98% das línguas indígenas estão ameaçadas por causa das mudanças climáticas

Como a diversidade linguística está sendo ameaçada pelas mudanças climáticas? Espera-se que 7 mil línguas do mundo sejam perdidas até o final do século.

Mudança climática e a migração forçada
A migração forçada causada pelas mudanças climáticas coloca em risco a diversidade linguística.

Geralmente as conversas sobre mudanças climáticas se concentram em tópicos como aquecimento global, perda de biodiversidade e desastres naturais. Porém, existe outro tópico que merece atenção no discurso sobre mudanças climáticas: a perda da diversidade linguística.

Como a mudança climática afeta a perda de idiomas?

Assim como os especialistas preveem que as mudanças climáticas terão um efeito devastador na biodiversidade do planeta, é provável que a mudança climática também tenha impacto negativo na diversidade linguística. Por exemplo, um estudo de 2020, projetou que as mudanças climáticas podem levar à extinção de um terço das espécies de plantas e animais do mundo no próximo século.

Espera-se que 50 a 90% das 7 mil línguas do mundo sejam perdidas até o final deste século.

À medida que o ambiente se torna cada vez mais hostil para as pessoas que vivem em áreas com grande diversidade linguística, desde o aumento do nível do mar ao longo da costa até secas mais severas em regiões desérticas, a migração induzida pelas mudanças climáticas pode ter sérias consequências para algumas das línguas em maior risco.

O grande número de línguas já ameaçadas, combinado com o grande número de pessoas deslocadas por desastres ambientais, tornam o Sul da Ásia, o Leste Asiático e o Pacífico particularmente vulneráveis à futura perda de idiomas.

A vulnerabilidade das línguas indígenas

As línguas que enfrentam as consequências mais graves são aquelas faladas em regiões altamente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Um exemplo são as línguas minoritárias e indígenas que são faladas apenas em uma ou duas regiões geográficas.

Embora existam muitas outras ameaças à diversidade linguística, as evidências mostram que a mudança climática está acelerando a perda de idiomas.

Conforme o clima muda, é provável que desastres naturais como inundações e furacões se tornem mais frequentes e mais graves, fazendo com que comunidades inteiras sejam deslocadas, levando à perda de suas línguas e culturas.

Essa migração forçada pode ser particularmente prejudicial para as línguas indígenas, que historicamente tem sido vulneráveis às línguas dominantes faladas em sua vizinhança. Quando membros de uma comunidade se mudam para outra região, seus descendentes tendem a adotar a língua mais predominantes em sua nova comunidade.

Na última semana foi comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas (8), e uma temáticas abordas foi justamente a juventude indígena e a importância dos conhecimentos e tradições indígenas, que podem ajudar no desenvolvimento sustentável.

Os especialistas observaram que as comunidade de imigrantes costumam passar seu idioma para a segunda geração, mas é raro que os membros da família de terceira e quarta geração falem o idioma nativamente.

A perda de linguagem de amanhã

Muitas línguas ameaçadas possuem conhecimento vital sobre as plantas locais, incluindo conhecimento único sobre os usos medicinais dessas plantas. Além de possuírem conhecimentos sobre animais e como viver de forma sustentável no ambiente local. Ou seja, não perdemos apenas idiomas, mas também conhecimentos que podem nos ajudar a viver melhor.

A migração desempenha um grande papel nisso, por exemplo, a maioria dos imigrantes de segunda geração nos EUA fala inglês fluentemente, mas não o idioma de seus pais. O inglês é econômico e culturalmente benéfico para eles. Em 2021, 98% das línguas indígenas estavam ameaçadas no EUA e 89% na Austrália.

De acordo com o Global Trends Report 2022, mais de 108 milhões de pessoas foram deslocadas à força em 2022, e cerca de 61 milhões delas foram deslocadas dentro de seus próprios países.

Essas migrações anteriores afetam os idiomas indígenas até hoje - continuamos perdendo idiomas nesses países porque os falantes não os transmitem mais às gerações futuras e mudam para o inglês. Portanto, a migração de hoje provavelmente será a perda de linguagem de amanhã.

Quase todo o deslocamento interno na Europa e na Ásia Central em 2022 foi devido a conflitos e violência. Em contraste, quase todos os deslocamentos internos no sul da Ásia, leste da Ásia e Pacífico foram causados por desastres relacionados ao clima, como inundações e tempestades.

O problema com a migração forçada é que as pessoas perdem sua comunidade. Se os falantes dessas línguas deixarem suas pequenas comunidades e se espalharem, torna-se menos provável que eles passem essas línguas para as gerações futuras.