Além da temperatura, outubro de 2023 bateu recorde global de umidade na atmosfera! O que isso implica para o clima?

Outubro de 2023 não foi só o mês mais quente dos registros como também foi o mais úmido! A concentração média global de água precipitável está apresentando uma tendência de aumento nos últimos anos e registrou um valor recorde em outubro.

Vapor de água na atmosfera
Em outubro de 2023, a atmosfera terrestre registrou valores jamais vistos de água precipitável.

Após a confirmação de que o mês de outubro de 2023 foi o mais quente desde o início do monitoramento do sistema Copernicus, da União Europeia, diversos cientistas climáticos chamaram a atenção em suas redes sociais que esse não foi o único recorde global atingido em outubro.

Além da temperatura, o planeta também registrou valores recordes de água precipitável na atmosfera! Em outubro de 2023 foi registrado o maior valor médio global de água precipitável (acima de 25.5 kg/m²) desde os anos 80 para um mês de outubro, superando o antigo recorde registrado em 2015, um valor bem acima da média esperada.

Água precipitável ou vapor de água precipitável indica a quantidade de vapor de água contido em uma coluna vertical da atmosfera com uma seção de área unitária. Em outras palavras, é a quantidade de água de uma coluna atmosférica se todo o vapor de água disponível nesta coluna fosse precipitada como chuva. Por isso, essa variável é expressa em mm ou kg/m².

Mas atenção, água precipitável é diferente de precipitação! A água precipitável representa a quantidade de precipitação que ocorreria numa coluna de ar (até ao nível do solo) se ela fosse completamente “espremida”, já a precipitação refere-se ao conteúdo real de água que cai na superfície da Terra.

Olhando a série histórica, nota-se que nos últimos anos tem sido registrada uma tendência de aumento da média global de água precipitável, atingindo um pico máximo em outubro de 2023. Um comportamento que acompanha de forma similar a tendência de aumento da temperatura média do planeta. Seria isso uma coincidência? Na verdade, não, e vamos te explicar a seguir.

Uma atmosfera mais quente é uma atmosfera mais úmida

Uma atmosfera mais quente tem uma maior capacidade de reter vapor de água. Cientistas já constataram que há um aumento de cerca de 7% de umidade para cada 1°C de aquecimento do ar. Isso porque em uma parcela de ar mais quente as partículas de vapor de água se movem mais rapidamente, tornando-as menos propensas a se condensar em forma de líquido.

Portanto, existe uma relação direta da tendência de aumento da concentração de vapor de água com o aumento da temperatura média do planeta. E com o avanço do aquecimento global, causado principalmente pela emissão de gases de efeito estufa (CO2, principalmente), a atmosfera do planeta ficará ainda mais úmida nos próximos anos.

Diagrama que ilustra o impacto do aumento da concentração de gás carbônico (CO2) no ciclo de feedback positivo da temperatura e concentração de vapor de água na atmosfera. Imagem: NOAA/NASA.

Como o vapor de água também é um gás de efeito estufa, quanto maior sua concentração na atmosfera, maior será a absorção de calor e maior será o aquecimento, o que favorecerá ainda mais evaporação e maior retenção de vapor de água na atmosfera. E assim segue um ciclo chamado pelos cientistas de “ciclo de feedback positivo".

Mas se o vapor de água na atmosfera atua como um gás de efeito estufa, será que seu aumento na atmosfera não é o verdadeiro responsável pelo aquecimento global? A resposta é não! Cientistas já realizaram vários estudos e inferiram que o que tem provocado o aumento da quantidade de água na atmosfera é o aumento dos gases de efeito estufa de origem antrópica, principalmente o CO2.

O 5° relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que os humanos contribuíram para o aumento observado de umidade atmosférica desde 1960, com a emissão de gases de efeito estufa, como o gás carbônico.

O aumento da concentração desses gases tem causado uma resposta atmosférica de aumento da temperatura, esse aumento da temperatura provoca um aumento da evaporação que acaba implicando em um aumento da concentração de vapor de água na atmosfera.

Mais vapor de água na atmosfera, mais combustível para tempestades!

Como dizem por aí: tudo que sobe, uma hora tem que descer! Por isso, quanto maior a quantidade de vapor de água disponível na atmosfera, maior será o desenvolvimento das nuvens, que passarão a carregar mais água, despejando essa água em forma de chuvas mais intensas e volumosas!

Atenção: quando falamos do aumento da concentração de vapor de água na atmosfera, falamos do valor médio global, mas esse aumento não ocorre de forma uniforme! Portanto, ainda existirão regiões mais secas do que outras.

Mas não é tão simples assim, afinal não vemos todos os lugares do planeta com muita chuva ao mesmo tempo. Pode haver disponibilidade de vapor de água na atmosfera sem a ocorrência de chuva, isso porque a precipitação só ocorrerá se houver condições dinâmicas favoráveis para a formação de nuvens convectivas. Ou seja, precisamos de condições favoráveis de pressão e ventos nos baixos e altos níveis da atmosfera para a precipitação ocorrer de fato.

Outro porém é que a água precipitável não está distribuída de forma uniforme em toda atmosfera, alguns lugares concentram mais e outros menos, o que também está aliado às condições dinâmicas da atmosfera em cada região. Por isso, mesmo com uma atmosfera global mais úmida que o normal, ainda haverá a ocorrência de secas extremas em algumas regiões do planeta, enquanto outras estarão vivenciando episódios de chuva extrema, alimentados por esse excesso de vapor de água