Quente demais para viver? É só o começo, áreas inabitáveis vão triplicar neste século
Se o planeta continuar aquecendo no ritmo atual, até o final do século poderemos enfrentar um mundo em que grandes áreas serão quentes demais para a vida humana.

Em algumas partes do mundo, sair no verão já é uma missão de alto risco: o ar quente 'queima' e o corpo luta para se manter fresco. Para muitos, esse não é um problema distante. Segundo os cientistas, se a temperatura média global aumentar só mais 0,5°C, a área terrestre inabitável triplicará, atingindo uma área equivalente ao tamanho dos Estados Unidos.
Especialistas alertam que com um aumento global de 2°C, grandes regiões da Terra se tornarão inabitáveis. E qual a causa? O calor extremo, esse inimigo silencioso que pode nos matar sem que percebamos. Já atingimos um aumento de 1,5°C, e as consequências já são sentidas em todos os cantos do planeta.
Nossas descobertas mostram as consequências potencialmente mortais se o aquecimento global atingir 2°C - alerta Tom Matthews, cientista climático do King's College London.
Se não reduzirmos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), o futuro parece sombrio. Com um aumento de 4°C, 40% da superfície da Terra ficaria inabitável. E se chegarmos a 5°C, o calor extremo colocará em risco a vida de toda a população, independentemente da idade.
Calor extremo: um limite fisiológico
Nosso corpo tem mecanismos para lidar com o calor: suamos, buscamos sombra, nos hidratamos. Mas chega um ponto em que esses mecanismos não são mais suficientes. É chamado de "calor incontrolável" e ocorre quando o corpo recebe mais calor do que consegue dissipar, o que pode levar a insolações fatais.
Atualmente, algumas regiões já vivenciam episódios de calor extremo que colocam em risco a capacidade de termorregulação do corpo humano. O Golfo Pérsico, a Planície Indo-Gangética, o sul dos Estados Unidos, o México e a Austrália registraram eventos que excedem limites incompensáveis, mesmo para adultos saudáveis. Com mais 2°C de aquecimento global, essas condições se tornarão muito mais comuns e afetarão desproporcionalmente idosos e crianças, que são especialmente vulneráveis ao calor extremo.
De calor extremo a calor mortal
Quando a temperatura corporal atinge 42°C em menos de seis horas, o corpo pára de funcionar e o resultado é fatal. Esse limite, que os cientistas definem como calor insuportável, pode se tornar realidade em diversas regiões do planeta se as temperaturas globais subirem 2°C acima dos níveis pré-industriais.

Se continuarmos queimando combustíveis fósseis sem controle e destruindo ecossistemas que absorvem carbono, poderemos enfrentar um aumento de 4°C a 5°C nas temperaturas globais, um cenário em que o calor letal não discriminará idades e colocará populações inteiras em risco, especialmente nos trópicos, onde 40% da humanidade vive atualmente.
O que podemos fazer?
A mensagem dos cientistas é clara: limitar o aquecimento global é a única maneira de evitar um mundo onde estar ao ar livre representa um risco à saúde. Para conseguir isso, é crucial reduzir as emissões de GEEs, investir em energia renovável e proteger as reservas naturais de carbono, como florestas e pântanos.
Mas também é hora de se preparar para o inevitável. "À medida que mais partes do planeta vivenciam condições externas muito quentes para nossa fisiologia, será essencial que as pessoas tenham acesso confiável a ambientes mais frios para se protegerem do calor", alerta o climatologista Tom Matthews, do King's College London.
Em outras palavras, o futuro que nos espera depende do que fazemos agora. Se continuarmos ignorando o problema, milhões de pessoas verão suas casas transformadas em fornos inabitáveis. Mas se agirmos com urgência, ainda podemos evitar o pior dessas previsões. O tempo, assim como o calor, não espera.
Referência da notícia
Mortality impacts of the most extreme heat events. 04 de fevereiro, 2025. Matthews, et al.