Dengue e Zika: divulgadas pesquisas que podem salvar a vida de milhões

Pesquisas chinesas e brasileiras divulgadas nas últimas semanas revelaram fatos inéditos sobre os vírus que causam a Dengue e a Zika. Cientistas foram inclusive capazes de prever surtos com meses de antecedência.

Dengue e Zika
Cientistas estão mais próximos de entender o ciclo de vida dos vírus da Dengue e da Zika, e podem até mesmo prever surtos com meses de antecedência

Mosquitos são os vetores de algumas das doenças mais perigosas do mundo, causando mais de 750 mil mortes todo ano - O que faz deles também os insetos mais letais do mundo para seres humanos, sem nenhum concorrente que chegue nem sequer perto.

Algumas das doenças transmitidas por esses sugadores de sangue são a malária, febre amarela, encefalite japonesa, dengue e zika - essas duas últimas com surtos frequentes no Brasil ao longo dos últimos anos, causando mortes e sequelas graves.

Os vírus transmitidos pelo mosquito da dengue e da zika são classificados como flavivírus e dependem tanto dos hospedeiros que infectam quanto dos vetores que os transmitem. Mas a ciência nunca entendeu completamente como o vírus atua nos seres humanos para promover seu ciclo de vida.

Felizmente, algumas pesquisas recentes tem avançado muito neste sentido. Uma delas, liderada por pesquisadores da Universidade de Tsinghua, na China, descobriu que uma das principais maneiras pela qual o ciclo do vírus se completa se dá pelo cheiro da pele da pessoa infectada.

Os cientistas descobriram que o vírus causa uma maior produção da substância acetofenona na pele, tanto em camundongos quanto humanos infectados, aumentando sua atratividade para os mosquitos.

Isso significa que quem é infectado pelos flavivírus passa por uma mudança na microbiota da pele que muda seu cheiro, atraindo mais mosquitos para picá-lo e, posteriormente, espalhar o vírus para outros hospedeiros.

A descoberta tem sido elogiada porque pode muito bem ser o primeiro passo para criar uma nova geração de repelentes de mosquitos, capaz de salvar centenas de milhares de vidas a cada ano.

Brasileiros conseguem prever surtos de dengue, zika e chikungunya usando inteligência artificial

Mas os avanços não estão acontecendo apenas na China. O pesquisador brasileiro Robson Aleixo, da USP, apresentou um artigo premiado no workshop internacional AI4Health onde um novo modelo de inteligência artificial, adaptado à realidade brasileira, foi capaz de prever com até três meses de antecedência surtos de doenças como dengue, zika e chikungunya.

Os pesquisadores utilizaram bancos de dados do Rio de Janeiro, que incluem o número de casos de dengue em um bairro e seus bairros vizinhos, informações do Levantamento Rápido de Índices para Aedes Aegypti (LIRAa), dados climáticos como temperatura e precipitação, além de informações demográficas e espaciais.

Mais completa do que qualquer outro modelo de predição já construído, a inteligência artificial é capaz de lidar com relações não-lineares entre todos os dados analisados e fornecer um instrumento valioso para que gestores da cidade repensem estratégias e redirecionem os recursos necessários para as áreas mais afetadas.

Para ser utilizado pelas prefeituras, no entanto, o pesquisador ressalta que precisa de mais apoio, que ultrapasse os muros da universidade. O modelo precisa ganhar uma interface que seja de fácil utilização e um sistema que o realimente com os dados mais recentes.

Ainda assim, este avanço incrível representa outra frente de combate capaz de detectar surtos de doenças com meses de antecedência, ajudando a salvar centenas de milhares de vidas a cada ano, não só no Brasil mas também em todos os outros países tropicais que sofrem com estas doenças. Às vezes, o futuro da ciência é inspirador.