Forte atuação da ZCIT: Nordeste e Norte em alerta para eventos extremos de chuva nos próximos dias e semanas

Os eventos extremos de chuva e temporais que têm atingido partes do Norte e Nordeste vão persistir nos próximos dias com forte atuação da ZCIT, veja os alertas para os próximos dias

satelite
A imagem de satélite mostra a banda de nebulosidade organizada sobre a faixa norte do Brasil associada à ZCIT.

A chuva voltou a ganhar forte intensidade sobre partes do Norte e do Nordeste nas últimas semanas e isso leva em conta dois fatores fundamentais. Primeiro o fenômeno El Niño que segue perdendo intensidade caminhando rumo a uma neutralidade climática, o que dá margens maiores para o avanço das chuvas do Sul para o centro-norte do país. Em segundo lugar, mas não menos importante, tem a forte intensidade da ZCIT que falaremos neste artigo.

Essa banda de nebulosidade chamada ZCIT é formada por ventos alísios que sopram de leste para oeste em direção à região equatorial.

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) tem suas fases de maior ou menor atuação sobre os trópicos, o que depende dos meses do ano. No Hemisfério Sul, a ZCIT ganha maior intensidade no final do verão e começo do outono, principalmente entre fevereiro, março e abril. Essa maior intensidade é observada pelas chuvas mais frequentes e mais volumosas na faixa norte do Brasil.

tsm
A anomalia de TSM mostra um Atlântico mais aquecido banhando toda a costa do Nordeste, o que tem impacto direto no posicionamento e intensidade da ZCIT. Fonte: NOAA

Além dos ventos alísios, a alta temperatura da superfície do mar também influencia no posicionamento do sistema e sua intensidade. E já vale ressaltar que a anomalia de TSM na costa do Nordeste tem variado entre 0,5°C e 2,5°C, ou seja, um Atlântico mais quente que o normal.

Alerta para eventos extremos de chuva

Já falamos sobre a parte teórica da ZCIT, mas agora vamos ao que realmente interessa que são os impactos. O sistema está bem configurado sobre a faixa norte do Brasil e tem gerado altos acumulados nas últimas semanas, o que acendeu o alerta para transtornos e prejuízos relacionados a alagamentos e deslizamentos de terra.

Só nas últimas 12 horas, foram registrados mais de 80 milímetros em Piripiri, no norte do Piauí, segundo dados do INMET, isso de forma bastante pontual, mas quando aumentamos o range para 5 dias, foram registrados volumes elevados em uma abrangente área desde a Paraíba até o Amazonas. Em Monte Alegre (PA) foram quase 140 milímetros, em Turiaçu (MA) cerca de 122 milímetros e em Fortaleza (CE) 117 milímetros foram registrados.

Para os próximos dias, ambas as regiões Norte e Nordeste seguem em alerta para eventos extremos de precipitação por influência da ZCIT e o suporte de outras instabilidades menores como o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) que ajuda a provocar temporais. A maior preocupação é o norte do Maranhão, do Piauí e do Ceará, onde é esperado o maior índice pluviométrico que pode variar de 100 a 300 milímetros.

O potencial para enchentes, inundações e erosão do solo é enorme e pode atingir muitas cidades, o que inclui as capitais São Luis, Teresina e Fortaleza, isso sem falar das áreas rurais e aldeias indígenas. Na região Norte, a maior preocupação até o domingo (3) é o alto volume de chuva esperado entre o Acre e o sudoeste do Amazonas, que, aliás, são áreas que foram atingidas por fortes chuvas que deixaram estragos recentemente.

ZCIT será forte componente das chuvas de março

Tem aquela famosa frase “são as chuvas de março fechando o verão” e que fará muito sentido nesse ano de 2024 em partes do Norte e Nordeste, isso porque a Zona de Convergência Intertropical vai atuar com forte intensidade no próximo mês que começa em poucos dias. A tendência é de chuvas persistentes e volumosas nas próximas semanas, o que pode ser observado nos mapas abaixo.

chuvas março
Mapas mostram a maior condição de umidade sobre partes do Norte e Nordeste (áreas em verde). Fonte: ECMWF

As áreas em verde nos mapas representam maior presença de umidade, o que chama muito a atenção especialmente sobre o leste e norte do Nordeste inicialmente, neste período entre 26 de fevereiro e 04 de março, há o grande potencial para os volumes entre 100 e 300 milímetros como mencionado anteriormente, que atingirão principalmente a metade norte do Maranhão, do Piauí e do Ceará, mas que pode extrapolar para outros estados.

Depois, entre 04 a 11 de março, fica nítida ainda a presença da ZCIT mantendo alta concentração de umidade em boa parte do Nordeste. No período de 11 a 18 de março, isso perde um pouco intensidade porque a umidade se quebra um pouco no Brasil e com a chegada de novos sistemas gerados de chuva no Sul, um ar mais seco deve tomar conta de boa parte do centro-norte brasileiro, o que não vai durar muito tempo.

O mês de março será marcado por chuvas acima da média climatológica em quase todo o Nordeste e sobre a faixa norte do Norte, o que tem grande influência da ZCIT, mas também o suporte de outras instabilidades e condições oceano-atmosféricas.

No último período de 18 a 25 de março, as instabilidades avançam novamente e junto à ZCIT, organizam um novo cenário de maior umidade de novo sobre o Nordeste e também sobre o Norte. Ou seja, de modo geral, o próximo mês pode ser marcado por eventos extremos de chuva em áreas mais ao norte do país, o que pode gerar mais transtornos e mais prejuízos nas cidades e no meio rural.