Projeto Qubic: telescópio na Argentina trará mais detalhes sobre o Big Bang

Como tudo começou? Esta é a pergunta que os astrônomos tentam responder há anos e a resposta pode vir das alturas em Salta, uma província argentina. O Projeto Qubic está em busca da origem do universo. Saiba mais aqui.

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Vista do telescópio em Salta, Argentina. (MINCYT)

A teoria do Big Bang é a mais aceita pela cosmologia atual para explicar o início do espaço, tempo, energia e matéria. Há 13,8 bilhões de anos atrás esta grande explosão (Big Bang) deu origem ao universo. Agora, na localidade de San Antonio de los Cobres, em Salta, província argentina, o Projeto QUBIC (Q-U Bolometric Interferometer for Cosmology) começa sua grande aventura de encontrar as evidências que suportem esta teoria. E a única maneira de fazer isso é com um experimento.

O que se está buscando?

A teoria mais moderna do Big Bang é conhecida como Teoria da Inflação Cósmica, que postula que houve uma expansão acelerada e exponencial nos primeiros momentos do universo. Os cientistas acreditam que, se ocorreu exatamente isso, tem que haver ficado vestígios na forma de radiação cósmica de fundo (CMB, na sigla em inglês), micro-ondas de baixíssima intensidade com um tipo especial de polarização (estrutura da onda), que se conhece como “Modo B”.

“Como astrofísicos sabemos o que aconteceu 400.000 anos depois do início do universo, quando a matéria se desacoplou da energia e os fótons começaram a viajar livremente”, explica Beatriz García, pesquisadora do CONICET e vice-diretora do ITeDA. “Os vestígios do que aconteceu antes estão na radiação cósmica de fundo em micro-ondas e naquilo que queremos detectar: a polarização dessa radiação. Podemos saber o que aconteceu antes que a luz começasse a viajar pelo universo (ou seja, antes do referido desacoplamento) estudando a polarização da radiação”.

O telescópio do Projeto QUBIC é o único instrumento no mundo capaz de detectar esses fótons do período da inflação cósmica, ou seja, as evidências da criação do universo.

Para finalmente validar a teoria do Big Bang, os astrofísicos devem conseguir medir essa radiação com a polarização prevista pela mesma teoria. Algo que até agora não foi possível fazer porque não havia um instrumento tão sofisticado quanto o Qubic para realizar a façanha.

Um telescópio único

A quase 5.000 metros acima do nível do mar, em plena Puna Salteña, a 300 quilômetros de Salta, no povoado de Altos Chorrillos, será colocado o telescópio. É um lugar com baixo teor de umidade e ar pouco poluído, ideal para este tipo de observação. O Projeto Qubic é resultado de uma colaboração entre seis países: Estados Unidos, França, Irlanda, Itália, Reino Unido e Argentina.

Uma característica relevante do Qubic é que ele é capaz de medir a variação de temperatura gerada pela radiação que detecta, por isso seu interior deve ser resfriado quase ao zero absoluto: ele precisa estar a 0,3 graus Kelvin, ou cerca de 270 graus Celsius abaixo de zero.

O poderoso telescópio de micro-ondas, único no mundo, foi projetado e construído na França especificamente para este projeto. Mede um metro e vinte de altura, tem oitenta centímetros de diâmetro e pesa 800 quilos. Toda a parte eletrônica e o invólucro que abriga o instrumento principal foram projetados e montados pela UNSAM e pela Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA).