Açudes transbordam, mas ainda há reservatórios em estado crítico no Nordeste. As chuvas vão continuar na região?

Chuvas trazem esperança para a região Nordeste! Açudes transbordam mas ainda há reservatórios com volume crítico na região. O que dizem as previsões climáticas para as próximas semanas?

Açude Úrsula Medeiros
Açudes transbordam na região Nordeste em decorrência das últimas chuvas do carnaval! Porém ainda há reservatórios em situação crítica. Foto: Ismael Medeiros.

O carnaval na região Nordeste do país foi marcado por chuvas que causaram quedas de árvores, acidentes de trânsito e cancelamento de shows. Por outro lado, as recentes precipitações trouxeram um semblante mais otimista aos moradores do Nordeste, que agora enxergam a possibilidade de ver o reservatório se recuperar.

Açudes transbordam após as chuvas recentes no Nordeste

Segundo o Instituto de Gestão de Águas do Rio Grande do Norte (IGARN), responsável pelo monitoramento da segurança hídrica das cidades potiguares, 5 barragens tiveram aumento dos seus volumes de água após as últimas chuvas.

O açude Dourado, localizado em Currais Novos, estava com 140 mil m³ que equivale a 1,36% da sua capacidade total. Agora acumula 280 mil m³, correspondentes a 2,71% da sua capacidade. O nível do reservatório está 24 cm maior após as chuvas desta quinta-feira (15).

Os maiores acumulados de chuva registrados em 24 horas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), foram observados em Campo Redondo, na Borborema Potiguar, com 78,6 mm, superando a média histórica de fevereiro de 69 mm, e em Currais Novos, com 72 mm. Os acumulados correspondem entre a quarta-feira de cinzas e a quinta-feira.

Com um consumo médio de 100 mil m³ de água tratada, a cidade de Currais Novos está na lista de cidades em risco de colapso no abastecimento. Moradores registraram o Açude do Distrito da Cruz transbordando na última quinta-feira (15).

Açudes do estado da Paraíba também receberam recargas hídricas em decorrência das chuvas. De acordo com o levantamento da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), a Barragem da Farinha recebeu entre quarta-feira (14) e quinta-feira (15), um aporte hídrico de 122 mil m³ de água, e se encontra atualmente com 38,13% da sua capacidade total, que antes era de 37,66%.

Mesmo sendo um pequeno aumento, já foi motivo de felicidade para os moradores da cidade de Patos na Paraíba. O Açude do Jatobá também recebeu uma recarga hídrica, embora um pouco menor, ainda segue em situação preocupante na lista de mananciais em estado de observação por parte da AESA, que é quando o volume está abaixo dos 20%. Esta foi a terceira recarga registrada nos mananciais em 2024, porém, ainda de maneira tímida e sem um aumento considerável no volume hídrico.

Mas por outro lado, alguns reservatórios estão em situação crítica!

Mas por outro lado, ainda há muitos reservatórios em observação com menos de 20% da capacidade e em situação crítica, com menos de 5% do volume. Segundo Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR) da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, no estado de Alagoas, dos 22 reservatórios existentes, apenas 1 está com capacidade entre 20% e 40%, o Dois Riachos localizado no Agreste Alagoano.

O estado mais crítico é o da Paraíba, que dos 126 reservatórios existentes, 51 estão com nível abaixo de 20% e 27 estão com volume entre 20% e 40%. Em seguida vem o Ceará, que possui 155 reservatórios e 40 deles estão com volume abaixo de 20%.

Alguns açudes da Paraíba estão totalmente vazios, como: Açude Bastiana em Teixeira, Açude Jeremias em Desterro, Açude Ouro Velho na cidade de mesmo nome, Açude Sabonete também em Teixeira e Açude São José IV em São José do Sabugi. Outros 20 açudes estão com volume abaixo de 5% no estado da Paraíba, a maioria localizada na região da Borborema.

Volume de reservatórios
Volume acumulado dos reservatórios existentes nos estados da região Nordeste. Os estados Maranhão, Sergipe e Alagoas não apresentaram os dados atualizados. Fonte: SAR/ANA

A nível estadual, Pernambuco apresenta o menor volume acumulado com 33,86%, seguido de Ceará com 36,2%, Paraíba com 39,5%, Rio Grande do Norte com 49,5%, Piauí com 51,2% e Bahia com 62,31%. Os estados de Alagoas, Maranhão e Sergipe não apresentaram os dados atualizados para a data de referência desta sexta-feira (16).

Qual a previsão para as próximas semanas?

Estamos observando o enfraquecimento do fenômeno El Niño e o Oceano Pacífico caminhando rumo a uma neutralidade, mesmo que lentamente. As previsões do modelo ECMWF para a precipitação da segunda quinzena de fevereiro e inicio de março indicam condições favoráveis para o centro-norte do país, incluindo a região Nordeste.

Basicamente, o cenário estará favorável para formação de chuvas, principalmente no Nordeste do Brasil, trazendo esperanças para elevar o volume dos reservatórios em estados críticos.

Entre 19 e 26 de fevereiro, a tendência é de predomínio de chuvas acima da média, com chuvas mais volumosas que se concentram na porção central no país, onde a expectativa é de umidade bastante concentrada no Centro-Oeste, Norte, Nordeste e parte do Sudeste. A partir da próxima semana, entre 26 e 04 de março, a tendência é que o cenário mude!

Anomalia de Precipitação
Previsão semanal das anomalias dos acumulados de chuva para as semanas de Fevereiro e Março. Fonte: ECMWF.

As anomalias positivas de precipitação devem se concentrar no extremo norte do Nordeste, principalmente entre os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, associada ao deslocamento mais ao sul da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

Porém, entre 4 e 11 de março este padrão de anomalias positivas de precipitação enfraquece, mas permanecerá concentrado no litoral norte e leste do Nordeste, incluindo o interior e litoral do estado do Rio Grande do Norte. O cenário tende a ficar semelhante na semana seguinte, com chuvas acima da média entre o litoral do Maranhão e Pernambuco. Em resumo, as projeções do modelo de confiança da Meteored são favoráveis para a região nordeste, assim como o aumento da recarga hídrica nos reservatórios que estão com níveis abaixo de 20%, em situação crítica.