100 toneladas por dia! Barreira para conter o lixo foi instalada na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro

Diante da grande quantidade de lixo flutuante na Baía de Guanabara, projeto investe em solução de baixo custo para impedir o avanço dos resíduos.

Lixo na Baía de Guanabara
A Baía de Guanabara está morrendo, e para tentar salva-lá, projeto Orla Sem Lixo instalou uma barreira experimental para impedir o avanço do lixo flutuante.

A Baía de Guanabara é um dos mais importantes corpos hídricos do Rio de Janeiro, onde localiza-se a maior parte dos municípios da sua Região Metropolitana, com mais de 10 milhões de habitantes nos 4.800 km² de sua região hidrográfica.

Segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), quase 100 toneladas de lixo são despejadas por dia na Baía de Guanabara. Porém, um projeto de extensão da UFRJ propõe o desenvolvimento de uma alternativa para conter o avanço do lixo flutuante na Baía.

Tentativas em vão de conter o lixo

A maior parte dele é composta por plásticos, em diferentes estágios de degradação. O lixo flutuante traz inúmeros prejuízos socioambientais na atividade pesqueira, representa perigo à navegação e interfere no crescimento dos manguezais, além de afetar a vida marinha e sua diversidade.

O projeto é amparado nos conceitos de soluções baseadas na natureza, economia circular, envolvimento comunitário, geração de emprego e renda, além da transformação do lixo para retorno à cadeia produtiva.

Alguns projetos para interceptação do lixo flutuante têm sido implementados, entretanto, as operações de coletas realizadas nas margens dos corpos hídricos geram uma degradação ambiental, e não há reciclagem do lixo coletado, nem reversão em benefícios para as populações do entorno.

Barreira para conter o lixo
A barreia possui 200 metros de extensão e foi feita com material sustentável, doados por empresa alemã. Foto: Ana Vitória Villar Crestana.

Dessa maneira, o projeto Orla Sem Lixo busca uma solução para a interceptação, coleta, transporte e reciclagem, em um processo que seja facilmente replicável, dialogue e envolva a comunidade local, a fim de evitar áreas de degradação na costa e garantindo a sustentabilidade econômica e ambiental.

Uma solução sustentável

No último mês, uma barreira experimental para a coleta de lixo flutuante na Prainha da Ilha do Fundão, localizada na área costeira da Baía de Guanabara, foi instalada através do projeto Orla Sem Lixo. O principal objetivo é encontrar uma alternativa sustentável, uma uma dinâmica de troca de conhecimento entre a comunidade local pesqueira e pesquisadores.

A despoluição de trechos da orla da Ilha do Fundão permitirá retomar sua utilização para atividades de lazer e acadêmicas.

Após a colocação do bloqueio de 200 metros de extensão, formado por um flutuador, feito com sobras de isopor de pranchas de surf e saia (tela de geotêxtil), voluntários da equipe responsável pelo projeto e seus parceiros realizaram um mutirão de limpeza na área monitorada.

Segundo Susana Vinzon, coordenadora do projeto Orla Sem Lixo e professora da Escola Politécnica da UFRJ, apesar de breve, a limpeza foi um marco simbólico da recuperação desse trecho da praia. O bloqueio foi construído com materiais doados pela empresa Huesker.

O projeto não busca apenas desenvolver uma tecnologia, mas também criar oportunidades para a recuperação dos ambientes e ecossistemas, gerando benefícios para a população, afirmou Susana.

A iniciativa pretende ainda desenvolver e aplicar indicadores objetivos sobre o volume e massa de lixo flutuante coletado e os benefícios alcançados com a sua retirada em termos ambientais, sociais e econômicos.

Destaque em inovação e sustentabilidade

O projeto Orla Sem Lixo foi um dos destaques do Camp Oceano, realizado em 2021, no formato da Teia de soluções, uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário que estimulou a cocriação de projetos voltados para a sustentabilidade do oceano em todo o Brasil. A partir de capacitações, mentorias e suporte técnico, a iniciativa foi escolhida para receber apoio financeiro por apresentar soluções inovadoras para reduzir a poluição e incidentes ambientais no mar.

Com a participação de cerca de 90 pesquisadores, professores e alunos da UFRJ, da Universidade Federal Fluminense (UFF), da UERJ, IFRJ e parcerias com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), e empresas, o projeto prevê ainda a construção de uma base de apoio para os pescadores da Prainha e um Centro de Recebimento, Triagem e Orientação do lixo flutuante para 2026.

Com significativa importância econômica, social, turística e de lazer, a Baía de Guanabara é a segunda maior do Brasil. Sua bacia hidrográfica abrange 17 municípios no estado do Rio de Janeiro e 172 mil hectares de cobertura florestal, além de 154 mil hectares de campos e pastagens, sendo uma importante fonte de serviços socioambientais.