Oceanos estão mais quentes do que nunca! O que isso implica para o clima?

As temperaturas oceânicas já bateram recordes, mesmo antes da formação do El Niño! Se um El Niño realmente se formar em 2023, as temperaturas globais poderão ultrapassar o temido limiar de +1.5°C, o que irá gerar consequências irreversíveis para o clima do planeta.

Recorde temperatura dos oceanos
Os últimos registros de anomalias de temperatura da superfície do mar mostram que praticamente todos os oceanos globais estão mais quentes que o normal. Imagem: Climate Reanalyzer/ NOAA.

Nos últimos dias tem sido observado um forte aquecimento das temperaturas da superfície do mar (TSM) por todos os oceanos do mundo, isso fica bem evidente quando observamos os mapas de anomalias globais de TSM, onde nota-se um predomínio de anomalias positivas de TSM - desvios positivos em relação à média climatológica - em grande parte das bacias oceânicas do planeta.

A temperatura média dos oceanos do planeta superou a marca dos 21°C, um valor nunca atingido antes, desde o início dos registros em 1981!

Em algumas regiões esse aquecimento ocorreu de forma muita rápida e intensa, pegando os climatologistas de surpresa, como no Pacífico Tropical Leste, onde logo após a dissipação da La Niña, desenvolveu-se um El Niño Costeiro, com anomalias de TSM superando os +2°C. Essas anomalias intensas já têm sido responsáveis por eventos extremos de chuva em partes do Peru e Equador.

O último mapa global de anomalia de Temperatura de Superfície do Mar (TSM) do dia 05 de abril de 2023 mostra o prodomínio de anomalias quentes pelos oceanos. Imagem: Climate Reanalyzer/ NOAA.

Nesta quarta-feira (05), o valor médio da temperatura global dos oceanos foi de 21.1°C, muito acima da média climatológica e acima de qualquer outro registro histórico. O que mais surpreendeu os climatologistas é que esse valor superou o registrado nesse mesmo período no ano do Super El Niño de 2016, que até então sustentava o recorde absoluto de temperatura. Lembrando que em 2016 já havia um El Niño estabelecido nesse período, que havia passado de seu pico de aquecimento máximo, e agora vivemos uma situação quase oposta, onde uma La Niña acabou de terminar e a poucos meses passamos pelo seu pico de resfriamento máximo.

Isso nos faz pensar: como ficarão as temperaturas se um El Niño realmente se formar nesse ano? Essas são as principais perguntas que passam nas cabeças dos pesquisadores climáticos e geram preocupações. Sabemos que o El Niño, é um padrão climático caracterizado por um aquecimento das TSMs em grande parte do Pacífico Tropical, portanto, sua formação implicaria num aumento ainda maior da temperatura média dos oceanos!

Temperaturas médias globais diárias da superfície do mar desde 1981 a 2023. O ano de 2023 é destacado como a linha preta grossa. Fonte: Climate Reanalyzer/ NOAA.

Além disso, alguns modelos climáticos ainda apontam que o El Niño deste ano poderá ser de intensidade moderada a forte durante seu ápice, podendo registrar anomalias médias de +1.5°C a 2°C entre novembro e dezembro de 2023. Algumas projeções dos modelos climáticos do ECMWF colocam as anomalias da região do Niño 3.4 superando 2°C, o que classificaria o evento como Super El Niño!

Com o oceano muito quente, como responderá a atmosfera?

Durante os anos de El Niño, a temperatura média do planeta tende a aumentar, não só no oceano, mas também a temperatura atmosférica. Isso porque o Pacífico Tropical, sendo a maior bacia oceânica do planeta, libera parte de seu calor excedente para a atmosfera, o que faz então que sua temperatura também aumente.

Portanto, se um El Niño de intensidade mais forte se formar nesse ano, com as demais bacias oceânicas também mais aquecidas, espera-se que a temperatura média global aumente mais e inclusive possa bater um novo recorde! Espera-se inclusive que a anomalia da temperatura do planeta possa alcançar ou até mesmo ultrapassar o temido limiar de +1.5°C, tão falado nos relatórios do IPCC e no Acordo de Paris.

Com esse calor excedente nos oceanos e o estabelecimento do El Niño, podemos esperar mais eventos extremos climáticos pelo mundo! Secas severas, chuvas volumosas, ondas de calor, tempestades intensas, grandes incêndios florestais, ciclones tropicais, todos esses eventos poderão ser potencializados.

Além dos extremos, partes do ecossistema da Terra poderão ser prejudicadas de forma irreversível! Como os recifes de corais, que quando ficam em águas muito quentes, sofrem o processo de branqueamento, que pode enfraquecê-los e levá-los à morte. O derretimento das geleiras em partes do Ártico e Antártica também pode ser acelerado, levando a novos recordes de extensão mínima de gelo!