Seca na Amazônia: ANA declara situação crítica nos rios e alerta para impactos em abastecimento, saneamento e economia
Agência Nacional reconhece escassez hídrica nos rios Juruá, Purus, Acre e Iaco até 31 de outubro e propõe ações para mitigar efeitos em comunidades, transporte, saneamento e ecossistemas amazônicos

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação crítica de escassez quantitativa de água nas bacias dos rios Juruá, Purus, Acre e Iaco, na Amazônia. A resolução foi aprovada em 21 de agosto de 2025 pela diretoria da ANA e publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte. O reconhecimento é válido até 31 de outubro, podendo ser prorrogado ou suspenso, conforme as condições hidrológicas.
Esses rios nascem no Peru e cortam os estados do Acre e do Amazonas. Desde 2023, a região tem enfrentado chuvas abaixo da média histórica, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A previsão do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) também indica precipitações insuficientes até o fim de outubro, agravando a situação.
Apesar de estarmos no período de vazante — que ocorre entre junho e novembro, quando os rios naturalmente descem após a cheia — os níveis estão muito abaixo do esperado. A situação é crítica em diversas localidades, e o monitoramento mostra classificações que variam entre escassez leve e extrema, com predominância de níveis severos nas estações de medição.
Consequências e ações emergenciais
Com a medida, a ANA visa identificar os impactos da baixa disponibilidade de água e propor medidas de mitigação. A resolução autoriza, por exemplo, que prestadores de serviços de saneamento e entidades reguladoras adotem tarifas contingenciais, conforme previsto na Lei nº 11.445/2007. Essas tarifas podem compensar custos operacionais adicionais causados pela escassez, como captação em locais mais distantes ou uso de sistemas alternativos.

Outra consequência da declaração é facilitar o reconhecimento, por parte da Defesa Civil Nacional, de situação de emergência ou calamidade pública em municípios afetados, acelerando o repasse de recursos federais. A medida também serve como sinal de alerta para que os usuários dos recursos hídricos da região adotem estratégias de uso mais eficiente da água, evitando agravamento da crise.
A ANA também reforçou que continuará promovendo reuniões técnicas com representantes dos governos do Acre e do Amazonas, além de órgãos como o Inpe e o Censipam, para monitorar a evolução do quadro e ajustar as ações conforme necessário. O objetivo é oferecer suporte contínuo à gestão local da água durante o período de escassez.
Impactos regionais e agravamento da crise
A crise atual é a continuidade de um cenário iniciado em 2023, quando o Norte do Brasil enfrentou uma das secas mais severas de sua história. Em 2024, a ANA já havia emitido declarações semelhantes para as mesmas bacias e para o rio Madeira. No auge da seca passada, mais de 60 municípios do Amazonas decretaram emergência, e comunidades ribeirinhas enfrentaram colapso no abastecimento.
Ecossistemas inteiros foram colocados em risco. No Médio Juruá, a seca comprometeu o manejo sustentável do pirarucu e a subsistência de centenas de famílias ribeirinhas. Pesquisadores do Instituto Juruá alertaram que a seca acelera o desequilíbrio ecológico e compromete décadas de esforços de conservação.
Projeções e necessidade de políticas duradouras
A ANA ressaltou que a situação poderá se agravar ainda mais caso as previsões de precipitação abaixo da média se confirmem. Se os níveis dos rios não subirem, a declaração será prorrogada. Caso contrário, poderá ser suspensa antecipadamente.
A crise hídrica na Amazônia é agravada por fatores como desmatamento, mudanças no uso do solo e os efeitos prolongados do El Niño, que desloca massas de ar e reduz as chuvas na região Norte. Especialistas apontam que, sem ações estruturais e contínuas, eventos extremos como este tendem a se tornar mais frequentes.
A escassez de água em rios amazônicos não afeta apenas o abastecimento humano, mas também a biodiversidade, o transporte e a economia local. É um alerta claro da necessidade de planejamento de longo prazo, com integração entre os níveis federal, estadual e municipal, além da valorização do conhecimento tradicional das comunidades locais.
Referências da notícia
Agência Brasil. ANA declara situação crítica de rios da Amazônia por escassez d’água. 2025