Cientistas alertam que tempestades de poeira em Marte são uma ameaça para futuras missões tripuladas

Uma pesquisa alerta que o regolito de Marte contém compostos tóxicos que podem afetar seriamente a saúde dos astronautas em futuras missões ao planeta.

Marte
Cientistas estão estudando como mitigar os efeitos das partículas marcianas em missões tripuladas.

A cada três anos marcianos (equivalente a cinco anos e meio na Terra), Marte passa por enormes tempestades de poeira que cobrem toda a sua superfície. Esse fenômeno causa tempestades eletrostáticas e já causou danos e perdas em missões robóticas como o rover Opportunity e o módulo InSight.

Então o que aconteceria com os astronautas expostos a essas tempestades? Uma nova pesquisa alerta que elas podem representar um risco ainda maior para missões tripuladas.

O estudo, publicado na revista GeoHealth e liderado por Justin L. Wang, da Universidade do Sul da Califórnia (USC), alerta que a poeira marciana pode causar problemas respiratórios e aumentar o risco de doenças entre os astronautas.

Marte
Assim como afetou missões como Opportunity e InSight, a poeira marciana pode ser letal para futuras tripulações.

"Há muitos elementos potencialmente tóxicos aos quais os astronautas podem ser expostos em Marte", explicou Wang ao site Universe Today. "O mais crítico é a abundância de pó de sílica, bem como pó de ferro basáltico e ferro nanofásico, que são reativos aos pulmões e podem causar doenças respiratórias", disse.

Um inimigo invisível na superfície marciana

Os efeitos do regolito lunar já foram documentados durante as missões Apollo. Ao retornar à Terra, os astronautas relataram irritação na garganta, tosse e problemas de visão devido à exposição à poeira lunar.

Em Marte, a situação pode ser ainda mais séria. "O tamanho médio das partículas de poeira em Marte é muito menor do que o tamanho mínimo que o muco em nossos pulmões pode expelir", disse Wang. Isso aumenta o risco de doenças pulmonares semelhantes à silicose ou à pneumoconiose.

Marte, astronauta
O regolito marciano contém partículas tóxicas que podem representar um sério risco à saúde dos astronautas.

Além da sílica, a poeira marciana contém percloratos, óxidos de ferro e metais tóxicos, como cromo, arsênio e cádmio, cuja presença e efeitos ainda não são totalmente compreendidos. A exposição prolongada a esses compostos pode levar a complicações sérias, especialmente em um ambiente onde a assistência médica é limitada e o retorno à Terra não é uma opção imediata.

Desafios médicos em uma missão a Marte

Missões tripuladas ao planeta vermelho enfrentam enormes desafios logísticos e de saúde. A distância mínima entre a Terra e Marte é de 55 milhões de quilômetros, então uma viagem de ida e volta pode levar até três anos. Durante esse período, os astronautas serão expostos à microgravidade, radiação cósmica e condições extremas.

simulação de astronautas em Marte
Cientistas alertam que a poeira de Marte pode causar doenças pulmonares e complicar a vida dos astronautas em futuras colônias no planeta.

Um dos principais desafios será a autossuficiência médica. "É muito mais difícil tratar doenças em astronautas em Marte porque o tempo de trânsito é significativamente maior do que em missões anteriores à Estação Espacial Internacional ou à Lua", disse Wang.

A exposição à radiação também pode afetar o sistema imunológico, aumentar a suscetibilidade a doenças pulmonares e dificultar os tratamentos.

Diante dessa ameaça, cientistas sugerem medidas preventivas para minimizar a exposição à poeira. Uma das chaves será desenvolver sistemas de filtragem eficientes em habitats marcianos e em trajes espaciais. No entanto, como parte da poeira inevitavelmente entrará em áreas habitadas, os pesquisadores também estão explorando possíveis tratamentos para mitigar seus efeitos.

Algumas hipóteses sugerem que a vitamina C pode ajudar a prevenir doenças relacionadas ao cromo, enquanto o iodo pode reduzir o impacto dos percloratos na glândula tireoide. No entanto, essas estratégias devem ser aplicadas com cautela. "O excesso de vitamina C pode aumentar o risco de pedras nos rins, o que já é um problema comum em astronautas devido à microgravidade", alertou Wang.

As agências espaciais estão investindo em tecnologias para reduzir os riscos do regolito, desde revestimentos protetores até sistemas avançados de limpeza. À medida que o planejamento das missões a Marte avança, encontrar soluções para a exposição à poeira marciana será fundamental para garantir a segurança e o sucesso da exploração humana do Planeta Vermelho.

Referência da notícia

Potential Health Impacts, Treatments, and Countermeasures of Martian Dust on Future Human Space Exploration. 12 de fevereiro, 2025. Wang, et al.