação.

Os povos indígenas da Amazônia estão pedindo ao governo brasileiro que declare uma emergência climática, devido à grave seca que vem afetando a região, acompanhada de altas temperaturas. Essas condições climáticas já mataram grandes quantidades de peixes, deixando a população sem alimento, água e remédios, já que os rios estão secos e intransitáveis.

A situação dos indígenas

As aldeias não têm água potável, alimentos e remédios… falta tudo! Isso fez com que a organização Apiam (Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas), que representa 63 tribos da Amazônia, pedisse ao governo do país que declare emergência climática. “Pedimos ao governo que declare uma emergência climática para resolver urgentemente a vulnerabilidade a que os povos indígenas estão expostos”, expressou a Apiam em um comunicado.

Conforme Mariazinha Bare, coordenadora do Apiam, o problema mais grave das comunidades indígenas que não têm água encanada é o saneamento, já que a água do rio não pode ser bebida. “Os rios menores secaram e viraram lama. Os povos indígenas têm de caminhar longas distâncias para encontrar água potável e a má qualidade da água está deixando as pessoas doentes”, disse ela no comunicado.

doação de alimentos para indígenas no Amazonas
Comunidades ribeirinhas do Amazonas recebendo doações de cestas básicas da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Crédito: FAS.

Os baixos níveis dos rios dificultam o acesso à assistência médica. O rio Madeira não está navegável em seu curso superior, isolando as aldeias indígenas e demais comunidades que dependem da coleta de frutas na floresta, mas não podem escoar seus produtos.

Apesar dos desafios de logística para se chegar até as comunidades do Amazonas, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) já doou, no início de outubro, cestas básicas, água potável, medicamentos, filtros de água, combustível, além de materiais para construção de sistemas de captação e tratamento de água da chuva, que vão beneficiar comunidades dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Lago do Piranha, no município de Manacapuru (AM). No mês passado, o governo também enviou milhares de cestas básicas para aldeias indígenas isoladas no Amazonas.

Qual a causa da seca?

A seca devastadora que está afetando a região Norte do país, principalmente a Amazônia, pode bater recordes e até superar a estiagem mais intensa já registrada na região Amazônica em 2005. Na época, o Estado do Amazonas entrou em calamidade pública devido ao baixo nível dos rios, e houve falta de alimentos, combustíveis, energia e água.

Lago Tefé (AM) praticamente seco.
Seca no lago Tefé, no Amazonas, no final de setembro. Crédito:João Paulo Borges Pedro/Instituto Mamirauá.

Esta seca está ocorrendo por causa do aquecimento elevado das águas do oceano Atlântico Tropical Norte. Segundo Gilvan Sampaio, coordenador-geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), “isso inibe a formação de nuvens. Por isso a situação de chuvas muito abaixo da média e os rios no seu nível mínimo ou abaixo do mínimo”. Ele ainda afirma que "viraremos o ano e o primeiro semestre de 2024 com impacto mais no leste e norte da Amazônia, pegando desde Manaus, Pará, e inclusive o Maranhão".

Outros problemas trazidos pela seca

Além de tudo, o ano letivo de escolas ribeirinhas em Manaus foi encerrado mais cedo, pela falta de navegabilidade dos rios; já que com os rios praticamente secos, professores e alunos têm dificuldade em chegar até as escolas.

Usina hidrelétrica de Santo Antônio (RO)
Usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho (RO), que foi paralisada no início de agosto. Crédito: Edilson Dantas/Agência O Globo.

O setor elétrico também está em atenção. A maioria das hidrelétricas da região Norte não tem reservatório e as vazões estão bem abaixo da média histórica. A Usina de Santo Antônio, por exemplo, localizada no rio Madeira, em Rondônia, teve as operações suspensas no início de outubro. Para garantir o abastecimento, o governo recorreu a usinas termelétricas: duas já foram acionadas neste Estado.

E como já noticiamos aqui, mais de 100 botos, um animal marinho emblemático da região Amazônica, foram encontrados mortos em um lago. Isso possivelmente devido à diminuição do nível dos rios e ao superaquecimento das águas.