Compromisso climático das grandes empresas é falso, aponta estudo

Pesquisa com 25 empresas de alto perfil indica que as promessas para mitigar a crise climática, em essência, não estão sendo levadas a sério nem surtindo efeito. É necessária uma avaliação urgente.

Medidas prometidas para mitigar a crise climática, em essência, não surtirão nenhum resultado, o que expõe uma vergonhosa falta de empenho do setor. (imagem: Manuel Sechi)

Ano passado, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, as empresas mais poderosas do mundo se juntaram aos seus governos no compromisso de reduzir suas emissões de carbono a zero.

A atitude venerável, no entanto, foi uma mentira. Esta é a conclusão de um estudo publicado recentemente na Nature, onde uma análise de documentos e relatórios corporativos mostrou que essas empresas ainda não estão tentando mudar nada em sua conduta.

Para começo de conversa, apenas 3 das 25 empresas analisadas - A Maersk, a Vodafone e a Deutsche Telekom - se comprometeram claramente com a redução de emissões de poluentes. Doze das empresas não chegaram nem a fornecer detalhes claros sobre seus compromissos ou planos.

Os impactos da falta de comprometimento climático empresarial

A gigante brasileira JBS, por exemplo, se comprometeu a garantir que suas operações de carne bovina não contribuam para o desmatamento. No entanto, em seus documentos, a empresa relata apenas as emissões de suas próprias operações e não as de seus fornecedores - o que, na prática, é o mesmo que nada.

O pior cenário possível é péssimo para todos. Meteorologistas alertam que incêndios florestais, secas severas, inundações e outros eventos extremos vão aumentar em gravidade e frequência caso as mudanças climáticas continuem sendo impulsionadas pela emissão de poluentes.

O relatório ressalta também a necessidade de criar um sistema sólido para avaliar e monitorar os compromissos climáticos corporativos, principalmente para promessas de zero líquido - onde empresas e países compensam suas emissões investindo em projetos florestais e de captura de carbono, por exemplo.

Embora já existam iniciativas neste sentido, não há padrões claros para as análises e os resultados ainda são confusos e pouco confiáveis.

A partir deste ano, empresas serão obrigadas a divulgar riscos e oportunidades financeiras decorrentes das mudanças climáticas no Reino Unido. Ainda assim, a maior parte das iniciativas similares ainda não são bem estruturadas.

Por isso, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deve nomear um painel de especialistas nas próximas semanas para elaborar padrões claros de medição e análise do compromisso climático de corporações e outras entidades não nacionais, como cidades e estados.

O objetivo final é criar um ciclo de melhoria contínua e positiva no qual as empresas líderes poderão se envolver, aprender e, finalmente, garantir mudanças transformacionais em toda a economia.

Se as grandes empresas derem o exemplo, todo o resto do mundo irá segui-las. Acompanharemos o desdobramento deste episódio ansiando pelo melhor.