Doença de Chagas: mudança climática pode aumentar o risco da doença na Amazônia

Segundo um estudo recente, as mudanças climáticas podem expandir a área de ocorrência dos barbeiros (os vetores da doença) na Amazônia, o que aumentaria o risco de contrair a doença.

inseto barbeiro
Inseto barbeiro (Triatominae), o vetor da doença de Chagas. Crédito: Divulgação.

A Doença de Chagas (ou Tripanossomíase americana) é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente pela picada do inseto barbeiro (Triatominae) infectado. A doença é uma condição séria que exige atenção e cuidados, que pode levar a complicações graves no coração e no sistema digestivo, podendo ser fatal em alguns casos.

O Chagas é uma doença tropical considerada negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois afeta principalmente populações pobres em áreas remotas e com pouco acesso a serviços de saúde, e não recebe a atenção e investimentos adequados em pesquisa, diagnóstico e tratamento.

No Brasil, estima-se que haja, atualmente, pelo menos 1 milhão de pessoas com a doença de Chagas.

Esta doença é endêmica na América Latina, sendo atribuída, em sua origem, às áreas rurais e às populações com condições de vida precárias; e ela ainda é um grande desafio de saúde pública, sobretudo em regiões com situações precárias de moradias.

E um estudo recente publicado na revista científica Medical and Veterinary Entomology traz uma projeção preocupante que agravaria a situação: ele sugere que as mudanças climáticas podem causar um deslocamento geográfico dos barbeiros (os vetores) na região Amazônica, aumentando assim o risco da doença. Entenda mais abaixo.

Relação entre mudança climática e doença de chagas na Amazônia

Para o estudo, os pesquisadores analisaram mais de 11 mil registros de ocorrência de 55 espécies diferentes de barbeiros na América Latina, através da técnica de modelagem de nicho ecológico. Assim, eles cruzaram dados biológicos e ambientais para prever como esses vetores poderiam se deslocar geograficamente até 2080 sob diferentes cenários climáticos do IPCC (os cenários projetados de emissões de gases de efeito estufa).

Os resultados indicam uma tendência preocupante: os barbeiros devem expandir sua distribuição na Amazônia, especialmente em áreas já vulneráveis, até o ano de 2080 sob o cenário climático SSP 8.5, o de maiores emissões, como mostra a figura abaixo. Regiões que hoje apresentam baixa ocorrência desses insetos, como trechos do oeste do Pará e norte do Amazonas, podem se tornar áreas de risco no futuro.

Efeito das mudanças climáticas na retração (cores verdes) e expansão (cores vermelhas) de áreas de distribuição para espécies de triatomíneos (barbeiros) para 2080 sob o cenário climático SSP 8.5 (o de maiores emissões de gases de efeito estufa). Crédito: Leandro Schlemmer Brasil.

O estudo faz um alerta para o aumento do risco em regiões hoje consideradas seguras. Essas informações podem auxiliar na antecipação de estratégias de prevenção, vigilância e fortalecimento do sistema de saúde.

Ainda, segundo os pesquisadores, a abordagem feita no estudo também poderia ser aplicada a outras doenças tropicais, como dengue, leishmaniose e malária, auxiliando com informações para políticas públicas de saúde.

No cenário de mudanças climáticas mais intensas, há uma previsão de aumento da ocorrência de barbeiros na Amazônia, o que levará algumas regiões a se tornarem mais vulneráveis à transmissão no futuro.

Por fim, os resultados do estudo reforçam a necessidade de políticas integradas de saúde, meio ambiente e adaptação às mudanças climáticas. Trata-se de uma ferramenta estratégica para ajudar a prever riscos e evitar surtos futuros na Amazônia.

Referências da notícia

Potential geographic displacement of Chagas disease vectors under climate change. 21 de maio, 2025. Brasil, et al.

Mudanças climáticas podem ampliar o risco da Doença de Chagas na Amazônia. 09 de julho, 2025. Leandro Schlemmer Brasil, et al.