Quase metade da exploração madeireira no Pará é ilegal, revela estudo
Entre agosto de 2023 e julho de 2024, 47% da extração de madeira no Pará ocorreu sem autorização ambiental, afetando 56 campos de futebol de floresta por dia.

A exploração madeireira ilegal continua sendo um grave problema ambiental no estado do Pará, Amazônia. De acordo com o mais recente relatório do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), 47% da madeira extraída no estado entre agosto de 2023 e julho de 2024 não teve autorização dos órgãos ambientais. Das 43.052 hectares mapeadas com atividade madeireira, 20.402 hectares foram explorados de forma irregular — o equivalente a 56 campos de futebol de floresta derrubados por dia.
O estudo foi produzido pela Rede Simex, formada por quatro instituições de pesquisa: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV. Embora tenha havido uma redução de 17% na área total explorada em relação ao período anterior, o percentual de ilegalidade cresceu. A extração legal caiu 25%, passando de 30.274 hectares para 22.650 hectares, enquanto a ilegal teve queda de apenas 6%.
“Mesmo com redução na área total, a proporção de exploração ilegal aumentou, o que mostra que o problema continua crítico”, afirma Camila Damasceno, pesquisadora do Imazon. Segundo ela, o estado precisa reforçar a fiscalização e incentivar práticas legais de manejo florestal para conter o crime ambiental.
Reserva indígena tem recorde de extração de madeira
Um dos pontos mais alarmantes do relatório foi o aumento da exploração madeireira na Reserva Indígena Amanayé, localizada em Goianésia do Pará, no sudeste do estado. O território teve 2.026 hectares afetados pela atividade entre agosto de 2023 e julho de 2024 — um aumento de 152% em relação ao período anterior.
O Ministério Público Federal moveu uma Ação Civil Pública em 2024 pedindo a demarcação da área. Apesar das denúncias e do monitoramento constante, o território segue entre os mais afetados pela extração ilegal de madeira no Pará.
Áreas protegidas e rurais lideram ilegalidade
A exploração ilegal de madeira dentro de áreas protegidas cresceu 165% em um ano, passando de 870 para 2.307 hectares. Desse total, 88% ocorreu na Reserva Amanayé. A Floresta Nacional de Caxiuanã também registrou 281 hectares com exploração não autorizada.
O relatório apontou ainda que 69% da extração ilegal ocorreu em imóveis cadastrados em sistemas públicos, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Programa Terra Legal. “Isso mostra que é possível rastrear os responsáveis e cobrar punições efetivas”, destaca Damasceno.
Nos assentamentos rurais, a atividade irregular somou 2.379 hectares, 21% a menos que no período anterior. Já nas terras não destinadas, houve queda de 46%, com 1.596 hectares afetados.
Dez municípios concentram 85% da extração ilegal
Apenas dez municípios foram responsáveis por 85% de toda a madeira extraída ilegalmente no Pará. Paragominas, Dom Eliseu e Goianésia do Pará lideram o ranking, com 9.311 hectares somados — quase metade de toda a exploração irregular.

Segundo Damasceno, é fundamental concentrar esforços de fiscalização nesses locais. “Esses municípios precisam ser prioridade, pois representam o epicentro da atividade ilegal no estado.”
Outros municípios com altos índices incluem Tomé-Açu, Portel, Rondon do Pará, Juruti, Tailândia, Prainha e Medicilândia. Em Goianésia, por exemplo, a área de extração irregular mais que dobrou, saltando 124% em um ano.
Referências da notícia
Imazon. Quase metade da exploração madeireira no Pará é ilegal. 2025
Rede Simex (Imazon, Idesam, Imaflora e ICV) – Relatório 2023-2024. 2025