A concentração dos gases do efeito estufa bateu novo recorde

Faltando poucos dias para a COP26, a OMM divulgou um boletim que revela que 2020 foi mais um ano de recorde nas concentrações de gases de efeito estufa, mostrando que estamos cada vez mais longe das metas estabelecidas no Acordo de Paris.

Gases de Efeito Estufa 2020
Mesmo com a pequena desaceleração das emissões devido a pandemia da COVID-19, o ano 2020 registrou um novo recorde de concentração de gases de efeito estufa.

Mesmo com a desaceleração econômica e os lockdowns decretados em diversos países devido a pandemia da COVID-19, 2020 foi mais um ano que bateu recorde na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. De acordo com o Boletim de Gases de Efeito Estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM), embora a pandemia da COVID-19 tenha causado uma redução temporária de novas emissões, não houve nenhum impacto sobre os níveis atmosféricos dos gases de efeito estufa e suas taxas de crescimento

A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO2 foi de 3-5 milhões de anos atrás, quando a temperatura estava 2-3 ° C mais quente e o nível do mar estava 10-20 metros mais alto do que agora. Mas não havia 7,8 bilhões de pessoas naquela época - Prof Petteri Taalas, Secretário-Geral da OMM.

A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o mais importante gás de efeito estufa responsável por 66% do efeito de aquecimento do clima, atingiu o nível de 413,2 partes por milhão (ppm) em 2020, o que representa 149% do nível que era registrado por volta de 1750, quando as atividades humanas começaram a perturbar o equilíbrio natural da Terra. No caso do metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) suas concentrações em 2020 foram equivalentes a 262% e 123% dos níveis pré-industriais.

O aumento do CO2 entre 2019 e 2020 foi um pouco menor que o observado entre 2018 e 2019, devido a pequena queda de 5,6% das emissões em 2020 devido a pandemia da COVID-19. Entretanto, o crescimento registrado no último ano foi superior à taxa média de crescimento anual da última década (2011 a 2020).

O boletim também mostra que entre 1990 e 2020 o forçamento radiativo – o efeito de aquecimento sobre a atmosfera terrestre – pelos gases de efeito estufa de longa duração aumentou 47%, com o CO2 sendo responsável por cerca de 80% desse aumento!

Aproximadamente metade do CO2 emitido pelas atividades humanas permanece na atmosfera hoje, a outra metade é absorvida pelos oceanos e ecossistemas terrestres, que atuam como sumidouros de carbono. Esses sumidouros têm aumentado sua capacidade de absorção de carbono proporcionalmente ao aumento das emissões.

Porém, o boletim ressalta uma grande preocupação: esses sumidouros podem perder sua eficiência no futuro, reduzindo sua capacidade de absorver CO2 e, dessa forma, agir como amortecedores de um aumento maior da temperatura da Terra.

Um exemplo usado no boletim para justificar essa preocupação é o caso da Amazônia, onde parte da floresta já deixou de agir como sumidouro de carbono e, para piorar, passou a ser uma fonte de carbono para a atmosfera. Isso ocorreu devido as constantes queimadas e desmatamento devido ao avanço da agropecuária no Brasil (veja esse artigo para mais informações).

“O Boletim de Gases de Efeito Estufa contém uma mensagem científica dura para os negociadores da mudança climática na COP26. Na atual taxa de aumento nas concentrações de gases de efeito estufa, veremos um aumento de temperatura no final deste século muito além das metas do Acordo de Paris de 1,5 a 2 °C acima dos níveis pré-industriais”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof Petteri Taalas. “Estamos muito fora do caminho.”

Infelizmente a tendência de aumento da concentração desses gases de efeito estufa permanece em 2021. Em julho de 2021, as concentrações de CO2 em Mauna Loa, Havaí, e Cabo Grim, Tasmânia, atingiram valores de 416,96 ppm e 412,1 ppm, respectivamente, em comparação com 414,62 ppm e 410,03 ppm em julho de 2020.