Micróbios revelam os segredos da recuperação ecológica após incêndios florestais

Um estudo revela que os micróbios desempenham um papel crucial na recuperação de ecossistemas após incêndios florestais, contribuindo para o entendimento como as comunidades microbianas se adaptam e se dispersam.

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Investigadores observaram mudanças nas populações bacterianas e fúngicas, destacando a importância do vento e do ar na sua dispersão pós-incêndio.

Os incêndios florestais têm um impacte profundo nas plantas, em animais e no solo de áreas afetadas. No entanto, um estudo publicado na revista mSystems revelou como os micróbios, como bactérias e fungos, retornaram aos ecossistemas dos Estados Unidos da América (EUA) após incêndios, proporcionando um discernimento de como as regiões afetadas por incêndios iniciam o processo de recuperação.

Ventos e solos influenciam a dispersão de micróbios pós-incêndio

O estudo, agora publicado na revista mSystems, teve com objetivo avaliar os efeitos da seca nos sistemas microbianos, mas um incêndio florestal interrompeu os planos originais, levando os pesquisadores a aproveitar a oportunidade de estudar o impacto dos incêndios nas comunidades microbianas.

A autora principal do estudo, Kristin Barbour, estudante de doutoramento na Universidade da Califórnia-Irvine, explicou a importância desses micróbios.

"Sabemos que, com as alterações climáticas e a atividade humana, estamos a perturbar cada vez mais os nossos ecossistemas. Os micróbios, especialmente aqueles localizados na superfície do solo, desempenham muitos processos-chave nos ecossistemas, como o ciclo do carbono e do nitrogénio." - Kristin Barbour, Universidade da Califórnia-Irvine.

Passamos a explicar os fatos. Durante um ano, os pesquisadores coletaram e analisaram populações microbianas em uma pastagem semiárida e em vegetação costeira, ambas afetadas pelo fogo. Para o efeito, utilizaram sacos com folhas queimadas em cada um dos locais: metade eram porosos e permitiam a entrada de micróbios, enquanto a outra metade estava fechada como elemento de controlo. Além disso, alguns sacos continham lâminas de vidro para recolher micróbios em cada grupo.

Esses sacos, distribuídos em cinco pontos diferentes ao longo de um ano, permitiram que os investigadores rastreassem a dispersão dos micróbios. As amostras foram recolhidas em cinco momentos diferentes, variando de três meses após o incêndio até 15 meses após o evento.

No final, fruto deste acaso da ocorrência deste incêndio, descobriram que o vento e o ar desempenharam um papel significativo na dispersão tanto de bactérias quanto de fungos, enquanto o solo sob a camada de folhas queimadas era importante para o movimento das bactérias.

Transformações microbianas após o fogo e o seu papel na recuperação ecológica

Estudos anteriores, como o apresentado em 2022, por investigadores na área dos incêndios da Universidade de Idaho, haviam já demonstrado o modo como se propagavam os micróbios com o fumo de incêndios florestais.

No entanto, os incêndios foram, efetivamente, um ponto de viragem no estudo que a equipa da universidade, localizada em Irvine (Califórnia), nos apresenta agora, uma vez que procuravam apenas avaliar os efeitos da seca. Em outubro de 2020, ocorreram incêndios florestais na região de estudo e afetaram profundamente as áreas de pastagem e vegetação costeira.

Foram responsáveis pela redução da cobertura vegetal em ambos os locais e, embora a intensidade do fogo não tenha sido quantificada devido à natureza não planeada do incêndio, resultou na remoção da maior parte da camada superficial de folhas secas, embora algumas folhas parcialmente queimadas ainda estivessem presentes.

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A abundância microbiana foi medida utilizando cirtometria de fluxo e o ADN foi analisado para caracterizar a composição das comunidades bacterianas e fúngicas. Os resultados revelaram mudanças significativas nas comunidades microbianas ao longo do tempo e em resposta à própria dispersão. O vento e o ar foram das principais fontes relevantes para a propagação de micróbios.

Além disso, a análise de diversidade microbiana mostrou que a multiplicidade destes aumentou ao longo do tempo nas folhas queimadas, indicando uma recuperação gradual das comunidades microbianas após o incêndio.

A importância dos micróbios na recuperação ecológica

Os resultados deste estudo são cruciais para a nossa compreensão de como os ecossistemas se recuperam após incêndios florestais. Destaca-se, além disso, a importância dos micróbios na recuperação ecológica e de como a dispersão microbiana desempenha um papel crítico nesse processo.