O que é um rio atmosférico?

Típico das latitudes médias, os rios atmosféricos são importantes para o ciclo hidrológico do planeta, mas também podem ser uma ameaça potencial quando o assunto é inundações. Alguns países como Chile, Estados Unidos e Reino Unido são afetados pelo sistema.

Rio atmosférico na costa oeste dos Estados Unidos.

No início da década de 90, os pesquisadores americanos Reginald Newell e Yong Zhu criaram o termo rio atmosférico para definir uma região da atmosfera longa (milhares de km) e estreita (centenas de km) em que ocorre o transporte da umidade tropical para as latitudes médias. O nome foi utilizado porque o fenômeno pode transportar um fluxo de água na forma de vapor equivalente ao rio Amazonas, o maior rio do mundo.

Geralmente existem de 3 a 5 desses rios atmosféricos em cada hemisfério do globo, que se relacionam com a atividade dos distúrbios sinóticos das latitudes médias. Eles podem ser localizados na dianteira das frentes frias (setor quente do ciclone extratropical), inúmeras vezes na forma de um jato de baixos níveis em 1500 m de altitude. A fonte de umidade do sistema é de origem tropical, proveniente da evaporação dos oceanos.

Existem configurações atmosféricas distintas que levam a um evento de rio atmosférico, fatores como o comportamento da corrente de jato e a distribuição dos sistemas de pressão em superfície são apenas alguns dos elementos responsáveis de sua formação. No caso dos Estados Unidos, é importante que um mergulho para sul no jato se estabeleça no Pacífico Leste, de modo que a baixa pressão se posicione na costa oeste americana, ao norte da alta subtropical do Pacífico Norte. A diferença de pressão resultante canaliza uma pista de ventos intensos do oceano para o continente, gerando precipitações catastróficas em alguns casos.

Ainda com relação a precipitação gerada pelos rios atmosféricos, é importante destacar o impacto do relevo na distribuição da mesma. As regiões montanhosas do Reino Unido, Chile e Estados Unidos favorecem o levantamento do ar úmido que chega do oceano, propiciando chuvas torrenciais e queda de neve. Na Califórnia, a maior parte da precipitação é observada nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, que correspondem ao período de inverno. O acúmulo de neve nas montanhas é essencial para a manutenção dos recursos hídricos do estado, a exemplo, o degelo da Serra Nevada na estação quente, garante o suprimento de pelo menos 30% de toda a Califórnia.

Embora as chuvas volumosas sejam necessárias para o abastecimento de lençóis freáticos e rios, inundações e deslizamentos de terra atingem as cidades mais baixas, causando prejuízos econômicos e perda de vidas durante episódios de rios atmosféricos.

Previsibilidade

Um rio atmosférico pode ser previsto com dias de antecedência nos modelos numéricos, através do transporte de vapor d’água integrado na atmosfera. Na prática, o sistema pode ser reconhecido também utilizando o recurso de imagens de satélite. Os meteorologistas sempre monitoram as condições sinóticas que podem formar um rio atmosférico, a fim de alertar a população e mitigar os impactos decorrentes das chuvas fortes.