Modelo climático da NOAA prevê La Niña para o fim de 2025

O modelo climático CFSv2, da NOAA, aponta para a formação do fenômeno La Niña no final de 2025. Contudo, o histórico recente e a falta de concordância entre modelos levantam dúvidas.

Previsão de anomalia de temperatura da superfície do mar do CVSv2 para o trimestre de Outubro-Novembro-Dezembro sugere formação de La Niña. Créditos: CPC/NCEP/NOAA.
Previsão de anomalia de temperatura da superfície do mar do CVSv2 para o trimestre de Outubro-Novembro-Dezembro sugere formação de La Niña. Créditos: CPC/NCEP/NOAA.

O modelo CFSv2, um dos principais sistemas de previsão climática da NOAA, indica o resfriamento das águas do Pacífico Equatorial no final de 2025, sinalizando a possível formação de um evento La Niña.

No entanto, esse mesmo modelo foi um dos responsáveis pela previsão equivocada do chamado 'falso La Niña' em 2024/25.

Em Janeiro de 2025, a NOAA declarou oficialmente a formação do fenômeno após as anomalias na região de monitoramento atingirem -0,5°C em Dezembro de 2024 e por confiar nos modelos que indicavam manutenção das anomalias negativas - ou por uma possível resistência em admitir que as projeções anteriores estavam incorretas.

No entanto, as condições não se mantiveram e o episódio não entrou para os registros oficiais da própria NOAA. Confira agora o que diz a previsão do CSFv2 e quais são as principais incertezas por trás dela.

O que diz a previsão do CFSv2?

As rodadas atuais do CFSv2 vêm indicando um resfriamento da temperatura da superfície do mar (TSM) do oceano Pacífico Equatorial na região de monitoramento chamada Niño 3.4 a partir de Julho. As últimas duas rodadas indicam que a TSM entraria no limiar de La Niña (-0,5°C) a partir de meados de Agosto/Setembro.

Previsão do modelo CFSv2, da NOAA, indica resfriamento do Niño 3.4 compatível com La Niña. Créditos: CPC/NOAA.
Previsão do modelo CFSv2, da NOAA, indica resfriamento do Niño 3.4 compatível com La Niña. Créditos: CPC/NOAA.

A rodada mais atual, utilizando condições iniciais do período entre 19 a 28 de Junho de 2025, indica um fraco resfriamento (entre -0,5°C e -0,8°C) entre Setembro e Janeiro. Este intervalo de 5 meses com anomalias abaixo de -0,5°C seria suficiente para caracterizar o fenômeno La Niña. Mas será que isso vai acontecer?

Podemos confiar nesta previsão?

Embora o CFSv2 aponte para La Niña no fim de 2025, a falta de concordância entre os modelos e o histórico recente de erros exigem cautela. O último boletim da NOAA indica que as anomalias de TSM estão, embora dentro da neutralidade, ligeiramente positivas, com +0,2°C na região do Niño 3.4.

Tanto a média (ensemble) dos modelos dinâmicos quanto estatísticos apontam neutralidade até o fim do ano, apesar dos dinâmicos apontarem tendência de um leve aquecimento, enquanto os estatísticos, resfriamento.

A média das previsões dos modelos climáticos para o fenômeno ENSO indicam manutenção da neutralidade até, pelo menos, meados de 2026. Créditos: CPC/NOAA.
A média das previsões dos modelos climáticos para o fenômeno ENSO indicam manutenção da neutralidade até, pelo menos, meados de 2026. Créditos: CPC/NOAA.

Além disso, a previsão probabilística também continua indicando a manutenção da neutralidade do oceano Pacífico nas próximas estações. Entre Outubro de 2025 e Janeiro de 2026 as probabilidades entre neutralidade e La Niña são semelhantes, mas ainda com maiores chances de neutralidade.

Previsão probabilística também indica manutenção da neutralidade das anomalias de TSM no oceano Pacífico Equatorial. Créditos: CPC/NOAA.
Previsão probabilística também indica manutenção da neutralidade das anomalias de TSM no oceano Pacífico Equatorial. Créditos: CPC/NOAA.

Alguns questionamentos podem - e devem - ser levantados aqui antes de ‘prever La Niña’ para o fim do ano, sendo eles:

  • O histórico do modelo, de ter fortalecido as previsões do último La Niña, que não se concretizaram;
  • A limitação dos modelos em prever eventos de La Niña, principalmente com uma janela de tempo superior a 3 meses;
  • Por último, mas não menos importante: a rodada anterior do próprio CSFv2, que apontava um resfriamento mais pronunciado.

A rodada com condições iniciais entre 9 e 18 de Junho apontava um resfriamento pronunciado entre Outubro e Dezembro, alcançando cerca de -1°C de anomalia. O fato da nova rodada projetar um resfriamento menos intenso mostra uma tendência de aquecimento dessas previsões, em direção à neutralidade da TSM.

Efeitos da La Niña no Brasil

Caso venha a se confirmar, o fenômeno La Niña pode alterar significativamente os padrões climáticos no Brasil, mas seus efeitos não são imediatos.

Se o fenômeno se consolidar durante a primavera, os primeiros impactos perceptíveis ocorreriam entre o final dessa estação e o início do verão. Para eventos fracos - como este potencial episódio de 2025 - os efeitos tendem a ser menos intensos e mais localizados.

Os sinais mais evidentes geralmente aparecem no auge do verão onde os padrões climáticos esperados:

  • Região Norte: aumento do volume de chuvas, especialmente no início do verão, com possível antecipação do período chuvoso em algumas áreas;
  • Nordeste: chuva acima da média na porção leste e condições mais úmidas no setor norte;
  • Centro-Sul: chuvas abaixo da média, principalmente na região Sul, podendo haver secas; temperaturas ligeiramente mais amenas que a média histórica;
  • Sudeste/Centro-Oeste: comportamento mais variável, com possibilidade de chuvas próximas ou abaixo da média.

A Meteored | Tempo.com continua monitorando a evolução das condições oceânicas e atmosféricas para avaliar a possível configuração do fenômeno em 2025. Nossa posição, no momento atual, mantém a previsão de neutralidade climática até novas evidências conclusivas.