Sequência de frentes frias no centro-sul do Brasil: veja os motivos que deixam uma primeira quinzena de março mais úmida

A primeira quinzena de março tem sido marcada por uma sequência de frentes frias passando pelo centro-sul do país, mas o padrão tende a mudar na segunda metade do mês. Entenda por quê.

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Volume de chuva pode ultrapassar os 220 milímetros no litoral norte de São Paulo nos próximos dias. Alerta máximo para alagamentos e deslizamentos de terra.

Os primeiros dias do mês de março têm sido marcados por chuvas espalhadas pelo centro-sul do país, mesmo que de maneira mal distribuída, onde muitas localidades ainda têm recebido um baixo volume pluviométrico, enquanto que outras têm enfrentado eventos extremos de chuva.

Desde o comecinho do mês, frentes frias têm passado pelo Sul e pelo Sudeste gerando volumes diferentes e rastros de temporais, pois apesar das mudanças no tempo, as altas temperaturas têm persistido gerando maior condição para o desenvolvimento vertical das nuvens geradoras de raios e pedras de gelo.

Volume de chuva chegou aos 200 milímetros no litoral de São Paulo nas últimas horas devido ao avanço de mais uma frente fria segundo dados das estações do CEMADEN. A chuva forte passou pela RMSP e gerou um verdadeiro caos com muitos pontos de alagamento na noite desta terça-feira (05).

Estamos apenas no comecinho do mês e ao menos duas frentes frias já foram capazes de gerar volumes esperados para um mês inteiro em algumas partes do centro-sul, o que mostra que apesar do enfraquecimento do El Niño, eventos extremos ainda estão sendo registrados, e isso tem outros motivos além do fenômeno. É uma combinação de teleconexões que precisa ser levada em consideração, como por exemplo, a Oscilação Antártica (AAO).

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Oscilação Antártica em fase negativa tem contribuído para maior avanço de ciclones e frentes frias. FONTE: NOAA

Além de um fenômeno El Niño ainda atuante, sendo responsável ainda pela umidade chegando com maior frequência no Sul, é importante considerar a fase negativa da AAO no presente momento, a qual faz com que o cinturão de ventos enfraqueça e se desloque para Norte, ou seja, se afasta da Antártica e caminhe rumo à faixa equatorial.

Em outras palavras, isso faz com que os centros de baixa pressão atmosférica e as frente frias cheguem de maneira mais frequente até o Sul do Brasil, e depois avancem para o Sudeste.

Uma primeira quinzena mais úmida no centro-sul

A Oscilação Madden-Julian (MJO) também é grande responsável pela distribuição das chuvas no Brasil e no mundo, já que é uma área de maior instabilidade que circula o planeta movendo-se de oeste para leste a cada 30-60 dias pelos trópicos.

Em sua fase negativa acaba exercendo uma força maior sobre o Nordeste do Brasil, gerando assim maiores condições de chuva, mas na fase positiva, a umidade diminui sobre o Nordeste e as chuvas ocorrem de maneira mais organizada no centro-sul.

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Oscilação Madden-Julian positiva diminui potencial de chuvas sobre o Nordeste brasileiro nos próximos dias. FONTE: NOAA

Durante esta primeira quinzena de março, a MJO se mostra positiva, ou seja, favorecendo mais as chuvas no Sul e Sudeste e não no Nordeste, que só não ficará com tempo completamente seco porque tem sofrido forte influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

Vimos então que as teleconexões estão favoráveis para a chuva no centro-sul do país, ou seja, tem muita água para cair ainda nos próximos dias, o que pode gerar novos transtornos e prejuízos relacionados a alagamentos, enchentes e deslizamentos de terra. A atenção ainda deve permanecer redobrada sobre as áreas mais vulneráveis, especialmente regiões serranas, áreas de encosta.

Nos próximos dias são esperados mais de 200 milímetros no litoral norte de São Paulo, assim como em pontos do Vale do Paraíba, do Rio de Janeiro e da zona da mata mineira, locais com maior risco para transtornos e prejuízos. Mas também há previsão de chuvas espalhadas por boa parte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, interior de São Paulo, sul de Minas Gerais e Triângulo Mineiro.

Tudo isso vai acontecer por conta da frente fria ainda gerando umidade neste momento e a formação de outro sistema frontal a partir da sexta-feira (08), o qual tende a gerar volumes elevados especialmente no próximo final de semana no Sul e depois no Sudeste conforme for avançando. Além dos altos acumulados previstos, é importante ressaltar o risco para tempestades com vendaval, raios e queda de granizo.

Quando o padrão de chuvas vai mudar

Devido à sequência de frentes frias que persistem sobre o centro-sul do país, os próximos dias e até semanas podem ser marcados por uma maior presença de umidade e chuvas entre o Sul e o Sudeste, algo que as simulações mais recentes apostam que fique ao menos até o dia 18 de março, ou seja, até extrapola um pouquinho os limites da primeira quinzena de março.

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Umidade deve ficar mais concentrada no centro-sul na primeira metade de março, mas depois a tendência é de instabilidades avançando para o centro-norte. FONTE: ECMWF

O padrão será alterado no terceiro período como observamos nos mapas acima, entre os dias 18 e 25 de março, quando enfim, a MJO enfraquece e abre brechas para o avanço das instabilidades para o Nordeste. Ainda que neste período possa ser observada uma umidade sobre o centro-sul, o retorno da maior umidade sobre a metade norte brasileira já mostra uma mudança de padrão na segunda metade do mês.

Aliás, a tendência é que os últimos dias de março sejam marcados por essa umidade bem concentrada sobre o centro-norte, com a possível formação de uma nova ZCAS através de uma frente fria parada no Oceano Atlântico por dias consecutivos, o que pode gerar chuvas mais expressivas no norte de Minas, no Espírito Santo, norte de Goiás, norte de Mato Grosso, além de grande parte dos estados do Norte e do Nordeste.