Passado e futuro juntos: técnicas milenares e inteligência artificial para estudar as tempestades de areia

As tempestades de areia podem deixar muitos estragos a depender de sua intensidade e região, e para mitigar esses efeitos negativos, novos estudos reúnem passado e futuro. Entenda como isso funciona.

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Uma imensa tempestade de areia avançando. O fenômeno é natural, mas tem sido influenciado pela ação humana.

Você certamente já ouviu falar sobre muitas técnicas milenares que por sua grandiosidade em resultados ainda são utilizadas nos dias de hoje, podem até ter mudado de nome conforme foram passando de civilização para civilização nos últimos milênios, mas muitas ainda são utilizadas. O mais intrigante é que novos estudos estão apostando na junção de técnicas milenares e o futuro conhecido como inteligência artificial (IA).

Uma nova aposta agora de cientistas é o uso combinado de métodos modernizados com conhecimentos de 3 mil anos atrás, como a junção entre a IA e a técnica de construção de canates, um sistema de irrigação muito antigo desenvolvido pelos persas, e essa aposta tem um grande peso, pois é uma forma de mitigar os danos provocados pelas tempestades de areia, comuns no norte da África e no Oriente Médio.

Anualmente é computado um total de cerca de 13 bilhões de dólares quanto aos prejuízos deixados por tempestades de areia nas regiões analisadas no estudo.

Como diversos outros temas e fenômenos já debatidos que foram comprovados uma piora tanto em frequência como em intensidade, as tempestades de areia também entram nessa faixa de eventos naturais, mas que estão sendo agravados pelas atividades humanas. Vale ressaltar que o impacto negativo e agravamento do problema tem como responsáveis diversos setores como a agricultura, a saúde de pessoas, a saúde de animais, além é claro, da infraestrutura das cidades.

As tempestades de areia

Tanto na África como no Oriente Médio, as chamadas tempestades de areia ou de poeira têm como ponto de partida os desertos e outras áreas secas que ao se depararem com ventos mais fortes, suas partículas são carregadas em uma enorme quantidade, o que até então era considerado normal como fenômeno da natureza, especialmente no verão.

Porém, esses eventos têm acontecido com cada vez mais frequência e intensidade devido às mudanças climáticas e outros fatores influenciados pelo homem como por exemplo a má gestão de recursos hídricos, o abandono de terras agrícolas e até mesmo as guerras.

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O uso combinado de técnicas milenares e a IA para mitigar os estragos das tempestades de areia.

Como forma de mitigar os efeitos negativos das tempestades de areia ou poeira, o pesquisador e professor da Universidade de Lund na Suécia, Hossein Hashemi, disse "devemos olhar para estas questões a partir de uma análise multidisciplinar, adicionando os aspectos sociopolíticos, econômicos e de gestão aos fatos técnicos e científicos. Há muito o que aprender das práticas tradicionais que naturalmente se adaptam aos ecossistemas e usam métodos sustentáveis."

Durante o estudo, a equipe de pesquisadores do time de Hashemi conseguiu mapear a região usando imagens de satélite e ao usarem métodos de IA fizeram uma análise sobre a relação entre as tempestades de areia e diversos outros indicadores, o que permitiu levantar algumas possíveis causas e até efeitos provenientes das ocorrências cada vez mais crescentes.

Passado e futuro unidos em estudo

Na tentativa de mitigar os danos causados pelas tempestades de areia, pesquisadores tiveram a ideia de juntar métodos milenares como os canates desenvolvidos pelos persas há mais de 3 mil anos e a inteligência artificial (IA), mas como isso seria possível e qual a sua finalidade?

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Ilustração de um sistema de canate ou qanat. Um canal transporta água pelo subterrâneo até um ponto na superfície. No caminho, diversos poços permitem acesso ao recurso, além de servirem de entrada para manutenções (Imagem: Amada44/Wikimedia Commons)

Depois de muitas análises e possibilidades levantadas para o enfrentamento das tempestades de areia da melhor forma possível para mitigar os danos provocados, os cientistas chegaram a seguinte solução: utilizar os canates que foram inventados há mais de três milênios, mas para isso ser possível e viável, fizeram algumas simulações através de IA de obras e intervenções na região afetada pelas tempestades.

Por seu grande benefício há milênios atrás, a UNESCO considera hoje que essa técnica de canates é um patrimônio da humanidade, e que ainda pode ser usado.

Mas afinal, o que são esses canates e como eles funcionam? Bom, essa invenção nada atual consiste em uma rede subterrânea constituída por canais que podem ser acessados através de poços na superfície. Os canais podem ser feitos com vários quilômetros e foram responsáveis pela prosperidade em ambientes áridos no Oriente Médio e no norte da África há mais de três mil anos atrás.

Por fim, "soluções baseadas na natureza podem aumentar o fornecimento de água local. Usar sistemas como os canates permite que haja menos impacto nas fontes de água na superfície. Estudos mostram que áreas secas de lagos, como os de Urmia e Therthat, são grandes fontes das tempestades de areia no Oriente Médio", disse o pesquisador Hossein Hashemi.