A nova crise na saúde pode estar no errado uso de antibióticos
O uso indevido de antibióticos leva ao surgimento de bactérias super resistentes. Um dos resultados disso está sendo enfrentado pelos médicos europeus, que apresentam um número significativamente alto de pacientes infectados que não podem ser tratados adequadamente, pois a bactéria responsável é totalmente resistente aos antibióticos disponíveis.
Os antibióticos são uma das descobertas mais importantes da história da medicina! Eles revolucionaram a maneira como os pacientes com infecções bacterianas são tratados e contribuíram para redução da mortalidade por diversas doenças.
Os antibióticos - ou drogas antimicrobianas - são medicamentos que têm o poder de inibir o crescimento de bactérias com a finalidade de curar infecções na maioria dos seres vivos. Quando antibióticos específicos perdem sua capacidade de interromper a proliferação das bactérias, significa que elas conseguiram se tornar resistentes a esses medicamentos.
Essa resistência pode ser de origem inerente ou intrínseca, acontece quando as bactérias são naturalmente resistentes a certos tipos de antibióticos; ou pode se dar por alterações genéticas, isto é, quando a resistência é adquirida, e aí está o grande problema!
Nesse último caso, as bactérias resistentes sobrevivem e se multiplicam mesmo na presença do antibiótico, causando doenças prolongadas, podendo levar à morte. As infecções originadas por bactérias resistentes exigem mais cuidados, bem como antibióticos alternativos mais caros, que podem gerar efeitos colaterais mais graves.
Em muitos casos são prescritos, desnecessariamente, para infecções virais contra as quais eles não têm efeito. Da mesma forma, quando os diagnósticos não são feitos com precisão, antibióticos de amplo espectro, que matam uma grande variedade de bactérias, são utilizados pois o microrganismo causador não foi reconhecido.
De acordo com as últimas notícias do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), anualmente mais de 35 mil pessoas morrem na Europa em decorrência de infecções causadas por bactérias super resistentes a antibióticos. São aproximadamente 100 mortes por dia e há, ainda, um desconhecimento da população sobre o poder dos antibióticos.
Metade da população acredita - erroneamente - que os antibióticos matam vírus, e apenas 3 em cada 10 sabem que o seu uso desnecessário os tornam ineficazes. É importante esclarecer que antibióticos matam bactérias e não vírus! Seu uso excessivo alimenta a resistência das bactérias aos medicamentos.
Por essa razão, a resistência antimicrobiana é tida como um dos maiores riscos e ameaça para saúde humana, com um custo adicional de 1.5 milhões em gastos com saúde e perda de produtividade. Por isso, Bruxelas apresentou uma proposta de revisão da legislação farmacêutica a realizar-se no primeiro semestre de 2023. Adicionalmente, a União Europeia mobilizou cerca de 700 milhões para apoiar a inovação dos antimicrobianos resistentes.
Dados que mostram uma tendência crescente dessa crise sanitária:
Os dados recentes mostram tendências de aumento significativo no número de infecções e mortes atribuíveis à resistência a antibióticos em bactérias. Em 2021 o número de casos relatados de espécies de Acinetobacter resistentes a diferentes grupos de antimicrobianos foi de 121% a mais do que a média em 2018-2019. Os casos de Krebsiella pneumoniae resistentes aumentaram 31% e 20% nos anos de 2020 e 2021, respectivamente.
Também foi notificado na Europa o aumento de Candida auris, que causa surtos de infecções invasivas e também pode ser resistente a múltiplos antifúngicos. Além disso, nos últimos dez anos houve aumento do uso de antibióticos de amplo espectro, principalmente em hospitais; além de dobrar o uso de antibióticos de reserva, os que são utilizados como último recurso para tratar infecções.
Portanto, são necessários mais esforços para reduzir o uso desnecessário de antimicrobianos, melhorar as práticas de prevenção e controle de infecções, projetar e implementar programas de administração antimicrobiana e garantir capacidade microbiológica adequada em nível nacional.