Ave extinta no Brasil renasce a 9 mil km de casa: esperança para a ararinha-azul surge com nascimento inédito na Bélgica
Após cem tentativas frustradas, zoológico europeu celebra nascimento do primeiro filhote de ararinha-azul em cativeiro. Espécie brasileira é símbolo da luta pela conservação ambiental.

O nascimento de um filhote de ararinha-azul no zoológico Pairi Daiza, na Bélgica, no último dia 21 de setembro, marcou um avanço significativo na luta pela conservação da espécie, considerada extinta na natureza desde o início dos anos 2000 no Brasil. A ave, nativa exclusivamente da Caatinga baiana, é um dos símbolos mais emblemáticos da conservação da fauna brasileira e mundial.
A chegada do filhote ocorre após uma longa e delicada tentativa de reprodução. De acordo com o zoológico, foram necessárias 100 tentativas sem sucesso até que o 101º ovo fosse fertilizado. “Após 100 ovos não fertilizados, o 101º deu vida a uma imensa esperança”, celebrou a instituição em suas redes sociais.
O recém-nascido pesa pouco mais de 30 gramas — mais que o dobro do peso registrado no nascimento, quando tinha apenas 13 gramas. Ele está sendo alimentado manualmente a cada duas horas e permanece sob monitoramento constante da equipe técnica do centro de conservação.
Cuidados intensivos e fragilidade nos primeiros dias
Segundo os cuidadores do Pairi Daiza, o estado do filhote ainda inspira muitos cuidados. “Seus primeiros dias permanecem extremamente frágeis: cada cuidado, cada gesto conta para lhe dar todas as chances de sobrevivência”, afirmou a equipe em nota oficial. O cuidado intensivo é fundamental para garantir a saúde do animal durante as primeiras semanas de vida, que são as mais delicadas.

O zoológico integra um programa internacional de conservação da Cyanopsitta spixii, nome científico da ararinha-azul. A iniciativa é coordenada pelo governo brasileiro e conta com o apoio de instituições ao redor do mundo, como o Zoológico de São Paulo, que desde 2023 também atua no manejo e reprodução da espécie em território nacional.
A espécie ganhou notoriedade mundial após inspirar o filme de animação Rio (2011), que retrata a história de uma ararinha-azul domesticada em busca de sua liberdade e de outros de sua espécie. A vida imitou a arte, e o renascimento de um exemplar tão longe de casa reacende a esperança de que a ave possa um dia voltar a viver livre na Caatinga.
Nascimento ocorre em meio a crise sanitária no Brasil
Apesar da boa notícia vinda da Bélgica, o cenário no Brasil é preocupante. Em julho de 2025, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) revelou um surto de circovírus no Refúgio de Vida Silvestre de Curaçá, na Bahia, onde ocorre o projeto de reintrodução da ararinha-azul na natureza.

A doença, conhecida como PBFD, é altamente contagiosa entre psitacídeos e pode ser fatal. Foi o primeiro registro da enfermidade em aves livres no Brasil. Em resposta, o ICMBio recomendou a captura imediata das aves em vida livre, mas a medida foi rejeitada pela Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), criadouro alemão que foi parceiro do governo até 2023.
A ACTP contestou a recomendação e acusou as autoridades brasileiras de já terem repassado aves contaminadas. O embate trouxe tensão ao projeto de reintrodução e aumentou a pressão por soluções rápidas e eficazes para preservar o que resta da espécie.
Um novo fôlego para a ararinha-azul
Mesmo diante das adversidades, o nascimento do filhote em cativeiro representa uma luz no fim do túnel para a ararinha-azul. O sucesso do Pairi Daiza reforça a importância dos esforços internacionais e da cooperação entre instituições para salvar espécies ameaçadas.
A expectativa é que, com o fortalecimento das estratégias de reprodução e conservação, a ararinha-azul possa um dia voltar a cruzar os céus da Caatinga em número significativo. O caminho é longo, mas o primeiro voo dessa nova vida na Bélgica já é um passo decisivo.
Referências da notícia
ND+. Ave extinta no Brasil renasce a 9 mil km: conheça o 1º filhote de ararinha-azul nascido em zoo. 2025