Como a poluição afeta a Floresta Amazônica?

A poluição produzida em Manaus afeta o funcionamento do ecossistema Amazônico, comprometendo a fotossíntese das plantas, o balanço de energia da atmosfera e até o regime de chuvas da região.

A poluição produzida em Manaus modifica o funcionamento do ecossistema da floresta Amazônica. Créditos: Alberto César Araújo/AmReal

Já sabemos os males da poluição à nossa saúde, seus efeitos no clima urbano e global. Esse mês, um trabalho publicado na Nature Communications, agregou mais conhecimento a esse tópico, mostrando que a poluição também altera o funcionamento do ecossistema amazônico - e possívelmente, de outros ecossistemas florestais. A poluição produzida em Manaus é transportada pelo vento e reage com compostos florestais, gerando partículas chamadas aerossóis orgânicos secundários. O aumento dessas partículas pode impactar severamente o funcionamento da floresta, alterando o regime de chuvas e comprometendo o papel da Amazônia na fixação de carbono, importante para controlar o crescente aumento da temperatura do planeta.

Uma vez gerado, esse aerossol fica na região florestal e modifica a radiação solar incidente sobre a mata, isto é, a quantidade de luz que chega na copa das árvores, em outras plantas e no solo. Em um certa quantidade, aerossóis podem até contribuir para o aumento da fotossíntese, já que esse partícula pode "espalhar" melhor a luz e favorecer esse processo no interior da mata. No entanto, em grandes quantidades, essas partículas bloqueiam a radiação solar direta, o que prejudica a fotossíntese e impede a fixação de carbono. Menos carbono absorvido pela mata, através da fotossíntese, pode significar mais gás carbônico na atmosfera e aumento do efeito estufa.

Essas partículas não só bloqueiam ou espalham radiação solar, mas também a absorvem, podendo contribuir para o aumento da temperatura da atmosfera. Isso implica em uma mudança na quantidade de calor que entre e sai do planeta, balanço muito importante para a manutenção do clima. Além disso, os aerossóis orgânicos secundários são um dos maiores responsáveis pela formação de gotas de chuva na Amazônia. Dessa forma, o aumento dessas partículas geraria mudanças na formação de nuvens de chuva na região.

O aerossol altera a quantidade de luz que chega na copa das árvores, em outras plantas e no solo. Créditos: Ministério do Turismo do Brasil.

A média do aumento de aerossol secundário dentro da região Amazônica variou de 60 a 200% no experimento publicado, apresentando o máximo de 400% em uma localidade. Segundo os pesquisadores, esse valores são justificados pelo aumento nos oxidantes (OH e ozônio), promovido pelas emissões urbanas de óxidos de nitrogênio (NOx), um dos produtos da queima de combustíveis fósseis.

Os experimentos numéricos conduzidos no trabalho simularam as condições atmosféricas com e sem a poluição de Manaus. Com isso, foi possível ter uma confirmação clara do impacto do homem no aumento de aerossóis secundários na atmosfera, que também pode ser produzido de forma natural. A Amazônia é uma região excelente para estudos do efeito das emissões antropogênicas no meio ambiente, uma vez que, sem as emissões de Manaus, a composição química da atmosfera na floresta seria similar à pré-industrial.

A pesquisa usou a combinação de modelos numéricos de alta resolução, análises de laboratório e medidas de campo do projeto GoAmazon2014/5. Os esforços envolvem Brasil, Estados Unidos e Alemanha, e conta com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM), Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) e Instituto Max Planck, da Alemanha.