Incêndios florestais no Canadá afetaram a qualidade do ar em boa parte do Hemisfério Norte!
Um estudo recente identificou que todo o Hemisfério Norte sofreu uma deterioração da qualidade do ar, como resultado dos incêndios florestais recordes que ocorreram no Canadá este ano.
Já noticiamos aqui sobre a temporada inédita e sem precedentes de incêndios florestais que o Canadá enfrentou entre maio e agosto deste ano. Os fogos causaram destruição, dezenas de vítimas e forçaram a evacuação de 200 mil pessoas em todo o país. Os mais de 6.500 incêndios queimaram cerca de 18 milhões de hectares, praticamente duas vezes a área de Portugal.
Agora, em um novo estudo publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences, os pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS) utilizaram modelos numéricos de qualidade do ar para entender os impactos resultantes desses incêndios florestais no ar. Os resultados mostraram que quase todo o Hemisfério Norte foi afetado, e não apenas o Canadá e os Estados Unidos, como aconteceu inicialmente.
Até onde chegou a fumaça dos incêndios?
Os incêndios florestais lançaram quantidades sem precedentes de poluentes atmosféricos e de gases de efeito estufa na atmosfera. De início, a fumaça gerou uma poluição atmosférica no Canadá e no norte dos Estados Unidos, mas não se sabia até que ponto além dessas regiões ela tinha chegado; e a compreensão da dispersão dos poluentes mais nocivos era limitada.
Os pesquisadores do estudo utilizaram o Modelo de Aerossol e Química Atmosférica do Instituto de Física Atmosférica (IAP-AACM), um modelo desenvolvido internamente como um módulo dentro do Modelo do Sistema Terrestre da Academia Chinesa de Ciências (CAS-ESM).
As simulações mostraram que os incêndios impactaram não apenas a qualidade do ar local, mas também o ar da maioria das áreas no Hemisfério Norte, devido ao transporte de longo alcance, chegando até a Europa e a Ásia. As fumaças causaram uma grave poluição por PM2.5 (as chamadas partículas finas) no nordeste dos Estados Unidos e um aumento diário na concentração de PM2.5 no noroeste da China.
Os principais episódios de poluição atmosférica
Segundo o estudo, houve seis episódios principais de poluição atmosférica grave durante a “temporada” de incêndios (que foi de maio a agosto): 15 a 22 de maio, 5 a 9 de junho, 24 de junho a 1 de julho, 12 a 19 de julho, 17 a 15 de agosto e 17 a 22 de agosto.
Além do Canadá, o primeiro episódio afetou o ar no centro-norte dos Estados Unidos; o segundo episódio impactou o nordeste americano, e de forma particularmente grave. A concentração de PM2.5 em 7 de junho em 11 locais de monitoramento na cidade de Nova York atingiu o pior nível de qualidade do ar em mais de 50 anos.
No terceiro episódio, os poluentes PM2.5 foram transportados pelo vento até a Europa, enquanto no quarto episódio, eles se concentraram mais no oeste do Canadá e no centro-norte dos Estados Unidos. O quinto episódio afetou principalmente o norte do Canadá, e o sexto as regiões costeiras americanas.
Concentrações de PM2.5 acima das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) ocorreram principalmente na América do Norte, com um período de 40 dias consecutivos de poluição excedendo o limite no oeste e leste do Canadá, e mais de 10 desses dias sobre o nordeste dos Estados Unidos.
Amplas áreas da Europa e da Ásia Ocidental, Central e Oriental também sofreram com o aumento da concentração de PM2.5. Os valores excederam 1 micrograma por metro cúbico na maioria das áreas do Hemisfério Norte – valor inferior às diretrizes da OMS, mas ainda assim causou impactos. A concentração de PM2.5 na região noroeste da China aumentou para cerca de dois microgramas por metro cúbico.
E os gases de efeito estufa?
A distribuição global da concentração de dióxido de carbono (CO2) produzida pelos incêndios também foi analisada. Os pesquisadores descobriram que houve um aumento significativo dos níveis de CO2 na América do Norte em todos os meses (maio a agosto) e na Europa e no noroeste da Ásia em julho.
Em junho e julho, as concentrações excederam 0,2 partes por milhão (ppm) na maior parte do Hemisfério Norte, exceto no sudeste da Ásia, Índia e sul da China. Em agosto, aumentaram para mais de 0,2 ppm em todas as regiões do Hemisfério, chegando até a 0,5 ppm.