Chuvas retornam às regiões Norte e Nordeste: risco de transtornos em algumas cidades e salvação no agronegócio

Os últimos dias de dezembro serão marcados por chuvas mais abrangentes e expressivas nas regiões Norte e Nordeste, algo que pode gerar transtornos e prejuízos em algumas cidades, mas pode ser a salvação para o setor agrícola.

chuva
Chuva vai marcar a semana no Norte e Nordeste do Brasil. Há previsão de temporais e altos acumulados.

O Norte e principalmente o Nordeste foram alvos da seca extrema e do calor excessivo nos últimos meses devido a atuação do fenômeno El Niño que ganhou intensidade durante a primavera de 2023. Muitas cidades entraram nas listas de emergência e até mesmo calamidade, seja por falta de chuva, seja pelo excesso de calor, pelo risco de incêndios e/ou até mesmo por baixos índices de umidade relativa do ar, algo que pode ser bastante prejudicial a saúde humana e animal.

De modo geral, grande parte do Norte e do Nordeste ficou com chuvas abaixo da climatologia na primavera segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, o que não significa que a estação das flores foi completamente seca, que não houve registro de chuva. Porém, choveu pouco e os baixos acumulados registrados também ocorreram de maneira mal distribuída, muita dispersa entre esses meses, o que gerou déficit hídrico e aumento das queimadas.

Do top10 no ranking de queimadas registradas pelo INPE, apenas dois estados não são das regiões Norte e Nordeste. O Pará continua em primeiro lugar com 41.224 focos registrados em 2023.

Uma das maiores preocupações em anos de El Niño é a seca prolongada combinado com o aumento do calor, o que é propício para focos de incêndios. Entre os 10 estados com maior número de queimadas no Brasil desde janeiro até o momento, oito ficam no Norte e Nordeste. São eles: Pará (1°), Maranhão (3°), Amazonas (4°), Piauí (5°), Bahia (6°), Tocantins (7°), Rondônia (8°) e Acre (9°). Os outros dois estados que estão nesta lista de maiores números de queimadas registradas em 2023 são Mato Grosso (2°) e Minas Gerais (10°).

Virada no tempo e salvação para o agronegócio

Um dos setores mais afetados pelo El Niño e suas consequências como seca e calor é o agronegócio que foi duramente castigado pela falta de água no solo para o plantio da safra verão 23/24, isso sem falar claro, das culturas que são perenes, ou seja, de ciclo longo, ou das culturas de ciclo bem curto como legumes e verduras.

Falando de grandes commodities como a soja e o milho, houve atrasos no plantio por conta da falta de chuva e das fortes ondes de calor. Além dos atrasos já confirmados pela CONAB, a perda de produtividade já vem sendo questionada. O produtor tem menos tempo agora para terminar o ciclo dos grãos, o que deixa também a janela do algodão mais apertada em 2024.

plantio da soja
Plantio da soja deve avançar no MATOPIBA com previsão de chuvas nesta semana.

Mas agora vamos falar de notícia boa que é a previsão de chuva para os próximos dias e até semanas, ou seja, reta final de 2023 com mudança de padrão no Brasil, em que as chuvas que antes estavam concentradas no centro-sul agora avançam pelo centro-norte com maior abrangência e maior intensidade também, o que pode ser considerado uma salvação para o setor agrícola.

Com a reposição da água no solo dentro de 10 dias, as plantas podem responder melhor, apresentar um desenvolvimento melhor, o que lá na frente pode gerar também uma melhora na perspectiva de produtividade final da safra, tanto no Norte como no Nordeste.

O MATOPIBA pode ser beneficiado com volumes entre 40 e 130 milímetros nos próximos dias, o que será suficiente para aumentar a água no solo em importantes regiões produtoras do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e principalmente da Bahia, onde a chuva tende a ser mais intensa.

A chuva vai ganhar força ao longo desta semana devido a formação de dois vórtices ciclônicos, um em altos níveis da atmosfera, o famoso VCAN, e outro em níveis médios. Os dois juntos podem organizar núcleos intensos de chuva e gerar o tão esperado volume elevado sobre áreas produtoras. Ao que tudo indica, o maior volume deve cair sobre o estado baiano, mas todos os outros estados do Nordeste serão contemplados por algumas pancadas de chuva.

No Norte, o maior volume de chuva está previsto ainda para o Amazonas e para o Acre, mesmo que de maneira mal distribuída como tem acontecido já recentemente. Apesar de uma menor intensidade, também há previsão de chuvas significativas no Pará, no Amapá e no Tocantins nos próximos dias.

Alerta de transtornos e prejuízos

Enquanto a chuva tem sido muito aguardada pelo setor agrícola para a reposição hídrica e desenvolvimento das lavouras, nas cidades existe uma necessidade de chuva para diminuir o calor, para melhorar a qualidade do ar, para reduzir os riscos de queimadas em beira de rodovias, além, é claro, da reposição de água nos reservatórios que são utilizados para abastecimento público.

Para os próximos dias existe previsão de chuvas, algo que será fundamental para ajudar todos esses setores nas cidades, porém, devido a combinação entre calor e umidade gerada pelos sistemas meteorológicos formados, existe risco para eventos extremos de chuva e também temporais, ou seja, toda a chuva que deveria cair regularmente pode acontecer em um pequeno intervalo de tempo, gerando assim, transtornos como alagamentos e outros prejuízos nas cidades.

Até o fim de semana, o leste da Bahia fica em alerta para temporais e chuva volumosa, algo que pode atingir Salvador e outras cidades com maior intensidade como Porto Seguro e Ilhéus. Na quinta-feira (21), tem alerta de temporais e chuva volumosa também nos estados de Sergipe e Alagoas.