Ressaca atinge grande parte do litoral leste do Brasil

Desde o fim de semana, o litoral leste do Brasil tem sofrido com ressacas severas, resultado de intensas ondas causadas pela passagem de um ciclone e permanência de um anticiclone, somadas à maré-alta. O alerta de agitação marítima e ressaca continua até sexta para a costa leste do Nordeste.

O evento severo de ressaca afetou boa parte da costa leste do Brasil, de São Paulo a Rio Grande do Norte.

O fim de semana e começo desta semana foram marcado por intensas ressacas que afetaram quase todo litoral leste do Brasil. Do estado de São Paulo ao Rio Grande de Norte, este grande evento de agitação marítima surpreende, por sua abrangência e intensidade. Esse evento severo está associado às ondas intensas geradas pela combinação de um ciclone extratropical e um anticiclone polar, somadas à maré-alta.

O alerta dado pela Diretoria de Hidrografia Naval da Marinha do Brasil (DHN), dia 16 (terça-feira), já previa agitação marítima na faixa litorânea do estado de São Paulo ao Espírito Santo, até 21 (sábado). A passagem do ciclone extratropical causou agitação marítima nos primeiros dias, mas conforme se deslocava para nordeste, um sistema com circulação anticiclônica (anti-horária no Hemisfério Sul) se fortalecia no setor sul/sudoeste. A persistência deste anticiclone à sudoeste do ciclone intensificou os ventos em direção à costa brasileira e, consequentemente, a agitação marítima no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia.

Houve muita destruição, acidentes e uma morte registrada até o momento, na Bahia. Em todo litoral afetado teve relatos de acidentes com banhistas e surfistas. No Rio, teve surf na Baía de Guanabara, na chamada onda da Laje da Besta, que é considerada rara e fez a alegria dos surfistas. As maiores ondas chegaram a 4 m de altura significativa em alto-mar, na região de Cabo-Frio (RJ).

O alerta de agitação marítima é mantido para o litoral leste do Nordeste, da Bahia ao Rio Grande do Norte, até sexta-feira (26). Apesar disso, conforme o sistema anticiclônico se desloca para leste, a intensidade das ondas deve diminuir, sendo previstas alturas de 2,5 a 3,0 m.

Da onde vem a Ressaca?

As ondas que vemos chegar ao litoral são ondas geradas pelo vento, que se propagam na superfície do mar. Antes de chegar à costa, elas são geradas em regiões com ventos intensos associados à sistemas atmosféricos como ciclones ou anticiclones. A intensidade da onda, normalmente medida em função de sua altura (altura significativa), está relacionada com a quantidade de energia que ela recebeu da atmosfera através do vento. Basicamente, três fatores controlam a intensidade da onda:

  • pista: o tamanho da região de atuação do vento;
  • persistência: o tempo em que o vento sopra nessa região de forma constante em uma direção preferencial;
  • intensidade: o quão forte é vento.

As ondas geradas na pista, em alto mar, se propagam de acordo com a direção do vento que as geraram. Isso significa que, um ponto da costa brasileira pode receber ondas geradas por um sistema no meio do Atlântico Sul, mesmo que ele não esteja atuando diretamente naquele ponto do litoral. No entanto, a onda perde energia conforme sua propagação, isto é, quanto longe do ciclone/anticiclone, menos intensas serão as ondas recebidas daquele sistema.

Eventos de ressacas severas ocorrem geralmente quando uma intensa agitação marítima é combinada a outros fatores que contribuem para o aumento do nível do mar na região costeira, como maré alta ou maré meteorológica positiva - quando há empilhamento de água na costa devido a ação contínua do vento pelo efeito da rotação da Terra (transporte de Ekman).

As ressacas observadas no litoral sudeste e nordeste do país nesses dias são resultado da agitação marítima gerada pela ação conjunta dos ciclone e anticiclone que propiciaram os três fatores para geração de ondas intensas: ventos intensos, pista grande e permanência dos ventos em uma direção. Porém, além disso, houve a contribuição da maré alta durante o período, o que permite um maior avanço das ondas na linha de costa devido ao aumento do nível do mar.