As geleiras nos Alpes estão desaparecendo a um ritmo alarmante

O verão tem sido particularmente severo na Europa, mesmo em locais de maior altitude, que também têm sofrido com o calor e com a falta de precipitação. Saiba mais sobre este assunto aqui.

Geleira Aletsch.
A geleira Aletsch é um dos mais conhecidos do Sul da Suíça, aqui captado numa fase inicial do degelo.

Durante o verão deste ano, as geleira no Alpes Europeus estão a perder a sua massa a um ritmo mais acelerado do que nos últimos 60 anos. Quem o diz são especialistas locais que executam medições precisas ao longo dos anos e que verificaram que ainda durante o mês de agosto, a quantidade de gelo que derreteu nesta época do ano já excede largamente os valores obtidos nas últimas seis décadas, desde que há registos oficiais.

Algumas estações de esqui estão tentando mitigar o degelo cobrindo o que resta com lençóis brancos de forma a que ocorra mais reflexão da energia solar.

Os mesmos especialistas indicam que nem nos piores cenários se imaginava que as geleiras perdessem tamanha quantidade de gelo, tão cedo. Aliás, este tipo de evento, segundo os modelos de estudo, só estava previsto daqui a algumas décadas.

De fato, o problema das geleiras, localizados na cadeia montanhosa que é “partilhada” por França, Suíça, Áustria e Itália, já se arrasta desde o inverno que foi marcado pela pouca quantidade de neve que caiu e pelas temperaturas anormalmente elevadas.

A mesma situação aconteceu já neste verão, onde se podem destacar dois momentos-chave: na cidade de Zermatt, uma cidade montanhosa no Sul da Suíça, os termómetros bateram recordes quando as temperaturas máximas se aproximaram dos 30 °C.

O outro momento está relacionado com o gradiente térmico vertical: foi registada a altitude mais elevada sobre o solo suíço em que os termômetros atingem os 0°C – 5184 metros. O anterior recorde estava fixado nos 5117 metros, tendo sido registado há cerca de 25 anos, sendo que nesta altura do ano, o ponto de congelamento não devia ser superior aos 3500 metros.

Consequência do degelo

O degelo está provocando consequências em um vasto espectro temporal. A curto prazo é possível indicar a descoberta de dois cadáveres e dos destroços de um acidente de aviação. As ossadas humanas foram descobertas durante caminhadas nos trilhos montanhosos, uma junto ao glaciar de Chessjan, no Cantão de Valais e outro no glaciar Stockji, junto a Zermatt, sendo que a polícia está tentando identificar os cadáveres, através de análises ao ADN.

Já os destroços de uma aeronave de pequenas dimensões, supõem-se que estejam relacionados com um acidente que vitimou 3 passageiros no ano de 1968, perto do glaciar Aletsch. Apesar dos corpos terem sido recuperados aquando do acidente, a aeronave nunca chegou a ser resgatada.

Para além destas descobertas, o degelo está colocando em perigo a vida de pessoas. Em julho, o colapso de uma geleira nos Alpes italianos provocou morte de 11 pessoas, sendo que se registaram outros colapsos em outras áreas montanhosas como os Himalaias.

A longo prazo temem-se as consequências econômicas, para as regiões que dependem do turismo de inverno para pagar contas. Algumas estações de esqui estão tentando mitigar o degelo cobrindo o que resta com lençóis brancos de forma a que ocorra mais reflexão da energia solar.

Em último caso, há que considerar a perda total de algumas geleiras, o que do ponto de vista cultural, para os suíços, beira o impensável, já que é como se fosse a identidade, a bandeira do país.