Qual é a tendência climática de fevereiro? Há risco de bloqueio?

Tipicamente, Fevereiro é um mês muito chuvoso e quente para a maior parte do Brasil, um cenário típico de verão. Mas será que neste ano as chuvas vão se manter persistentes? Há risco para bloqueios atmosféricos? Confira a análise aqui.

clima de fevereiro
Fevereiro costuma ser chuvoso e quente. Será que neste ano as chuvas vão se manter persistentes? Há risco de secas e bloqueios como em 2022?

Fevereiro é um mês que costuma ser quente e chuvoso na maior parte do Brasil. E, de fato, são esperadas chuvas volumosas nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Por se tratar de um mês de pleno verão, as temperaturas também vão atingir patamares elevados, como os já observados em dezembro e janeiro.

No entanto, será que as chuvas vão se manter regulares ao longo do mês? Será que há possibilidade de formação de um bloqueio atmosférico, como aconteceu em 2022, proporcionando um período mais quente e seco em boa parte do Brasil?

Para responder a estas questões, precisamos analisar os principais fatores climáticos esperados para o mês. Isso inclui o padrão de temperatura da superfície do Pacífico Equatorial e do Atlântico Sul; o La Niña; a oscilação de Madden-Julian e a Oscilação Antártica.

Temperatura da Superfície do Oceano

No Oceano Pacífico Equatorial, é possível perceber a presença de uma grande região com temperaturas superficiais mais baixas que o normal - que caracteriza o La Niña que já vem atuando a vários meses e influenciando o clima Brasileiro.

Mapa de previsão de anomalia da temperatura da superfície dos oceanos para o mês de fevereiro.
Mapa de previsão de anomalia da temperatura da superfície dos oceanos para o mês de fevereiro.

Este La Niña continuará impulsionando a formação de chuva sobre as regiões Norte e Nordeste, e causando uma irregularidade das chuvas sobre a região Sul - onde muitos municípios têm sofrido com secas e déficit hídrico elevado.

Já o Oceano Atlântico Sul continua aquecido em boa parte da costa Brasileira. Na região Sudeste, o aumento nas temperaturas oceânicas com relação a Janeiro ajuda a fornecer umidade para a atmosfera e impulsionar a formação de sistemas chuvosos. Para as regiões litorâneas do Norte e do Nordeste, essa condição também favorece a formação de chuvas.

Oscilação Antártica

A Oscilação Antártica (abreviada como AAO) é um índice capaz de traçar panoramas climáticos para o centro-sul do país com previsibilidade de até uma quinzena. Tendências e/ou valores negativos favorecem a atuação de sistemas de precipitação, principalmente na Região Sul.

Mapa de condição registrada (linha cheia preta) e previsão (linhas vermelhas e média em linha tracejada) da Oscilação Antártica para Fevereiro.
Mapa de condição registrada (linha cheia preta) e previsão (linhas vermelhas e média em linha tracejada) da Oscilação Antártica para Fevereiro.

É possível perceber que, ao longo das próximas semanas, a tendência é de que o índice AAO se mantenha predominantemente positivo, com um aumento elevado ao longo da primeira semana do mês. Na prática, isso novamente desfavorece a formação de sistemas transientes, como frentes frias, e favorece a permanência das chuvas irregulares sobre a região Sul.

O fenômeno pode contribuir com o locacional da umidade mais sobre o Sudeste, que terá chuvas intensas graças à manutenção da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) sobre a região. Até o momento, portanto, não há sinais de formação de bloqueios atmosféricos iguais ao do ano passado, uma vez que não se observa um forte tendência positiva da oscilação.

Oscilação de Madden-Julian

A Oscilação de Madden Julian (OMJ) é capaz de potencializar ou inibir eventos de precipitação no centro-norte do Brasil, favorecendo movimentos de ascendência ou subsidência de ar sobre o país.

Tendências da Oscilação de Madden-Julian de acordo com modelos dinâmicos para Fevereiro.
Tendências da Oscilação de Madden-Julian de acordo com modelos dinâmicos para Fevereiro.

É possível observar que, ao longo de fevereiro, a circulação associada à OMJ vai causar uma inibição das chuvas em grande parte do Nordeste e do Norte do Brasil, que deve contra-balancear a influência do La Niña e deslocar a ZCAS em direção ao Sul e Sudeste.

Essa redução das chuvas pode impactar o clima desde a Bahia e Minas Gerais até Goiás e Mato Grosso, mas o extremo Norte do país - especialmente o litoral Norte - permanecerá com chuvas frequentes e intensas ao longo do mês.

Anomalias de temperatura para Fevereiro

O modelo de confiança da Meteored, o europeu ECMWF, reflete este comportamento em suas predições. Observando os campos de temperatura, é possível perceber que, num geral, o Brasil registrará temperaturas mais amenas, abaixo da média ao longo do mês. Isso NÃO significa que vai fazer frio, mas que as temperaturas permanecerão de 1 a 3 graus abaixo do normal.

Mapas de previsão semanal de anomalia de temperatura do modelo ECMWF para Fevereiro.
Mapas de previsão semanal de anomalia de temperatura do modelo ECMWF para Fevereiro.

A maior exceção é o Rio Grande do Sul, que seguirá registrando temperaturas altas e uma sensação térmica elevada, para a infelicidade dos gaúchos que estão sofrendo com uma forte onda de calor ao longo de Janeiro.

Ao longo do mês, também percebemos que as temperaturas vão subir levemente no Nordeste. Isso ocorre na altura da região influenciada pela OMJ, como um reflexo da menor formação de nuvens e chuva por alí.

Anomalias de precipitação para Fevereiro

Da mesma maneira, percebemos uma faixa de redução das chuvas bem no centro do país, que deve ser persistente na primeira quinzena do mês e pode se dissipar na segunda quinzena. Isso NÃO é sinônimo de bloqueio nem estiagens prolongadas, mas sim de uma redução na intensidade e na frequência das chuvas. Trata-se de uma cenário bastante favorável à região Sudeste, principalmente entre os estados de São Paulo e de Minas Gerais.

Mapas de previsão semanal de anomalia de precipitação do modelo ECMWF para Fevereiro.
Mapas de previsão semanal de anomalia de precipitação do modelo ECMWF para Fevereiro.

As tempestades mais intensas se deslocam, por sua vez, para o extremo norte do país, que permanece chuvoso especialmente no litoral; e para a altura de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e arredores, onde a ZCAS mantém chuvas intensas ao longo do mês. Há potencial para ocorrência de enchentes e alagamentos frequentes.

EM RESUMO: O Rio Grande do Sul continuará quente e com chuvas irregulares. São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e arredores registrarão chuvas intensas, assim como o litoral Norte. Grande parte do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por sua vez, passarão por um período de chuvas um pouco mais irregulares.

Como as previsões de longo representam tendências regionais, elas podem mudar especialmente de município para município. Por isso, não deixe de acompanhar as atualizações e as previsões específicas para sua cidade aqui no site da Meteored | Tempo.com.