Os novos caçadores de furacões

Saiba como os veículos autônomos subaquáticos estão revolucionando a oceanografia e ajudando a melhorar a previsão de furacões.

Professores da Universidade de Porto Rico lançando um dos gliders que serão usados nesta temporada de furacões. Crédito: NOAA/AOML.

A Agencia Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, sigla em inglês) anunciou no mês passado que irá lançar 15 medidores autônomos, chamados gliders, na região do mar do Caribe e Atlântico Tropical. O objetivo é coletar dados oceanográficos, como temperatura e salinidade, em tempo real durante a temporada de furacões desse ano.

Através da coleta desses dados será possível melhorar a previsão dos ciclones tropicais. Sabemos que os furacões causam muitos prejuízos financeiros e fatalidades. A coleta de informações do estado do oceano contribuirá para aumentar o nosso entendimento sobre o processo de intensificação e enfraquecimento desses sistemas e assim será possível emitir alertas mais eficazes para a população.

O glider envia as medidas de temperatura e outras variáveis oceanográficas via satélite, quando retorna a superfície. Créditos: NOAA.

O glider é um veículo autônomo subaquáticocapaz de planar através de água alterando sua flutuabilidade. Sua submersão e afundamento são realizados através do controle da sua pressão interna. Isso poupa energia e permite medições dos parâmetros do oceano por alguns meses, sem a necessidade de troca de bateria. Esse equipamentoenvia as medidas de temperatura e outras variáveis oceanográficas via satélite, quando retorna a superfície, o que acontece várias vezes por dia,mesmo em condições adversas como um ciclone.

Por que é importante medir temperatura e salinidade?

As informações coletadas pelos gliders e por outros sistemas observacionais podem nos dar dicas das condições da superfície do mar em tempo real e assim, mostrar como será a interação oceano-atmosfera durante o desenvolvimento dos furacões. Baixos valores de salinidade na superfície do mar indicam uma água mais "leve" (menos densa) que não afunda e impede que as águas mais frias das camadas abaixo subam. Esse processo faz com que águas quentes, que são o combustível para os furacões, fiquem confinadas na superfície.

Além disso, o glider pode ajudar os cientistas a entenderem como a água mais fria que fica nas camadas abaixo da superfície podem ressurgir e se misturar com as águas da superfície, enfraquecendo o furacão. Em 2014, informações obtidas por glider auxiliaram os cientistas a melhorar significantemente a previsão da intensidade dos ventos do furacão Gonzalo (Categoria 4).

Os desbravadores do Oceano

Segundo o oceanógrafo Dalton Sasaki, do Laboratório de Hidrodinâmica Costeira do Instituto Oceanográfico da USP, gliders são hoje uma revolução para a aquisição de informação dos oceanos. Através deles, medidas dos oceanos podem ser obtidas com uma quantidade e nível de detalhe sem precedentes a um custo relativamente baixo e em áreas de milhares de quilômetros quadrados. Os diferentes sensores disponíveis tornam o equipamento útil em diversos campos da pesquisa oceanográfica e será fundamental para novas descobertas nos oceanos em um futuro próximo.