“Amazônia pode entrar em colapso se continuar no caminho atual", afirma líder de estudo na Nature

A estimativa é de que, nos próximos 25 anos, cerca de 10% a 47% da Amazônia possam chegar a um ponto de não retorno, com consequências irreversíveis na paisagem, alertou o cientista.

desmatamento ilegal na Amazônia
Até 47% da floresta Amazônica pode colapsar, atingindo o ponto de não retorno já em 2050. Crédito: Marcio Isensee/Shutterstock.com.

Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) traz uma abordagem inédita sobre as transformações irreversíveis que a Amazônia poderá sofrer daqui a alguns anos. A pesquisa foi publicada na renomada revista científica Nature.

Segundo os cientistas, cerca de 10% a 47% da Amazônia podem colapsar, chegando a um ponto de não retorno já em 2050, com transições inesperadas na paisagem. O ‘ponto de não retorno’ é o ponto crítico a partir do qual o sistema se retroalimenta numa aceleração de perda de florestas, e perdemos o controle.

A estimativa é de que, nos próximos 25 anos, de 10% a 47% da Amazônia possam chegar a um ponto de não retorno, com transições inesperadas na paisagem.

Usando imagens de satélite, modelos climáticos, dados paleoecológicos e do clima, os autores identificaram cinco principais fatores de stress que podem levar à destruição da Amazônia. “Todos os efeitos de stress estão relacionados à água. Para cada uma dessas cinco variáveis há limiares críticos. E a interação entre esses estressores pode ter um efeito sinérgico”, disse Bernardo Monteiro Flores, autor principal do estudo.

Esses limiares críticos são: a temperatura global não pode oscilar acima dos 1,5ºC; precipitação anual de até 1.800 milímetros; o déficit hídrico cumulativo não pode ser superior aos -350 milímetros; estação seca não deve durar mais do que 5 meses; desmatamento acumulado de até 10% da cobertura original do bioma florestal, o que exige o fim do desmatamento e a restauração em pelo menos 5% do bioma.

Qual seria o fim da Amazônia?

Em entrevista ao site Um Só Planeta, Bernardo explicou o que esse colapso representaria para o planeta.

“(...) deixar de ser floresta para virar savana seria o primeiro passo para a Amazônia (...) sofrer uma mortalidade grande, que aí sim poderia ser o gatilho do ponto de não retorno que levaria o sistema como um todo a um colapso a longo prazo” - Bernardo Flores, líder do estudo.

Ele frisa que a Amazônia pode entrar em colapso se continuar no caminho atual que está seguindo, e que isso a transformaria, com áreas bem diferentes e de diversidade menor, dominadas por uma ou poucas espécies que se auto perpetuam, como as florestas dominadas por lianas e bambus.

Desmatamento ilegal da floresta Amazônica
Desmatamento ilegal da floresta Amazônica, dentro da área indígena Uru-eu-wau-wau, em 2019. Crédito: Andre Dib.

“Mudar para outro ecossistema – deixar de ser floresta para virar savana – seria o primeiro passo para a Amazônia, em torno de 2050, sofrer uma mortalidade grande, que aí sim poderia ser o gatilho do ponto de não retorno que levaria o sistema como um todo a um colapso a longo prazo”, disse Bernardo.

Ele explica que o ponto de não retorno é o ponto a partir do qual o sistema começa a mudar cada vez mais rápido. “Esse processo duraria, não sei, muitas décadas, séculos, a gente não sabe até onde ele iria exatamente. Mas esse seria o primeiro passo para perder essas florestas”, disse.

O aquecimento global, chuva anual, a intensidade da sazonalidade das chuvas, a duração da estação seca e o desmatamento são os elementos de stress que afetam a região Amazônica.

Ele comenta ainda que outro estudo mostrou que 15% da Amazônia já foi perdida e se desmatarmos mais de 20%, a região vai perder tanta chuva que já seria um ponto de não retorno. E infelizmente, não estamos longe desse cenário.

Referência da notícia:

Flores, B. M. et al. Critical transitions in the Amazon forest system. Nature, 626, 2024.