La Niña chega ao fim e o El Niño já dá indícios do seu desenvolvimento

La Niña finalmente chegou ao seu fim e se espera que as condições neutras do ENSO continuem ao longo do outono e início do inverno de 2023. No entanto, já há indícios do desenvolvimento do El Niño!

la niña el niño
Oficializado o fim do La Niña! Agora um período de neutralidade, mas com uma semente de El Niño plantada.

Finalmente chegou ao fim! Após pouco mais de 3 anos o La Niña não está mais presente e para os próximos meses as condições neutras El Niño-Oscilação Sul (ENOS) voltam a atuar. O fenômeno La Niña de 2020 a 2023 ficou em segundo lugar, perdendo a liderança por alguns meses somente para o La Niña de 1973 a 1976, em um histórico desde 1950 disponibilizado pelo Centro de Previsão Climática (CPC) da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA).

Esse anúncio do fim do La Niña não foi nenhuma surpresa e já era previsto pela equipe de meteorologistas da Meteored, bem como o período de neutralidade e o desenvolvimento do fenômeno El Niño.

Segundo o CPC, durante o mês de fevereiro os indicadores para determinação do La Niña já não existiam mais, com anomalias de temperatura na região mais central do Pacífico Equatorial (Niño 3.4) superiores ao limiar de -0,5°C. O fenômeno La Niña é caracterizado pela persistência de águas na média mais frias 0,5°C em relação à média observada durante 7 meses consecutivos.

Mas o que significa a transição de La Niña para a fase neutra?

Acredito que a resposta dessa pergunta é a de maior interesse dos nossos leitores. Essa transição significa que a atmosfera deixa de estar condicionada pela temperatura da superfície do mar da maior porção oceânica do nosso planeta, fazendo com que a probabilidade de ocorrência de certos comportamentos de precipitação e temperatura diminua.

Imagine um dado comum de 6 lados. Quando há La Niña ou El Niño é como se o dado estivesse com um lado mais pesado. Assim, ao lançar o dado “n” vezes teria uma maior frequência de ocorrência de certos números ou, para o nosso caso, de condições climáticas correspondentes a cada fenômeno.

Considerando um cenário de neutralidade, todos os lados do dado são iguais e as probabilidades são iguais para todos os padrões climáticos observados em um determinado período. No entanto, isso aumenta a incerteza das previsões de longo prazo, com as oscilações Antártica e de Madden-Julian, por exemplo, sendo os principais fatores determinantes dos padrões climáticos.

Nível de El Niño costeiro: o embrião do fenômeno

O fim do La Niña e a fase neutralidade chamam muita atenção, ainda mais depois de tanto tempo de uma fase de ENOS fria. No entanto, um forte aquecimento da menor região do Pacífico Equatorial, Niño 1+2, próximo das costas do Equador e do Peru está com 1,1°C de anomalia, caracterizando um nível de El Niño costeiro. Essa condição já resultou na formação de um ciclone atípico (Yaku) na região com características tropicais e muita chuva nos territórios equatoriano e, principalmente, peruano.

Além disso, esse aquecimento já pode indicar as primeiras etapas de um El Niño clássico (canônico), como se fosse um patamar embrionário do fenômeno. Mas o que alimentaria o embrião? É muito importante analisar as previsões dos principais modelos e dos mais confiáveis, no caso o CFSv2, tanto para as anomalias de temperatura da superfície quanto em profundidade da porção equatorial do Pacífico.

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Previsão da anomalia de temperatura em profundidade para toda a porção equatorial do Oceano Pacífico.

Os cenários mensais de anomalias de temperaturas em profundida do modelo CFSv2 para toda a região do Pacífico Equatorial ressaltam a presença uma bolha mais quente que permanece e ascende até a superfície até o fim do ano, trazendo um elevado potencial para desenvolvimento e estabelecimento do fenômeno El Niño, cujo os impactos na circulação atmosférica devem se dar a partir do inverno.

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Previsão da anomalia de temperaturas da superfície do mar na região Niño3.4.

Esse comportamento fica mais fácil de visualizar através do gráfico de previsão do mesmo modelo climático para as anomalias de temperatura da superfície da região oceânica Niño 3.4, onde valores positivos já podem ser observados por volta de abril e passando do limiar de +0,5°C antes do mês de julho, com efeitos sendo sentido após 2 a 3 meses de aquecimento, ou seja, na transição do inverno para a primavera.