Tem sensibilidade ao glúten? Isso pode ser devido a algo completamente diferente e não ao glúten em si

Novo estudo mostra que o glúten em si raramente é a real causa de problemas gastrointestinais, ao contrário do que se pensa; mas os sintomas são reais. Então, quais são os verdadeiros culpados pelos sintomas? Descubra aqui.

A sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) é uma intolerância a essa proteína que causa sintomas digestivos e gastrointestinais.

A sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) é uma intolerância a essa proteína que causa sintomas digestivos e gastrointestinais, como inchaço e dor abdominal, gases, diarreia ou constipação.

O diagnóstico da SGNC é feito por eliminação, após a exclusão de doença celíaca e alergia ao trigo, que são condições autoimunes e alérgicas, respectivamente. A doença celíaca ocorre quando o sistema imunológico ataca o próprio corpo após a ingestão de glúten, causando inflamação e danos ao intestino.

O glúten é uma proteína encontrada naturalmente em cereais como trigo, cevada, centeio e triticale. Essa proteína age como uma "cola" mantendo a forma de alimentos como pães e massas e retendo o gás da fermentação.

E ultimamente, as mídias e até influenciadores digitais têm colocado o glúten como um vilão alimentar, como sendo prejudicial para a saúde, embora não haja comprovação científica de que ele faça mal à maioria das pessoas. Além disso, nem todo mundo que acredita ter alergia ou sensibilidade à ele realmente tem.

Um estudo de revisão publicado recentemente na revista The Lancet destaca que os sintomas da SGNC podem, na verdade, ser algo completamente diferente, e não estar associado ao glúten em si.

Os autores da revisão descobriram que, para a maioria das pessoas que acreditam ter reação ao glúten, o próprio glúten raramente é a causa disso. Existem dois fatores que podem ser os verdadeiros culpados pelos sintomas que se assemelham à intolerância.

Primeiro fator: os FODMAPs

O estudo em questão fez uma revisão de mais de 50 pesquisas que abordavam alterações nos sintomas e as possíveis causas destas alterações. De forma geral, em todas as pesquisas, as reações associadas ao glúten em si foram raras, mas quando ocorreram geralmente foram pequenas.

Os pesquisadores sugerem que a sensibilidade ao glúten pode ser, na verdade, uma reação a outros componentes dos alimentos, como os FODMAPs (que são carboidratos fermentáveis), e não ao glúten em si.

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Os FODMAPs ('Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides and Polyols') são alimentos com carboidratos de cadeia curta que são mal absorvidos no intestino delgado e podem causar inchaço, gases e desconforto abdominal em pessoas sensíveis. Entre eles estão: alho, cebola, trigo, centeio, leite, queijo fresco, feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, maçã, pera e melancia. Crédito: piotr_malczyk/ iStockphoto.

Uma das conclusões do estudo é que as pessoas que afirmavam ser sensíveis ao glúten (mas não tinham doença celíaca) e que seguiram uma dieta com baixo teor de FODMAPs tiveram uma melhora nos seus sintomas, mesmo com a reintrodução do glúten.

Outro resultado de destaque foi que os frutooligossacarídeos – um tipo de FODMAP presente naturalmente no alho, cebola e na banana, por exemplo – causaram mais inchaço e desconforto do que o próprio glúten.

O estudo sugere então que a maioria das pessoas que têm desconfortos gastrointestinais após consumir alimentos com glúten são sensíveis a outra coisa na verdade: a FODMAPs ou a outras proteínas do trigo.

Segundo fator: questão psicológica

Outra explicação possível além dos FODMAPs é que os sintomas refletem um distúrbio na interação entre o intestino e o cérebro, semelhante à síndrome do intestino irritável (SII). Ou seja, a expectativa de ter sintomas ao consumir glúten influencia, de fato, nos sintomas das pessoas.

Em testes, algumas pessoas que esperavam que o glúten lhes causasse mal-estar, desenvolveram os mesmos sintomas ao serem expostas a um placebo (um medicamento simulado, como uma pílula de açúcar ou farinha, sem o princípio ativo).

Muitos participantes que acreditavam ser "sensíveis ao glúten" reagiram da mesma forma – ou com maior intensidade – a um placebo.

A expectativa e a emoção ativam regiões cerebrais envolvidas na dor e na forma como percebemos ameaças. Quando o cérebro prevê que uma refeição pode causar danos, as vias sensoriais intestinais amplificam cada cólica ou sensação de desconforto, criando um sofrimento verdadeiro.

Ou seja: os desconfortos são reais, mas o mecanismo é frequentemente impulsionado pela expectativa, e não pelo glúten em si.

Referências da notícia

Your gluten sensitivity might be something else entirely, new study shows. 23 de outubro, 2025. Jessica Biesiekierski.

Non-coeliac gluten sensitivity. 22 de outubro, 2025. Biesiekierski, et al.