Raro Aquecimento Estratosférico sobre a Antártica afeta as chuvas no Brasil nas próximas semanas; entenda

Fenômeno raro para o hemisfério sul ganha intensidade nos próximos dias e vai afetar as chuvas no Brasil e trazer mais volatilidade nos cenários de previsão.

previsão clima
Aquecimento Estratosférico pode resultar em irregularidade das chuvas neste início de período úmido do Brasil Central e Sudeste.

O fenômeno raro, o Aquecimento Abrupto Estratosférico, acontece nas regiões polares com sinal mais claro no nível de 10 hPa, que corresponde de 25 a 30 quilômetros acima da superfície.

Como no título deste artigo, aqui no hemisfério sul, acontece sobre a Antártica e pode afetar o padrão de precipitação no Brasil. Você provavelmente vai se perguntar: Como um fenômeno tão distante poderia nos afetar aqui no Brasil na superfície? Bom, sobre os polos do planeta existem os Vórtices Polares, que possuem uma extensão da estratosfera até a superfície, o que influencia os trens de ondas, alta e baixa pressões, que a atuam entre as médias e altas latitudes.

pressão global
Mapa global de campo de pressão e convergência de umidade para a segunda-feira, 15 de setembro,

Assim, quando há algum fenômeno que afeta a intensidade de rotação desses vórtices polares, o “zigue-zague” das baixas e altas pressões muda a sua dinâmica, influenciando no comportamento das massas de ar frio e do avança dos sistemas frontais pelo globo e, consequentemente no Brasil. Outra forma de concluir isso, sendo mais direto, é que o Aquecimento Estratosférico afeta diretamente o sinal da Oscilação Antártica (AAO).

Aquecimento Estratosférico e a Oscilação Antártica

Nesta parte lhes trago um gráfico que ajuda a visualizar muito bem a variação da AAO com a variação da pressão, ou melhor, do geopotencial (GPH) ao longo da atmosfera sobre a região da Antártica.

Geopotencial: trata-se de uma medida de distância para os meteorologistas que leva em consideração o trabalho realizado para deslocar uma massa de ar até certa altitude, ou seja, essa medida leva em consideração também a gravidade.

Quando há anomalia positiva (região em vermelho), é um indicativo de que a altura geopotencial está mais alta que a média (região de alta pressão), sendo uma consequência de uma condição mais quente na atmosfera, ou seja, quando há aumento de temperatura, as moléculas de ar se agitam mais, aumentando a pressão e, consequentemente, favorecendo uma região de alta em relação ao seu entorno. O oposto acontece para as anomalias negativas.

oscilação antártica
Anomalia da geopotencial (GPH), quadro superior, com o sinal registrado da Oscilação Antártica (AAO), quadro inferior.

Assim, como mostra o gráfico, quando há aquecimento, a AAO fica negativa e quando há resfriamento a AAO fica positiva. Sinais negativos do índice estão associados a maior frequência de sistemas de chuvas sobre o centro-sul do Brasil, principalmente sobre a Região Sul. Nesta época do ano, início da primavera climatológico, temos uma condição híbrida na atmosfera de elementos de período seco e período úmido atuando juntos, assim, essa condição pode ainda favorecer o avanço de massas de ar frio, ou onda de frio tardias.

Previsão do Aquecimento Estratosférico e o que esperar do clima

Pelas condições registradas mostradas acima, podemos concluir que o aquecimento já está acontecendo. Agora, pela previsão de anomalia de temperatura no nível de 10 hPa do modelo ECMWF, esse aquecimento deve persistir nas próximas semanas, com intensidade máxima por volta da última semana de setembro. A partir de outubro, o aquecimento continua, mas perdendo intensidade, com a possibilidade de deixar de influenciar durante a segunda quinzena do mês.

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Anomalia de temperaturas em 10 hPa para o período de 22 a 29 de setembro.

Assim, o início do período úmido pode sofrer um pequeno atraso no Brasil Central e no Sudeste, passando a ocorrer de forma mais característica na segunda quinzena de outubro.

chuvas Brasil
Anomalia de precipitação em 10 hPa para o período de 22 a 29 de setembro.

Vale ressaltar que, é necessário ter atenção quanto à previsão de chuva para o fim de setembro. Os mapas de previsão, como o de anomalia de precipitação do modelo europeu, mostra uma padrão mais úmido no centro-norte do Brasil. Essa condição não está somente associada à AAO negativa, mas está potencializada pela influência da Oscilação de Madden-Julian nas fases 1 e 8 que, por sua vez, ainda não estão com sinais claros. Portanto, é preciso ter atenção, as chuvas ainda não vão ser regulares no centro-norte do país e o início de outubro pode voltar a apresentar uma padrão seco e mais quente.