Proibido queimar: por que Mato Grosso do Sul suspendeu as queimadas e o que o produtor pode fazer agora?

Mato Grosso do Sul suspendeu queimadas até novembro, e até dezembro no Pantanal, por causa da seca e do alto risco de incêndios. Entenda a decisão, o que muda no campo e alternativas práticas para tocar o manejo com segurança.

Gado, fazendas
Proibição de queimadas em Mato Grosso do Sul muda o manejo nas fazendas de gado, exigindo alternativas seguras para manter pastagens produtivas.

A partir de 1º de agosto, Mato Grosso do Sul suspendeu as autorizações de queima controlada e queima prescrita em todo o estado até 30 de novembro. No Pantanal, onde a vulnerabilidade é maior, a restrição foi estendida até 31 de dezembro.

A decisão, publicada no Diário Oficial e anunciada pelo governo estadual, responde ao agravamento da estiagem, ao ar muito seco e ao aumento do risco de incêndios florestais, especialmente no bioma pantaneiro.

A medida também foi debatida no Centro Integrado de Coordenação Estadual (CICOE), que se reuniu em 22 de julho diante de alertas de seca e calor. O objetivo é reduzir ignições em um período crítico, quando a vegetação está mais inflamável e qualquer foco se espalha rapidamente. É uma resposta preventiva para evitar cenas que o país já conhece: fumaça densa, perdas produtivas, fauna em fuga e pressão sobre a saúde pública.

O que muda com a suspensão

Na prática, não serão concedidas autorizações para queimas agropecuárias nem para manejo com fogo durante o período estipulado (com regras mais rígidas no Pantanal). Produtores e prestadores de serviço precisam ajustar rotinas de renovação de pastagens, limpeza de áreas e manejo de restos culturais sem uso do fogo. O recado é claro: o ambiente está no limite, e qualquer chama tem alto potencial de virar desastre.

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Queimadas ‘controladas’ estão suspensas em Mato Grosso do Sul devido à seca extrema e ao alto risco de incêndios florestais no campo e no Pantanal.

O contexto climático ajuda a explicar a decisão. Órgãos estaduais registram estiagem prolongada, baixa umidade e temperaturas elevadas, combinação que potencializa incêndios de grande extensão e difícil controle. A lembrança de temporadas severas no Pantanal, como 2020 e 2024, também pesou na escolha por regras mais duras neste segundo semestre.

Como tocar o manejo sem recorrer ao fogo

A suspensão não significa paralisar a fazenda, significa trocar de ferramentas. Há um cardápio de alternativas que reduzem risco climático e, muitas vezes, melhoram o solo e a produtividade no médio prazo:

  • Roçada mecânica e trituração de resíduos para controle de rebrota e preparo do replantio.
  • Plantio direto e cobertura permanente para suprimir plantas indesejadas e conservar umidade.
  • Rotação de culturas e consórcios (milheto, braquiária, leguminosas) para quebrar ciclos de pragas e reciclar nutrientes.
  • Adubação verde e manejo integrado de pastagens (pastejo rotativo, sobressemeadura).
  • Aceiros, manutenção de estradas internas e reservatórios como barreiras físicas ao fogo.

Ao adotar essas práticas, o produtor reduz custos com replantios, mantém a matéria orgânica no campo e diminui emissões. É também um seguro agronômico contra a volatilidade climática: solos cobertos retêm mais água, lavouras entram menos em estresse e pastagens se recuperam melhor após friagens e veranicos.

Pantanal no holofote, Brasil em aprendizagem

A decisão em MS tem alcance regional, mas repercussão nacional. O Pantanal funciona como um “termômetro” de risco: quando está seco, qualquer foco tende a se ampliar rapidamente, com impactos que atravessam fronteiras estaduais. Ao frear queimas neste momento, o estado busca reduzir o número de fontes de ignição justamente quando o ambiente está mais sensível.

Experiências do CICOE mostram que coordenação prévia entre Defesa Civil, Meio Ambiente, Agricultura e Corpo de Bombeiros evita perdas maiores na safra e no rebanho.

Outros estados com períodos secos marcados, Cerrado, Amazônia meridional e áreas do Sudeste, podem tirar lições daqui: planejamento de aceiros antes do ápice da seca, pactos regionais para janelas sem fogo e reforço em alternativas agronômicas.

Para o produtor, o recado é agir já: revisar planos de manejo, treinar equipes, cuidar das fontes de água e manter comunicação com brigadas locais. Proibir queimadas é medida emergencial; construir sistemas produtivos resistentes à seca é o passo seguinte para proteger lavouras, pastos e biomas.

Referência da notícia

Resolução conjunta SEMADESC/IMASUL n. 004. 1 de agosto, 2025. Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação; Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul.