Seca na primavera: produtores de café conilon enfrentam perdas na produtividade no estado do Espírito Santo

A chuva ficou abaixo da média durante a primavera em todo o estado do Espírito Santo e gerou perdas na produtividade do café conilon para 2024. Até sistemas de irrigação tem restrição para uso da água.

café
Café conilon já registrada perdas de produtividade para 2024 devido à falta de chuvas e calor intenso no Espírito Santo.

A última vez que a chuva ficou acima da média climatológica no estado do Espírito Santo foi em agosto de 2023. De lá para cá a chuva se tornou cada vez mais escassa, irregular e menos intensa quanto ao volume registrado. O clima predominantemente seco nesta última primavera gerou preocupações nas cidades devido a queda no nível de rios e reservatórios e também no campo, gerou atrasos nos cultivos e prejuízos para muitos produtores.

O café conilon que é cultivado no Espírito Santo pode registrar uma perda de 15% a 25% sobre a produção da safra 2023/24 justamente por conta do clima adverso que foi composto por falta de chuva, redução da água disponível no solo e temperaturas extremamente elevadas. Vale ressaltar que o Espírito Santo é o maior produtor de café conilon no Brasil e que o prejuízo pode ser bem alto.

Segundo a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel, as condições atuais das lavouras de café conilon no norte e noroeste do estado já são propícias para uma queda significativa na produtividade para 2024.

Além da falta de chuva no café, o engenheiro agrônomo Perseu Fernando Perdoná, avaliou que as altas temperaturas durante a primavera de 2023, geradas pelas intensas e frequentes ondas de calor, também foram fundamentais para este cenário de prejuízos e quebra de safra do conilon, isto porque os cafeeiros estão em fase de expansão de fruto, o que torna os grãos de café em formação bem mais vulneráveis a essas altas temperaturas.

Situação hídrica no Espírito Santo

Com chuvas abaixo da média desde setembro de 2023, lavouras tem sido afetadas de maneira negativa, o que fez com que a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Espírito Santo (FAES) acompanhasse com atenção e até preocupação esses impactos causados pela escassez hídrica. Aliás, recentemente, a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) decretou estado de alerta sobre a restrição hídrica no Espírito Santo.

agua solo
O mapa mostra a restrição hídrica em boaparte do país devido ao El Niño. Grande parte das lavouras, inclusive as do Espírito Santo, enfrenta falta de água no solo para um bom desenvolvimento. Fonte: wxmaps.org

Como a situação foi ainda mais agravada pelas altas temperaturas registradas durante a primavera, foi necessário que a Agerh apresentasse medidas restritivas e de recomendação sobre o uso da água no Espírito Santo, isso para diversos setores que usufruem do recurso natural. A resolução Agerh N°003, de 07 de dezembro de 2023, publicada no Diário Oficial do Estado, ressalta que os produtores rurais devem realizar atividades de irrigação nas lavouras à noite, além de ampliar o uso racional da água para a redução do consumo.

Apesar das limitações e das recomendações sobre o uso do recurso natural, os agricultores contam com algumas regalias. A exceção em cima da resolução Agerh N°003 fala sobre captações em cursos de água superficiais que são destinadas naturalmente à irrigação localizada de olericulturas, que no caso ficam limitadas a uma área de dois hectares por propriedade. Também tem exceção em cima de cultivos em estufas com sistema de irrigação por microaspersões ou irrigação localizada. O uso da água também fica liberado em caso de cultivo hidropônico e viveiros para produção de mudas.

Outro ponto bastante relevante nessa resolução Agerh N°003 é sobre a recomendação feita as Instituições de Fomento e de Crédito Agrícola para que as mesmas suspendam de forma imediata e por período indeterminado ainda, as operações que ajudam os agricultores a fazerem novas implantações de sistemas de irrigação ou a ampliação do que já existe dentro de suas propriedades, ou seja, por conta da escassez hídrica, é necessário que esse tipo de sistema de irrigação não cresça no estado por enquanto, é uma forma de reduzir o uso da água na agricultura.

Instituições de Fomento e de Crédito Agrícola só podem financiar projetos em que os sistemas de irrigação já existentes serão trocados para sistemas mais eficientes e que possibilitem a redução do uso de água na agricultura.

Por um lado até faz sentido que não aumente novos sistemas de irrigação, mas por outro lado, o produtor se vê sem saída, porque não pode irrigar demais pela falta de chuva, mas também não chove para que a umidade aconteça de forma natural nas plantas, ou seja, as lavouras estão morrendo e as perdas de produtividade para 2024 ainda devem aumentar.

Prejuízos em outras lavouras

Os últimos dias da primavera tem sido marcados pelas chuvas com forte intensidade sobre o Espírito Santo. Nesta semana, com a formação de dois vórtices ciclônicos em níveis médios e altos da atmosfera, núcleos intensos de chuva se formaram sobre a faixa leste do Sudeste. A chuva ocorreu de maneira expressiva sobre o Espírtito Santo, o que apesar do alívio para a reposição hídrica do solo, estragos foram registrados em lavouras.

Segundo o INMET, choveu quase 57 milímetros nas últimas 48 horas em Marilândia, no Espírito Santo. Em Vitória choveu mais de 49 milímetros nas útimas 72 horas.

A cidade de Pinheiros, no norte capixaba, foi atingida por um forte temporal que causou estragos na última terça-feira(19). Cerca de 40% da área rural da cidade foi atingida, gerando sérios prejuízos aos produtores. A chuva acompanhada por vendaval, granizo e raios durou cerca de 20 minutos, o suficiente para destruir completamente lavouras de mamão. O proprietário e agricultor Arthur Orletti Sanders, relata que a perda no mamoeiro chega a três mil toneladas.

Além das plantações de mamão em Pinheiros, seringueiras e outras árvores nativas e muitas outras culturas, também foram atingidas pela chuva forte, mas os estragos foram gerados em um proporção menor. Casas e galpões ficaram destelhados e houve interdição de estradas por conta da queda de árvores que caíram com os ventos fortes.

Chuva de volta ao Espírito Santo?

A chuva que voltou a atingir o Espírito Santo no finalzinho da primavera deve persistir também no começo do verão 23/24. A estação começa nesta sexta-feira (22) e a previsão é de chuvas sobre o Sudeste devido ao avanço de uma frente fria e o suporte de outras instabilidades em níveis mais altos da atmosfera.

Até a próxima terça-feira (26) são esperados mais de 100 milímetros de precipitação em diversos pontos do estado capixaba, assim como também tem previsão de chuvas expressivas nos outros estados do Sudeste. São Paulo e Rio de Janeiro podem registrar transtornos como o Espírito Santo, há riscos de alagamentos devido ao alto volume previsto. Porém, o maior alerta deste período de Natal no Sudeste vai para Minas Gerais, em que o volume de chuva pode chegar a casa dos 150 milímetros nos próximos dias.

Vale ressaltar que essa chuva volumosa dos próximos dias pode ser benéfica no Espírito Santo para que aconteça a reposição natural da umidade no solo, sem que seja feita a irrigação. Porém, apesar dos altos volumes ajudarem no desenvolvimento das lavouras, o risco para temporais com ventos fortes, raios e queda de granizo também é alto, e isso pode aumentar ainda mais os danos e prejuízos em algumas lavouras do estado como aconteceu recentemente em Pinheiros.

Referência da notícia: Conexão Safra - Faes divulga nota sobre situação hídrica do Espírito Santo