Probabilidade de 60% para La Niña: o que de fato isso representa?

O instituto de clima da Universidade de Columbia, o IRI, na sua última atualização sobre as condições do Pacífico Equatorial aumento a chance de ocorrência do fenômeno La Niña para 60%. Mas o que essa probabilidade representa. Haverá La Niña ou não?

La Niña 2020
A probabilidade de ocorrência de La Niña subiu consideravelmente para 60% com tendência de aumento. O que isso representa de fato?

A temperatura das águas superficiais do Pacífico Equatorial sempre são motivo de discussão e de análise, não por menos, uma vez que a sua condição térmica é responsável em determinar uma média climática de boa parte do globo, através dos fenômenos El Niño e La Niña.

Desde o início do ano, alguns modelos climáticos apontavam a possibilidade da ocorrência de um La Niña de fraca intensidade, no entanto, outros já mostravam uma condição mais neutra e, até mesmo, ligeiramente aquecida para a região Niño3.4, a mais central e também a mais influente do Pacífico Equatorial.

Por volta do mês Abril, iniciou-se um resfriamento mais intenso seguido de um período de pouca variação até Julho. A partir deste último mês, as águas voltaram a resfriar a uma taxa semelhante ao que foi observado em Abril, até o momento. Na última atualização a anomalia de temperatura da superfície do mar (TSM) do Niño 3.4 está em -0,9°C, com previsão de se intensificar.

No entanto, esse resfriamento ainda não exerce influência sobre o Brasil, somente em regiões mais próximas, uma vez que para afetar a circulação global, circulação de Hadley-Walker, são necessários em torno de 3 meses consecutivos de uma condição abaixo de -0,5°C. Já para fins de classificação do fenômeno são necessários 7 meses consecutivos.

Qual o fator responsável pelo resfriamento?

Um dos fatores que ajudam no aquecimento ou resfriamento do Pacífico Equatorial são as correntes oceânicas, que algumas acabam por convergir para a porção central do oceano. Estamos falando da Corrente da Califórnia, na costa oeste dos EUA, e de Humboldt, na costa oeste da América do Sul.

Como há um deslocamento em relação às Américas, sendo a América do Norte mais para oeste e a América do Sul mais para leste, cada corrente acaba contribuindo diferentemente para cada região do Pacífico Equatorial. A corrente de Humboldt, na média, é mais influente para as regiões Niño 3 e Niño 3.4, e até mesmo para o Niña 1+2, enquanto que a da Califórnia favorece a porção mais oeste do Niño 3.4 e leste do Niño 4.

Assim, com um Pacífico Sul mais frio, o resfriamento das regiões Niño 3.4 e Niño 3 é favorecido, no entanto, a Corrente da Califórnia pode atrapalhar futuramente a manutenção do fenômeno. Além disso, o próprio Pacífico Sul possui uma tendência de aquecimento reforçando o enfraquecimento do La Niña no próximo ano.

Vale ressaltar que o aquecimento na região mais a oeste do Oceano Pacífico se dá, principalmente, pelo enfraquecimento dos ventos alísios fazendo com que a água da superfície se aqueça e se desloque para oeste, uma vez que, mesmo mais fraco, os ventos de sentido leste-oeste continuam atuando. Quando são mais intensos do que a média, podem resfriar a superfície provocando o efeito inverso.

O que está por trás da probabilidade de 60%?

A previsão probabilística para ENOS do Internacional Research Institute for Climate and Society (IRI) é baseada na previsão de 18 modelos dinâmicos e de 8 modelos estatísticos. Mas será que todos os modelos representam um cenário real provável que respeita as premissas condicionadas pelos fatores atuais de resfriamento do Pacífico Equatorial discutidos no item anterior?

Através da discussão anterior sobre as condições atuais e as que influenciaram o resfriamento do Niño 3.4, não estão correspondendo às premissas proporcionadas pelo transporte das correntes de marítimas, mostrando uma tendência de aquecimento até o final do ano. Esses modelos acabam por “contaminar” o resultado, forçando uma probabilidade menor para La Niña.

Assim, ao desconsiderar esses modelos com tendências duvidosas, a probabilidade para a ocorrência do fenômeno La Niña subiria consideravelmente, já que todos os outros modelos simulam um cenário de anomalias abaixo de -0,5°C.

É de extrema importância estabelecer premissas reais e efetuar na sequência o julgamento devido dos modelos climáticos, tanto para condições oceânicas quanto para atmosféricas, para que o erro da previsão climática seja reduzido. Ter acesso a mais modelos não significa ter melhor resultado, e sim saber julgar te levará a uma melhor tendência climática.