“The Line”: O plano mais ambicioso da Arábia Saudita em repensar as cidades

A proposta consiste em uma cidade sustentável envidraçada de 170 quilômetros de comprimento, 500 metros de altura e 200 metros de largura no meio do deserto da Arábia Saudita. Entenda mais sobre esse projeto, suas inovações, principais questionamentos e críticas.

O projeto da cidade do futuro
The Line, o conceito que soa quase como uma ficção científica. Fonte: The Wall Street Journal

A Arábia Saudita pretende construir uma enorme metrópole linear de dois arranha-céus paralelos com 170 quilômetros de extensão, 500 metros de altura e 200 metros de largura, intitulada “The Line”. As duas faces de vidro terão filtros solares e serão semi-refletivas, apresentando ventilação natural e com zero emissão de carbono.

A cidade será projetada para ser a casa de milhões de pessoas por uma área de apenas 34 quilômetros quadrados, com agricultura vertical, fonte de energia 100% renovável, alta tecnologia, árvores voadoras e custando mais de US $800 bilhões. Os técnicos calculam que o desenvolvimento da The Line pode durar cinquenta anos.

Interiormente os residentes encontrarão um microclima temperado e abastecimento de água, além de uma posição estratégica que permite conectar-se com 40% da população mundial com voo de algumas horas. A ideia consiste em sobrepor as funções da cidade verticalmente (para cima e para baixo) ao mesmo tempo que permite o movimento transversal.

Um dos objetivos é que cada morador possa executar suas necessidades diárias com uma caminhada de cinco minutos. Pois, o sistema de transporte público será um trem de alta velocidade que levará apenas vinte minutos para atravessar de uma ponta à outra. Essa vantagem também reduzirá a pegada ambiental, devido a não utilização de carro, principalmente nas atividades do dia a dia.

O conceito de cidade linear vem sendo pensado desde o início do século XX, mas é a primeira vez que seus detalhes estão sendo amplamente apresentados.

Para que os moradores possam fazer mais do que caminhar de uma ponta à outra, os planos incluem também um estádio e uma marina. A metrópole será considerada como cidade do futuro e tende abrir novos caminhos mostrando soluções urbanas que vão além do padrão convencional. Essa estrutura provém de uma ambição ainda maior - o NEOM - um projeto bilionário.

Quais os principais questionamentos acerca desse projeto?

O principal desafio da The Line - além do prazo, tamanho e característica - implica na disposição de quanto os cidadãos estão querendo viver em comunidades tão concentradas assim, com uma densidade populacional tão alta, principalmente após as lições deixadas pela COVID-19.

Outras questões que envolvem esse projeto e devem ser pensadas com cautela: O que aconteceria com a população residente atualmente nesta região? Como será lidar com a falta de luz natural para os habitantes? Como isso afetará a migração dos pássaros? E o fluxo das águas subterrâneas? Com relação aos investimentos, os promotores conseguirão a verba necessária?

A abordagem foi iniciada pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, no início de 2021. Atualmente são apenas ideias, mas já permitem compreender melhor a filosofia e abordagem urbana, apresentando seu design e dados detalhados. Esse conceito de cidade linear não é novo: Arturo Soria y Mata, urbanista espanhol do início do século XX, levantou algumas ideias sobre a nucleação linear. Em 1960, Peter Eisenman e Michael Graves, deram continuidade ao agrupamento de regiões urbanas em um único artefato.

Também tiveram Rem Koolhaas, depois de analisar o muro de Berlim, e Alan Boutwell e Mike Mitchell com a ideia de uma cidade contínua para um milhão de seres humanos. Todos esses projetos com propostas radicais e, muitas vezes, fictícias trazem consigo inovações e críticas. Tais como: “por que não aprimorar as cidades já existentes?” “isso seria um primeiro passo para implementar novas tecnologias nas cidades atuais?”