Dieta mediterrânea pode reduzir o risco genético de Alzheimer, dizem cientistas de Harvard

Novo estudo de pesquisadores de Harvard revela que seguir hábitos alimentares mediterrâneos pode retardar o declínio cognitivo e reduzir a probabilidade de demência, mesmo em pessoas com predisposição hereditária.

Seguir uma dieta mediterrânea pode ajudar a reduzir o risco de Alzheimer e retardar o declínio cognitivo, mesmo em pessoas com alta predisposição genética.

Pesquisadores da Universidade de Harvard e de outras instituições descobriram que certos hábitos alimentares podem fazer a diferença contra o declínio mental relacionado à idade. De acordo com os dados, a dieta mediterrânea, rica em vegetais, frutas, grãos integrais, leguminosas, nozes e muito pouca carne processada, pode ter um efeito protetor contra a demência.

A dieta mediterrânea, reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, é baseada principalmente em azeite de oliva extravirgem e uma rica ingestão de cereais, vegetais, peixes, ovos e laticínios.

A análise, publicada na revista Nature Medicine e conduzida por equipes do Mass General Brigham, da Escola Harvard T.H. Chan School e do Instituto Broad, mostra que esse padrão alimentar está associado a uma menor incidência de demência, especialmente em pessoas com maior risco hereditário.

A chave parece estar em como certos nutrientes influenciam as vias metabólicas que afetam a saúde do cérebro. Isso abre caminho para novas estratégias alimentares para compensar fatores genéticos difíceis de modificar.

O que exatamente a pesquisa descobriu?

O estudo examinou dados de mais de 5.700 participantes, incluindo profissionais de saúde, acompanhados ao longo de várias décadas. Os pesquisadores compararam hábitos alimentares com informações genéticas e resultados de testes cognitivos periódicos.

A conclusão foi clara: aqueles que seguiram consistentemente a dieta mediterrânea apresentaram declínio mental mais lento e menos casos de demência do que aqueles que se desviaram desse padrão. Esse efeito foi ainda mais evidente entre pessoas com duas cópias do gene APOE4, conhecido por aumentar significativamente a probabilidade de desenvolver Alzheimer.

"Queríamos estudar a dieta mediterrânea porque é o único padrão alimentar que demonstrou benefícios cognitivos causais em ensaios clínicos randomizados", explicou Yuxi Liu, principal autora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado na Harvard Chan School of Medicine.

As análises incluíram questionários detalhados sobre ingestão alimentar e exames de sangue para avaliar metabólitos, pequenas moléculas que refletem como o corpo processa nutrientes e mantém seu equilíbrio funcional.

O papel da genética e por que nem tudo está escrito

Embora a hereditariedade possa ser responsável por até 80% do risco de Alzheimer, isso não significa que seu destino esteja selado. O gene APOE4 é o fator mais influente no Alzheimer esporádico, e carregar duas cópias pode aumentar o risco em até doze vezes.

A dieta mediterrânea, rica em frutas, vegetais e azeite de oliva, pode ser fundamental para proteger a memória e reduzir o risco de Alzheimer.

No entanto, os resultados mostram que as decisões sobre o que comer têm um impacto real. Ajustar a dieta pode atenuar essa predisposição, o que é especialmente importante para aqueles que desconhecem seu perfil genético e para a população em geral. Essas descobertas sugerem que estratégias alimentares podem ajudar a reduzir o risco de declínio cognitivo e retardar o início da demência, influenciando amplamente as principais vias metabólicas.

A equipe do estudo também reconhece limitações: a amostra consistiu principalmente de pessoas de ascendência europeia e altos níveis educacionais, o que exige verificar se os resultados são replicados em outros grupos populacionais.

O que vem depois?

Pesquisadores acreditam ser necessário integrar os avanços da genética e da metabolômica à prática clínica. Atualmente, a maioria das pessoas não sabe se é portadora do gene APOE4, e os modelos médicos padrão ainda não incorporam esse tipo de análise.

“Também queríamos verificar se esse benefício variava de acordo com a composição genética e analisar o papel dos metabólitos sanguíneos, pequenas moléculas que refletem como o corpo processa os alimentos e mantém suas funções normais”, afirma a equipe de pesquisa.

No futuro, planos alimentares personalizados ou intervenções direcionadas a metabólitos específicos poderão ser elaborados para fortalecer a proteção contra a demência. Embora a ciência esteja avançando, o que já está claro é que uma dieta mediterrânea pode ser uma aliada importante para a saúde cognitiva.

O estudo foi parcialmente financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, reforçando a robustez de seus dados e o interesse em encontrar estratégias eficazes para reduzir o impacto do Alzheimer em uma população cada vez mais envelhecida.