Redução das chuvas em março traz riscos ao plantio e desenvolvimento do milho safrinha, cana-de-açúcar e trigo

A chuva pode diminuir em boa parte do centro-sul brasileiro a partir de março, o que deixa produtores de milho, cana e trigo em alerta. O período é crucial para o desenvolvimento das lavouras.

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A cana-de-açúcar pode ser uma das culturas mais afetadas pela falta de chuva nos próximos meses.

A previsão a curto prazo tem sido generosa e está mantendo um padrão de maior umidade sobre o Brasil Central e metade norte do país com o avanço de uma frente fria e a possível formação de uma ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul). Os sistemas podem ser responsáveis por uma importante reposição da água disponível no solo, já que a previsão mais estendida aponta para um cenário mais delicado para o agronegócio.

Neste momento existem diferentes culturas sendo implantadas e em pleno período de desenvolvimento nas cinco regiões brasileiras. O destaque é a safra verão, principalmente o milho safrinha que se encontra em fase de plantio intenso em estados do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Segundo o boletim mais recente da CONAB, a irregularidade das chuvas e as altas temperaturas têm afetado o desenvolvimento inicial do milho safrinha no Paraná e Mato Grosso do Sul. Em Minas Gerais, o plantio segue lento.

O fenômeno El Niño segue perdendo intensidade e deixando as projeções climáticas mais difíceis e menos certeiras, o que não quer dizer que o produtor rural não possa confiar nas previsões, e sim que existe uma maior necessidade de acompanhamento e atualização das informações. O cenário atual mostra que as chuvas já não ficam mais concentradas no Sul, mas continuam chegando de maneira irregular e mal distribuída até o Sudeste, Centro-Oeste e MATOPIBA.

Previsão de curto prazo e médio prazo

Neste momento, existe uma frente fria avançando pelo centro-sul do país e instabilidades tropicais gerando chuvas rápidas na metade norte brasileira. Para os próximos cinco dias, são esperados volumes na casa dos 200 milímetros sobre o Espírito Santo e leste de Minas. Isso sem falar dos volumes elevados também que podem se espalhar por uma abrangente áreas desde Santa Catarina até Mato Grosso.

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Volume de chuva pode passar dos 200 milímetros e gerar prejuízos no Espírito Santo nos próximos dias. Volume de chuva também será alto em outros estados no centro-sul do país com avanço de frente fria e formação de ciclone subtropical.

Além dessa chuva expressiva dos próximos dias, vale lembrar que a projeção para a Segunda quinzena de fevereiro é de muita chuva no centro-norte do Brasil com possível formação de ZCAS. Ou seja, dias consecutivos com uma maior probabilidade de reposição da água do solo, que pode sim atrasar as atividades de campo e gerar danos em algumas plantações, mas que será fundamental para muitas lavouras suportarem o que está projetado a longo prazo: a seca!

Até o finalzinho de fevereiro e os primeiros dias de março, a tendência deixa cada vez mais claro que as chuvas se concentrarão sobre o Nordeste embaladas pela ZCAS e as ondas de leste que começam a ficar mais fortes nesta época do ano. Por outro lado, grande parte das áreas produtoras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste podem começar a sentir a falta de água.

Condição das lavouras e previsão de longo prazo

Grande parte das lavouras cultivadas no verão no Brasil estão em pleno período de desenvolvimento vegetativo, emergência, floração ou enchimento de grãos, que são fases que necessitam indiscutivelmente de boas condições climáticas, um índice pluviométrico adequado, temperaturas idéias também. Sem isso, a situação das lavouras pode ficar comprometida, o que resulta em queda de produtividade.

situação das lavouras
Gráficos mostram o desenvolvimento das lavouras de algodão, arroz, feijão, milho 1ª e 2ª safra e soja no Brasil. A preocupação é que falte água nos próximos meses. Fonte: CONAB

Falando das grandes commodities, a maior preocupação quanto a uma possível falta de chuva a partir de março está voltada para a cana-de-açúcar no Sudeste e no Sul e para o milho 2ª safra no Paraná, no Sudeste e no Centro-Oeste. De modo geral, essas culturas darão início a colheita entre abril e maio, ou seja, até lá é extrema importância uma umidade balanceada em março para o período de desenvolvimento, o que pode não acontecer de maneira ideal. A pergunta que fica é: a chuva vai cortar mais cedo?

Segundo as projeções do modelo europeu ECMWF, a tendência é que haja sim uma diminuição das chuvas em grande parte do centro-sul do país no trimestre março, abril, maio, com chance até de chuvas abaixo da média entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O mapa abaixo mostra, no entanto, que as chuvas podem ficar bem perto da climatologia em estados do Sul, em São Paulo, no Espírito Santo e estados do Centro-Oeste também, o que não significa que tudo ocorrerá dentro do normal, mas com o El Niño perdendo força, abre brechas para muita irregularidade quanto as chuvas e temperaturas, ou seja, especialmente o mês de março tende a ser um período de tensão no agronegócio.

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Modelo europeu projeta uma diminuição das chuvas sobre o centro-sul do país durante o próximo trimestre que contempla os meses de março, abril e maio. Fonte: ECMWF

Outra preocupação é quanto a safra de trigo deste ano que começa a ser implantada já nessa segunda quinzena de fevereiro em Minas Gerais, a partir de março em Mato Grosso do Sul e São Paulo, e a maior concentração do plantio ocorre em abril e maio quando entram os estados de Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

É muito cedo pra dizer ainda com propriedade, mas com o El Niño perdendo força e o Pacífico caminhando rumo a uma neutralidade, o padrão de chuvas pode deixar a desejar nos próximos três meses, isso sem falar das temperaturas que passam a sofrer maiores alterações. Para essas culturas mais tardias do verão e para o trigo já como cultura de inverno, aumentam os riscos para o frio chegar mais cedo e gerar perdas por geadas.