Queimadas em 2025: menos focos, mas ainda preocupa. O que muda para pastagens, abelhas e lavouras?
Em 2025, os focos de queimadas despencaram, mas a área queimada segue alta. Entenda por que os números divergem, o que muda para pastagens, abelhas e lavouras, e como aproveitar as primeiras chuvas para uma recuperação rápida.

Os números deste ano contam uma história curiosa: o Brasil registrou em agosto o menor total de focos de calor da série histórica para o mês (18.451), e o acumulado de 2025 até agora soma 47.531 focos, forte queda frente a 2024. Ainda assim, a área queimada segue expressiva: de janeiro a agosto, o MapBiomas estimou 4,23 milhões de hectares queimados no país.

O contraste chama atenção porque mexe com biomas inteiros e com a economia do campo. Em agosto, o Cerrado liderou a área queimada do mês, enquanto a Amazônia reduziu bastante na comparação com 2024; no acumulado do ano, o Cerrado também concentrou a maior fatia dos focos.
Menos focos, mais área? Entenda o aparente paradoxo
Focos e área queimada não são a mesma coisa. Foco é um ponto de calor detectado por satélite; já a área queimada mede o território efetivamente atingido pelo fogo. Em 2025, os focos caíram, mas queimadas extensas em janelas críticas mantiveram a área elevada para a época.

O MapBiomas mede cicatrizes de fogo com imagens Landsat (30 m), enquanto o INPE tem, entre outros produtos, a Área Queimada 1 km (AQ1km), baseada em MODIS, que mostra a evolução por bioma. Métodos diferentes ajudam a explicar divergências pontuais entre totais.
Em paralelo, o MapBiomas mostra que 2025 está muito abaixo do pico de 2024, quando arderam 30,8 milhões de hectares no ano inteiro. Ler os dois painéis, com suas metodologias, é a melhor forma de enxergar tendência e contexto.
Cerrado, Amazônia e Pantanal: impactos práticos no campo
Pastagens
A rebrota verde após o fogo costuma enganar: o capim pode “fechar” o solo, mas a fertilidade e a estrutura permanecem comprometidas, abrindo porta para erosão e queda de produtividade. Em áreas sensíveis, a recomendação técnica é focar recuperação do solo (coberturas, adubação corretiva, plantio direto) e não depender da queima recorrente como manejo.
Abelhas e lavouras
Fumaça e calor reduzem visitas de polinizadores e a oferta de flores, com efeitos em culturas dependentes de abelhas. Na Amazônia e no Cerrado, estudos observam queda na diversidade de polinizadores e alteração de comportamento após eventos de fogo e perturbação. A boa notícia: mosaicos de áreas-refúgio e floradas escalonadas ajudam a encurtar a “entressafra” de recursos para as colônias.
Nesta primavera: agir nas janelas úmidas de recuperação
Com a estação chuvosa recomeçando no Centro-Norte, produtores podem aproveitar janelas úmidas para estabilizar o solo, replantar áreas críticas e proteger polinizadores. A combinação de chuva + temperaturas amenas acelera a cobertura do solo e reduz poeira, favorecendo a volta de insetos e serviços ecossistêmicos nas bordas de lavouras e pastagens.
- Pecuária: priorizar recuperação de pastagens degradadas (adubação de correção, consórcios forrageiros, cercamento de áreas erodidas) e reduzir a queima como “atalho” de manejo.
- Apicultura: realocar apiários longe de cicatrizes recentes, plantar fileiras de nativas com floradas escalonadas e programar colheitas fora de episódios de fumaça.
- Agricultura: usar MapBiomas/INPE para identificar faixas mais afetadas, semear coberturas logo após as primeiras chuvas e recompor quebra-ventos/Área de Preservação Permanente (APPs) para conter sedimentos
Para acompanhar: o painel do INPE traz os focos em tempo quase real e séries históricas por bioma, enquanto o MapBiomas publica boletins mensais de área queimada com recortes por uso do solo, juntos, ajudam a planejar a resposta por região.
Referências da notícia
BDQueimadas: Situação atual do Programa Queimadas. 20 de setembro, 2025. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
MapBiomas Amazônia – Coleção de mapas anuais de cobertura e uso da terra. 20 de setembro, 2025. Projeto MapBiomas Amazônia.