Terras Indígenas são escudo contra doenças na Amazônia, mas floresta precisa estar preservada, revela estudo

Pesquisa que analisou nove países ao longo de 20 anos mostra que os benefícios à saúde pública dependem da integridade florestal nas áreas protegidas por povos indígenas.

Neblina paira sobre o rio Guamá na aldeia Tenetehar Wa Tembe, na Terra Indígena do Alto Rio Guamá, município de Paragominas, Pará, Brasil, enquanto o sol nasce no sábado, 10 de junho de 2023. — Foto: Foto AP/Eraldo Peres
Neblina paira sobre o rio Guamá na aldeia Tenetehar Wa Tembe, na Terra Indígena do Alto Rio Guamá, em Paragominas, Pará, Brasil, enquanto o sol nasce em junho de 2023. Crédito: Foto AP/Eraldo Peres

As Terras Indígenas da Amazônia têm um papel decisivo na proteção da saúde pública regional, mas esse efeito positivo só se mantém quando a floresta ao redor está bem preservada. Essa é a principal conclusão de um estudo inédito recém-publicado na revista científica Communications Earth & Environment.

A pesquisa analisou dados de saúde e ambientais ao longo de 20 anos, entre 2000 e 2019, cobrindo toda a chamada Pan-Amazônia — que abrange nove países sul-americanos (Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa). No total, foram mais de 28 milhões de registros de 21 doenças diferentes.

Segundo o estudo, as Terras Indígenas legalmente reconhecidas funcionam como barreiras naturais contra doenças respiratórias e enfermidades transmitidas por vetores, como a malária — mas apenas em locais onde há uma alta cobertura florestal e pouca fragmentação do território.

Floresta é chave para reduzir doenças como a malária

O levantamento identificou que, em regiões com mais de 45% de cobertura florestal, a presença de territórios indígenas está associada a uma significativa redução de doenças respiratórias causadas por fumaça, como a pneumonia, e a uma menor incidência de doenças como a malária.

A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e autora principal do estudo, Júlia Rodrigues Barreto, explica que o efeito protetor depende diretamente do estado da paisagem: “Esse efeito varia conforme o contexto da paisagem, dependendo da quantidade de floresta e do grau de fragmentação.”

Barreto acrescenta que florestas mais íntegras ajudam a filtrar a fumaça das queimadas e a reduzir o contato entre humanos, animais e vetores, o que traz benefícios diretos à saúde. Além disso, ela destaca que o reconhecimento legal dos territórios indígenas é crucial: “Está associado a menor desmatamento e maior integridade florestal.”

Fragmentação enfraquece efeito das terras indígenas

Em contrapartida, o estudo também mostra que, quando a cobertura florestal cai abaixo de 45% ou quando a paisagem se torna muito fragmentada, o efeito protetor das terras indígenas sobre a saúde enfraquece — e pode até ser revertido.

Ou seja, em áreas degradadas, o papel de barreira natural que essas terras exercem é perdido, e a população local pode até enfrentar maiores riscos de exposição a doenças. Isso reforça a importância de políticas de conservação que mantenham a floresta em pé e garantam os direitos territoriais dos povos indígenas.

A pesquisa é mais uma evidência científica do papel essencial que os povos indígenas e seus territórios desempenham não apenas na conservação ambiental, mas também na proteção da saúde coletiva na Amazônia. A preservação da floresta, neste contexto, deixa de ser apenas uma pauta ecológica — e passa a ser uma questão de saúde pública.

Referências da notícia

G1. Terras indígenas protegem a saúde na Amazônia, mas só quando a floresta está preservada, aponta estudo. 2025