Remédios de uso comum estão destruindo algas essenciais à vida nos oceanos, diz pesquisa da USP
Segundo o estudo, analgésicos de uso comum, como o paracetamol, presentes no mar estão ameaçando o fitoplâncton, a base da cadeia alimentar marinha. Entenda mais aqui.

O fitoplâncton é um conjunto de microorganismos fotossintetizantes que vivem flutuando na superfície das águas, composto por algas microscópicas e cianobactérias. Por serem fotossintetizantes, esses seres garantem, por exemplo, a oxigenação da água, além do que constituem a base da cadeia alimentar aquática, uma vez que são produtores.
Esses organismos são importantes pois garantem a oxigenação da água através da fotossíntese, e ainda servem de alimentação para várias espécies de animais, como crustáceos.
E um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade Ahmadu Bello, na Nigéria, descobriu que o fitoplâncton está ameaçado pela presença de analgésicos na água. Entenda melhor abaixo.
Analgésicos em ecossistemas aquáticos
Primeiramente, precisamos explicar como esses medicamentos chegam à água. Segundo informações do Jornal da USP, uma parte do medicamento que consumimos é eliminada pela urina ou pelas fezes. Se a residência não tem rede de esgoto adequada, esses compostos que eliminamos serão despejados no meio ambiente, chegando até rios e o mar.
Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos em atividades relacionadas à agricultura, à criação de animais e às indústrias também pode causar contaminação em ambientes aquáticos, além do descarte incorreto.
Remédios afetam a comunidade de fitoplâncton
Os experimentos controlados foram conduzidos com as comunidades de fitoplâncton do norte da Nigéria, em Zaria, com o objetivo de entender se haveria variações em compostos principais (como proteínas, carboidratos e lipídeos), mudanças nas atividades enzimáticas ou estresse adaptativo após o contato com a água contaminada por três medicamentos de uso comum: o diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol.
Ramatu Idris Sha’aba, autora principal do estudo, explicou em entrevista ao Jornal da USP o porquê da escolha por estes três remédios. Segundo ela, esses medicamentos persistem no ecossistema, já que “são quimicamente estáveis, apresentam alta resistência à biodegradação e são frequentemente detectados em águas superficiais devido à remoção incompleta durante o tratamento de esgoto”.
Com isso, foi observada uma diminuição na biodiversidade das comunidades e estrutura alterada pelo estresse oxidativo — um desequilíbrio entre a produção de oxigênio e a capacidade antioxidante da célula.

Esses medicamentos afetam a fisiologia e a dinâmica populacional do fitoplâncton, mesmo estando em baixa concentração na água. Além disso, chances de extinção local também foram observadas em espécies de menor capacidade adaptativa, como os Actinastrum – gênero de algas verdes de água doce.
E apesar do estudo ter identificado danos na estrutura do fitoplâncton, ainda não se sabe o que, de fato, é danificado. “Por enquanto sabemos que afeta a produção dos pigmentos, mas não entendemos o porquê”, explicou na entrevista Mathias Ahii Chia, coautor do estudo.
Este será o tema de futuros estudos a serem desenvolvidos pelos pesquisadores.
Referências da notícia
Single and combined effects of diclofenac, ibuprofen, and paracetamol on phytoplankton community structure and dynamics. 02 de maio, 2025. Sha’aba, et al.
Analgésicos de uso comum ameaçam a base da cadeia alimentar marinha, alerta pesquisa. 30 de junho, 2025. Amanda Nascimento.