Terras Indígenas são escudo contra doenças na Amazônia, mas floresta precisa estar preservada, revela estudo
Pesquisa que analisou nove países ao longo de 20 anos mostra que os benefícios à saúde pública dependem da integridade florestal nas áreas protegidas por povos indígenas.

As Terras Indígenas da Amazônia têm um papel decisivo na proteção da saúde pública regional, mas esse efeito positivo só se mantém quando a floresta ao redor está bem preservada. Essa é a principal conclusão de um estudo inédito recém-publicado na revista científica Communications Earth & Environment.
A pesquisa analisou dados de saúde e ambientais ao longo de 20 anos, entre 2000 e 2019, cobrindo toda a chamada Pan-Amazônia — que abrange nove países sul-americanos (Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa). No total, foram mais de 28 milhões de registros de 21 doenças diferentes.
Segundo o estudo, as Terras Indígenas legalmente reconhecidas funcionam como barreiras naturais contra doenças respiratórias e enfermidades transmitidas por vetores, como a malária — mas apenas em locais onde há uma alta cobertura florestal e pouca fragmentação do território.
Floresta é chave para reduzir doenças como a malária
O levantamento identificou que, em regiões com mais de 45% de cobertura florestal, a presença de territórios indígenas está associada a uma significativa redução de doenças respiratórias causadas por fumaça, como a pneumonia, e a uma menor incidência de doenças como a malária.
Barreto acrescenta que florestas mais íntegras ajudam a filtrar a fumaça das queimadas e a reduzir o contato entre humanos, animais e vetores, o que traz benefícios diretos à saúde. Além disso, ela destaca que o reconhecimento legal dos territórios indígenas é crucial: “Está associado a menor desmatamento e maior integridade florestal.”
Fragmentação enfraquece efeito das terras indígenas
Em contrapartida, o estudo também mostra que, quando a cobertura florestal cai abaixo de 45% ou quando a paisagem se torna muito fragmentada, o efeito protetor das terras indígenas sobre a saúde enfraquece — e pode até ser revertido.
Ou seja, em áreas degradadas, o papel de barreira natural que essas terras exercem é perdido, e a população local pode até enfrentar maiores riscos de exposição a doenças. Isso reforça a importância de políticas de conservação que mantenham a floresta em pé e garantam os direitos territoriais dos povos indígenas.
A pesquisa é mais uma evidência científica do papel essencial que os povos indígenas e seus territórios desempenham não apenas na conservação ambiental, mas também na proteção da saúde coletiva na Amazônia. A preservação da floresta, neste contexto, deixa de ser apenas uma pauta ecológica — e passa a ser uma questão de saúde pública.