Março: alta temporada de ciclones subtropicais no Atlântico Sul

Março é um mês propício para o desenvolvimento de ciclones subtropicais. Como eles podem provocar tempo severo nas regiões costeiras do Brasil, os meteorologistas monitoram certos padrões atmosféricos que possam resultar nestes sistemas ao longo da temporada.

Ventos fortes e inundações na passagem de ciclones ao longo da costa.
A passagem de ciclones em regiões costeiras gera muitos impactos.

Apesar da bacia do Atlântico Sul ter um histórico de ciclones subtropicais, a compreensão acerca desses sistemas é relativamente recente. Um estudo publicado em 2014 foi um dos pioneiros em mostrar a climatologia e as características dos ciclones subtropicais. Conhecer a época em que eles se formam e suas particularidades, é uma informação valiosa aos previsores no Brasil, uma vez que se trata de um fenômeno com potencial para tempo severo.

De acordo com o estudo de 2014, o verão é a estação mais ativa para o desenvolvimento dos ciclones subtropicais, também chamado de ciclones híbridos. Os dois bancos de dados de reanálise utilizados pelos autores, revelam que a costa da região sudeste do Brasil é a área preferencial para gênese dos sistemas no período chuvoso, mas ocorrências no outono também são comuns. “No outono, fluxos turbulentos mais intensos locais e um cisalhamento vertical mais fraco promove o ambiente mais “tropical” de todas as estações”, diz os autores.

Astronomicamente ainda é verão, mas no calendário meteorológico já estamos na transição para o outono, o que mantem os meteorologistas atentos para certas configurações atmosféricas favoráveis aos sistemas híbridos. Na última terça-feira (3), um ciclone subtropical se formou na costa da região sudeste e se afastou rapidamente do continente, livrando a costa brasileira de qualquer possível ameaça severa. Isso explica o motivo pelo qual a Marinha do Brasil não nomeou o ciclone.

O último sistema híbrido nomeado no Atlântico Sul pela Marinha foi a tempestade subtropical Kurumí em janeiro deste ano. A lista de nomes da Marinha do Brasil contém nomes em Tupi Guarani em ordem alfabética, que serão utilizados para sistemas tropicais e subtropicais significativos que venham a se formar no Atlântico Sul, sobretudo dentro das áreas marítimas de responsabilidade do Brasil.

Dentre os padrões atmosféricos importantes para a ciclogênese subtropical, está o que apresenta um bloqueio dipolo de nível superior, conforme mostra o estudo de 2014. O bloqueio é caracterizado por uma baixa de nível superior segregada ao norte pelo jato subtropical, enquanto uma crista na corrente de jato se localiza ao sul. A bifurcação dos fortes ventos associados aos jatos reduz o cisalhamento vertical nas regiões centrais do bloqueio, tornando o ambiente mais barotrópico (parecido com o trópico).

Nestas condições, a perturbação de nível superior segregada e bloqueada ao norte induz um ciclone em superfície. O sistema ganha energia na medida em que a convecção é reforçada pela instabilidade termodinâmica. O perfil vertical se torna muito instável pela presença de ar frio e mais seco em níveis superiores, enquanto a coluna atmosférica é aquecida e umedecida por baixo.

A configuração mencionada acima forma o ciclone de cima para baixo, mas em outros casos o processo pode ser inverso, assim como foi com a tempestade tropical Iba no fim de março de 2019. O Iba apresentou mais características tropicais, sendo gerado em condições de alto cisalhamento horizontal do vento em superfície ao longo de um cavado posicionado sobre águas quentes no Atlântico. Altas doses de vorticidade ciclônica em baixos níveis aliada a trovoadas e ao baixo cisalhamento vertical do vento explicam o desenvolvimento do sistema. Para saber mais a diferença entre os tipos de ciclones existentes clique aqui.

Neste fim de verão e início de outono, os meteorologistas monitoram as configurações que podem resultar em sistemas com potencial para problemas ao país, já que a temporada de ciclones subtropicais está em vigor.